Ao menos 80 pessoas ficaram feridas neste sábado em mais um acidente de trem em Buenos Aires, reacendendo o debate sobre os problemas do criticado sistema ferroviário da Argentina.
O acidente ocorreu quando um trem da linha Sarmiento, vindo da periferia da capital, chocou-se contra uma vala de contenção da plataforma na estação Once, uma das mais importantes de Buenos Aires.
É a mesma estação onde, em fevereiro de 2012, 51 pessoas morreram e 800 ficaram feridas em um choque parecido. Foi um dos piores acidentes de trem da história do país e o auge da crise do sistema ferroviário argentino, mas muitos acreditam que ela ainda está longe de ser resolvida.
A gestão do sistema ferroviário se tornou um dos principais desafios do governo de Cristina Kirchner, além de uma custosa infraestrutura por conta dos elevados subsídios públicos para financiar a viagem dos passageiros – em sua maioria trabalhadores que se deslocam do interior a Buenos Aires, explica Ignacio de los Reyes, da BBC Mundo na Argentina.
Ao mesmo tempo, o governo mantém uma desavença com o sindicato dos condutores de trens. Enquanto isso, os passageiros se queixam de atrasos frequentes e da qualidade do serviço. Não é raro ver passageiros amontoados nos vagões a caminho do trabalho.
‘Loteria’
Em reportagem recente, a BBC Mundo explicou que viajar de trens na Argentina se converteu em uma “loteria”: não se sabe quando o trem virá, quanto demorará a chegar no seu destino e se a viagem ocorrerá sem imprevistos – o deste sábado foi o quarto acidente grave ocorrido no país em menos de dois anos.
O tradicional sistema ferroviário argentino começou a ser construído no século 19, com financiamento britânico, e deu os primeiros sinais de estagnação na segunda metade do século 20, junto com o restante da economia do país.
Críticos alegam que os problemas se agravaram nos anos 1990, no governo de Carlos Menem (1989-1999), quando as linhas começaram a ser concedidas à iniciativa privada. O presidente do Instituto Ferroviário Argentino, Pablo Martorelli, disse à BBC Mundo que muitos dos contratos de concessão não tinham cláusulas obrigando as concessionárias a fazer investimentos.
Mas o declive do setor se acentuou mesmo nos últimos três anos, quando os serviços de trem começaram a apresentar diversos atrasos e falhas, incluindo os descarrilamentos.
No início deste ano, Cristina Kirchner anunciou a “renovação ferroviária mais importante dos últimos 50 ou 60 anos” no país, que incluirá a substituição dos trens das populares linhas Sarmiento e Mitre.
A previsão é de que os novos vagões comecem a chegar em 2014.
Enquanto isso, muitos acusam o governo de omissão. Em artigo neste sábado, o jornal Clarín, crítico da administração Kirchner, diz que a sensação entre os usuários é de “brincam com suas vidas diariamente” em linhas como a Sarmiento.
Velocidade
As causas do acidente deste sábado ainda serão investigadas.
O ministro de Interior e Transportes, Florencio Randazzo, negou que o acidente tenha sido causado por falhas técnicas e disse que o condutor – que está detido – dirigia o trem a velocidade mais rápida do que o permitido ao se aproximar da estação. E não descartou uma “sabotagem”.
Até a tarde deste sábado, o governo alegava que o acidente não deixou vítimas fatais. Mas ao menos cinco feridos tinham fraturas graves.
“Vi que o trem não freava, daí escutei uma explosão muito forte e muitos gritos. (É) mais uma catástrofe”, disse uma testemunha.