Analistas políticos avaliam que Bernal se isolou ao perder tempo olhando para trás

Analistas avaliam que o prefeito ficou preso a brigas políticas com grupo que estava há 20 anos no poder e demorou a atender apelos da população

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Analistas avaliam que o prefeito ficou preso a brigas políticas com grupo que estava há 20 anos no poder e demorou a atender apelos da população

Os analistas políticos entendem que é necessário um estudo mais avançado para conseguir explicar o isolamento político do prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal (PP). Porém, em uma análise rápida, Eron Brun e Tito Carlos Machado chegaram à conclusão que o prefeito perdeu muito tempo olhando para trás, contribuindo para a crise política com a Câmara.

O analista político Eron Brun recorda que o prefeito teve apoio do PT e do PSDB para vencer a eleição. Porém, já no início da administração, enfrentou problemas por não ouvir aliados, fazendo escolhas pessoais para as pastas. Na avaliação de Brun, a falta de acordo com os próprios aliados contribuiu ainda mais para o fortalecimento da oposição, que já era esperado, visto que o adversário derrotado, Edson Giroto (PMDB), elegeu 21 dos 29 vereadores.

“Além de contar com uma oposição majoritária no seu governo, ele também desagradou os aliados. Ai está a raiz de todos os seus problemas de relação com a Câmara. Ele não deu destaque a aliados e contou com uma oposição forte”, analisou.

Na avaliação de Eron Brun, o prefeito demorou muito tempo olhando para as administrações passadas e não atendeu de imediato o desejo da população. “Lógico que ele tem direito de fazer isso. Poderia até fazer uma auditoria, mas tinha que dirigir rapidamente a cidade e não fez. Demorou a enfrentar lixo, buracos. Não se preparou para responder rapidamente os apelos de uma capital, que é diferente de uma cidade do interior. Essa não governança, este patinar, foi crescendo e ele está demorando para engrenar. Faltou o que espera do Poder Executivo, que é executar. Ele continua muito lento nas respostas à população”, avaliou.

Eron aconselha o prefeito a ter um diálogo mais franco e aberto com vereadores. “Se não tiver um diálogo franco com os vereadores, fica difícil. Os problemas que são pequenos acabam ficando graves. Por enquanto, pelo que analiso, o fato é mais político do que concreto. A falta de diálogo é um problema”, concluiu.

Estranho

O doutor em geografia econômica e política, Tito Carlos Machado, ressalta que é preciso uma análise mais profunda de toda a situação. Todavia, avalia que há duas questões que aparecem de imediato: a rejeição de um grupo político que já atuava há 20 anos e a posição de defesa do prefeito.

Tito entende que o grupo comandado por André Puccinelli (PMDB) sente-se ameaçado com a presença de alguém que não era previsto. Na avaliação dele, o PMDB não previa o surgimento de um personagem diferente daqueles do tabuleiro político regional e este quadro novo acentuou a tendência natural a rejeição. Do outro lado, a crise foi agravada pela reação de defesa natural do prefeito.

“Ele fica sempre na perspectiva da defesa e não no avanço de uma organização política. Ele ainda é muito pequeno no contexto regional, mas importante porque administra a cidade que tem 30% do Estado. O prejuízo é relativamente grande e há uma natural paralisia. Até isso se acertar, o Bernal deixar a condição de defesa e o outro grupo entender que é um ator novo e precisa conviver, vai ai pelo menos um ano e tem respingos fortes na parte administrava”, analisou.

Na avaliação de Tito, há um claro problema de convivência de autoridade para autoridade, que acaba dificultando o entendimento do que é papel de um e do outro. “A situação é complicada. O Bernal é um pato novo nesta lagoa e definitivamente não estava no esquema. Tradicionais políticos têm que conviver com uma figura nova”, finalizou.

Desde que assumiu a prefeitura Bernal encontra dificuldades para conquistar aliados na Câmara. Atualmente, ele tem apenas seis dos 29 vereadores: Alex do PT, Ayrton do PT, Cazuza (PP), Waldecy Chocolate (PP), Luiza Ribeiro (MD) e Gilmar da Cruz (PRB). Os vereadores Rose Modesto (PSDB), João Rocha (PSDB) e Zeca do PT também votam com o prefeito, mas deixam clara a posição de independência.

Recentemente, um grupo de seis vereadores, formado por: Paulo Siufi (PMDB), Paulo Pedra (PDT), Dr. Jamal (PR), Alceu Bueno (PSL), Carlão (PSB) e Edson Shimabukuro (PTB) tentou ajudar o prefeito a amenizar a força da oposição, criando o G6. Porém, Bernal não se preocupou em fazer nenhuma reunião com o grupo, que acabou se desfazendo dias depois.

A maioria dos vereadores deste chamado “G6” já havia declarado interesse em ajudar Bernal a administrar, mas ele foi irredutível. A negociação esbarrou na resistência do prefeito em abrir cargos em troca de apoio. Os vereadores alegam que não têm como anunciar aos partidos que vão afiançar uma administração da qual não participam. Já Bernal entende a costura como uma “barganha” e diz que não vai conquistar aliados em troca de cargos.

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