Uma sequência de erros motivou a morte do jovem ciclista Wyllyan Caldeiras, de 18 anos, no bairro Nova . Ele perdeu a vida ao ser atropelado por um ônibus depois que foi arremessado pela porta de um carro estacionado, já que o condutor não viu o ciclista e abriu a porta. Diante do caso no da Capital, quem anda de bicicleta lista situações comuns que colocam a vida sobre duas rodas em risco.

Pedro Dias Garcia é bicicleteiro e usa a “magrela” para ir ao trabalho, shopping, bar e em qualquer lugar que precisa se locomover. O carioca está na Capital há cinco anos e ainda questiona o fato do campo-grandense achar curioso algo tão comum há séculos: chegar de bicicleta em qualquer lugar.

A notícia da morte do jovem abalou quem sabe que é necessário pedalar na defensiva todos os dias para voltar para casa em segurança, principalmente onde não tem ciclovia. Não é a primeira morte no trânsito de Campo Grande, mas o ciclista aponta medidas que poderiam facilitar.

“Se reparar na sinalização nas ciclovias são todas para o ciclista prestar atenção, mas ainda podem culpar a vítima. Por exemplo, no cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Rua Bahia, tem carro que para em cima da faixa, sem contar que ali as pessoas andam a mais de 50 km/h, não dá para frear e evitar um acidente. Eu evito pedalar na Afonso, porque sei que posso me frustrar, prefiro a da Avenida Fernando Corrêa da Costa. Em trechos de avenidas, se o motorista está na velocidade certa, consegue frear sem causar dano maior”, pontua.

Políticas públicas

Para Pedro, a falta de políticas públicas e campanhas alusivas para educação e respeito ao ciclista custa incentivo de enxergar quem anda de bicicleta como um membro efetivo do fluxo no trânsito. Ele cita que a fiscalização deveria ser voltada para orientação do condutor e não para arrecadação de multas, como as blitz.

“Na campanha do Maio Amarelo o que mais vi foram sinistros entre carros, motos e não a atenção aos ciclistas. As placas de sinalização focam no que o ciclista precisa respeitar, e o motorista? Na sexta-feira (26), vim para o trabalho e notei coisas pertinentes, como motorista usando celular no trânsito, colando em risco qualquer um. Peguei a estrada esses dias e o motorista de uma carreta também estava no celular e quase me atropelou. Eu fiquei muito assustado. Um caminhão que vinha atrás viu e passou 1,5 metro de mim, porque viu que fiquei assustado”.

Elijane Coelho é educadora física e professora de bicicleta. Pedala desde a infância e segue a rotina com o meio de locomoção. Ela reforça que a legislação de trânsito é obrigatória, embora a maioria se esqueça. Acima da regra, entender que a vida do outro é importante resultaria em menos acidentes.

“O erro mais perigoso são as ‘finas', que é quando o condutor do veículo motorizado passa muito próximo ao ciclista. As 'fechadas' quando faz conversões ou estaciona sem notar a presença do ciclista à direita. Quando o condutor reduz a velocidade, mas não para totalmente na placa de pare também é perigoso, pode não perceber o ciclista vindo na preferencial”, disse.

A especialista conta que quem está na bicicleta tem uma velocidade acima de 10 km/h e a vulnerabilidade de um pedestre. “O perigo está na falta de atenção e empatia. Ao abrir a porta do carro estacionado, como nessa ocorrência, e também ao sair com o carro, é importante olhar no retrovisor. A bicicleta é um excelente veículo para mobilidade, e atividade física. É necessário que todos tenham consciência que na bicicleta vai uma vida e que esta vida precisa ser respeitada”.

Legislação

Segundo o quadro de estatística do GAAT (Grupo de Análise de Sinistros de Trânsito), da (Agência de Trânsito e Transporte), três ciclistas morreram este ano no trânsito, sendo um em janeiro, março e maio.

O advogado e também ciclista, Gabriel Maciel Campanini, afirma que, inicialmente, o delegado responsável pelo caso havia dito que o motorista que abriu a porta e vitimou Wyllyan poderia responder por crime de lesão corporal com resultado morte, do art. 129, parágrafo 3 do Código Penal. Entretanto, essa tipificação somente ocorre quando a pessoa tem a intenção de cometer a lesão corporal, mas sem querer causar a morte.

“Na minha visão o enquadramento correto seria o de homicídio culposo (art. 121, §3º), já que o motorista agiu com imprudência ao não olhar antes de abrir a porta, o que é obrigatório pelo art. 49 do Código de Trânsito. E a imprudência é uma das possibilidades de caracterização do homicídio culposo. A pena pra lesão corporal seguida de morte é mais grave do que a do homicídio culposo, mas mesmo assim um enquadramento incorreto no momento da denúncia pode prejudicar o processo, já que bastaria o réu demonstrar que não teve a intenção de causar a lesão corporal”.

10 erros comuns dos motoristas que matam ciclistas

  1. Dirigir acima da velocidade permitida da via.
  2. Passar a menos de 1 metro do ciclista.
  3. Abrir a porta em trajeto de passagem.
  4. Uso de celular ao volante.
  5. Desrespeito às sinalizações e a legislação de trânsito.
  6. Parar em cima da faixa da ciclovia.
  7. Falta de fiscalização.
  8. Conduzir embriagado.
  9. Não se atentar ao retrovisor.
  10. Frear bruscamente próximo da passagem de ciclistas.