Ex-aliados e opositores de Bernal dizem que ele mudou muito depois que sentou na cadeira de prefeito e especulam como seria eventual administração com o vice-prefeito no cargo.

Os vereadores da Câmara de Campo Grande podem abrir na próxima semana uma comissão processante que pode vir a cassar, em 90 dias, o mandato do prefeito Alcides Bernal (PP). Com isso, em meio a várias brigas e agora com possibilidade de cassação, alguns vereadores admitem que já chegaram a pensar em como será a administração caso se confirme a antecipação do “pós-Bernal”.

“Já tive esta preocupação com o depois e a conclusão é que se eu ou você tivesse a oportunidade de ser o prefeito de Campo Grande e enxergasse todas as incoerências, não cometeria os mesmos erros. Por exemplo, se isolar no mundo achando que tem a população do lado e não fazer interlocução com mais ninguém. Ele vai ter a população do lado se tiver atendendo as necessidades básicas. A partir do momento que não atende, começa a perder o objetivo para o qual foi eleito”, analisou o presidente da Câmara, vereador Mário César (PMDB).

Na avaliação do presidente da Câmara, os problemas criados por Bernal já atingiram a população, que se preocupa com a alimentação do filho no Ceinf, onde não tem o que comer, com o atendimento na saúde e com o trânsito, que não melhorou em nada. Na opinião de Mário, o problema maior é que tudo começou com o isolamento criado pelo próprio prefeito.

“Não fala com o vice, Câmara, bancada federal, Governo do Estado. Se tivesse isolado e atendesse população, legal, mas se está tendo problema na ponta, com a população… A pessoa que vai substituir tem que estar pensando. Uma pessoa que sai com aprovação de 85%, não conseguiu chegar a 100%. O prefeito não vai conseguir colocar 100% das crianças no Ceinf, acabar com o déficit habitacional. Os problemas vão existir e se isolando do mundo, fica mais difícil. A minha preocupação com o depois passou porque acredito que os próximos personagens vão entender que este modelo não vai dar certo. Cria-se muita confusão”, avaliou.

O vereador Waldecy Chocolate (PP), que já foi o maior aliado de Bernal na Câmara, também está preocupado com o futuro. De amigo próximo, o vereador passou a colega distante após dizer que não aceitaria ser mandado pelo prefeito. Hoje, ele já pensa como será o futuro em uma eventual cassação.

“Penso bastante e por isso não tomei decisão. Também tem o outro lado: o que as pessoas vão pensar. Já pensei nisso e bastante. Particularmente, eu não tenho receio , mágoa ou birra, mas ele deve ter de mim”, confidenciou.

Chocolate evita fazer comentários sobre como será uma próxima administração. A ponderação acontece após experiência negativa com a mudança do prefeito. “É complicado. Nós só conhecemos o ser humano depois que ele senta no poder. O Bernal não era assim. Ele sentou no poder e mudou. Pode acontecer com Gilmar ou não. Pode ser que vira o jogo e aconteça a mesma coisa. Ai, estamos em um mato sem cachorro”, detalhou.

O vereador Chiquinho Telles (PSD) garante que nunca pensou no pós-Bernal, embora tenha se empenhado em esclarecer denúncias contra a administração na CPI do Calote. Apesar de não ter refletido sobre a cassação, o vereador declarou que se efetivada a cassação, o próximo consiga, enfim, colocar as pessoas em primeiro lugar.

“Vejo isso na prática. Precisamos de um Ceinf que não falte merenda e trate bem as crianças, de um prefeito que respeite a saúde e não fique olhando para trás. É isso que a população espera. Já imaginou se ficar uma semana sem a empresa tirar lixo da rua. Temos uma saúde que não funciona. Espero uma cidade com prefeito que não venha cometer estes delitos. Você anda nos bairros e vê o descaso. Defendo uma secretaria, a do Semy Ferraz, que tentou trabalhar. Os outros secretários eu não sei o que fazem, principalmente a de Assistência Social”, criticou.

O vereador Paulo Siufi (PMDB) presidiu a CPI do Calote, mas garante que nunca pensou na cassação do prefeito. Porém, entende que o depois precisa ser construído pelo vice-prefeito, que deve estar acompanhando todo o trâmite. “Não é possível. Ele mora em Campo Grande e tenho visto ele nos lugares. Para esta pergunta do depois, a principal resposta é dele, do Gilmar, o vice-prefeito”, concluiu.