O pescador Onofre da Conceição, de 61 anos, foi baleado no abdômen por volta das 17 horas desta segunda-feira, 25 de junho, após um desentendimento causado por uma linha de pipa com cerol, na rua Marechal Deodoro, esquina com a Maranhão, no bairro Jardim dos Estados, parte alta de Corumbá. De acordo com moradores, o caso ocorreu após um soldado da Polícia Militar, sofrer um acidente na rua Marechal Deodoro. O PM, que estava à paisana, pilotava uma motocicleta, quando uma linha de pipa, com cerol (mistura de cola e vidro moído), lesionou o pescoço dele.

“Eu seguia com meu irmão de 7 anos quando vimos uma pipa que havia sido estancada; as crianças estavam correndo para pegar a pipa, quando o policial passou e se machucou. Vimos que a linha cortou o pescoço dele. Depois disso, ele saiu e quando voltou, correu atrás de mim e de meu irmão, pois ele pensou que era eu quem estava soltando a pipa no momento em que se acidentou. Na hora que voltou, ele parou a moto, tentou dar uma pedrada em meu irmão, mas não acertou e em seguida, veio em minha direção, me deu um tapa no rosto e socos. Eu consegui escapar, saí correndo, chamei meu pai e o policial continuou ameaçando as crianças que estavam na rua. Meu pai saiu correndo para me socorrer, quando o policial pegou a motocicleta e saiu atirando. Foram vários tiros, até que um deles atingiu meu pai”, relatou ao Diário, o adolescente G.N.C., de 16 anos.

Moradores disseram que o policial estava transtornado e que após os disparos, ainda ameaçou todos que estavam na rua. “Eu estava vindo da creche com minhas duas filhas, quando vi meu irmão correndo; em seguida, vi o policial perseguindo meu irmão, ameaçando que iria dar tiros nas crianças que estavam na rua. Depois, ele apontou a arma para meu pai e atirou. Foram mais de seis tiros; ele catou as balas do chão e ainda chamou minha mãe, disse que se ela quisesse morrer também era para sair do portão e ir encará-lo. Ninguém entendeu o motivo de tanta raiva. Parecia filme, foi uma coisa absurda”, relatou Luciene Rodrigues da Conceição, 26 anos, filha da vítima baleada.

Ainda de acordo com Luciene, o policial deixou o local após a chegada da guarnição da PM e ele afirmou que atirou apenas para se defender e que o pescador é quem teria dado o primeiro tiro. “O policial disse que meu pai havia atirado contra ele. Meu pai foi levado para o hospital como um bandido, sendo que ele saiu de casa apenas para defender meu irmão. Meu pai é humilde, pescador, não tem arma em casa. O que nos causa revolta, é o policial ter feito tudo isso, ameaçado os moradores, as crianças, ter falado que iria ‘explodir’ a cabeça das crianças e nada ter acontecido”, disse Luciene.

Revoltados com a situação, moradores impediram o tráfego na rua Marechal Deodoro. Galhos, pneus e entulhos foram colocados na rua; Os manifestantes atearam fogo para chamar a atenção ao fato ocorrido. “Como é possível uma pessoa atirar em outra e sair impune, estando a polícia no local? Queremos justiça, não houve tiroteio algum. Se o policial se acidentou com a linha de pipa, que confirmasse o que realmente ocorreu, agora, ele sair atirando, tendo crianças na rua, foi absurdo. Meu filho foi ameaçado, ele disse ao meu filho que iria dar um tiro na cabeça dele, estamos todos revoltados com a situação”, alegou Elizabeth Duran, enquanto mostrava um dos projéteis deflagrados durante a confusão.

Além do protesto, os moradores fizeram um abaixo-assinado, pedindo para que o policial militar seja punido e expulso da corporação. “Isso que ele fez não é conduta de um policial. Não é certo um policial ameaçar e bater em crianças e adolescentes, não é certo ele atirar em um pai que saiu para socorrer seu filho”, disse indignado o morador Ermenegildo Vaca, de 36 anos.

O pescador Onofre da Conceição foi submetido a uma cirurgia e está internado na Santa Casa.

Comando da PM

A reportagem do Diário procurou o tenente-coronel Waldir Ribeiro Acosta, comandante do 6º Batalhão da Polícia Militar de Corumbá, que informou a respeito dos procedimentos a serem tomados.

“O policial envolvido no incidente está com o pescoço lesionado e de acordo com relatos do soldado, que já se apresentou na Delegacia de Polícia Civil, ele agiu em legítima defesa, pois alega que a outra parte (o pescador) atirou contra ele. O caso está sendo investigado. A parte criminal está sendo investigada pela Polícia Civil e a Polícia Militar irá apurar a conduta do policial envolvido. O que podemos adiantar é que agiremos de acordo com a legislação e não cabe a nós, dizer se ele será expulso ou não. O caso agora segue sob investigação e a PM terá 30 dias para concluir a sindicância”, enfatizou.

O Comando do 6º Batalhão da Polícia Militar de Corumbá não confirmou a identificação do policial militar. O Comando Geral da PM em Mato Grosso do Sul deve se manifestar em nota oficial sobre o caso.