São debatidas na Câmara Municipal de Campo Grande nesta sexta-feira (25) possíveis soluções para a segurança de moradores da região da Vila Nhanhá, tomada por usuários de drogas que para alimentar o vício cometem vários tipos de crimes que deixam a população da região amedrontada e ilhada.
O problema percorre os bairros vizinhos, como Vila Marcos Roberto, Jóquei Clube, Jaci, entre outros, e atinge milhares de moradores, que se reuniram nesta manhã para debater possíveis soluções para o enfrentamento da criminalidade.
A aposentada Rose Pereira, de 59 anos, mora há 40 na Vila Nhanhá. Ela disse que o que já era ruim tem ficado ainda pior, mas a situação para ela é considerada crítica há cerca de 2 anos.
“Me sinto desrespeitada pelo poder público”, reclama. Ela afirma que já denunciou, já reclamou, chamou a polícia várias vezes, mas até o momento não conseguiu respostas.
“Furtaram dois ares-condicionados da escola, é gente dormindo na calçada de casa, é gente tentando furtar as casas mesmo durante o dia. Tá impossível”, disse explicando que a escola da região está sucateada, pois frequentemente é furtada.
Ela explica que não há uma comunicação boa entre os órgãos nem um apoio. “Há oito dias havia três ladrões dentro da escola. Eu liguei para a polícia e disseram que é problema da Guarda Municipal. A Guarda Municipal disse que não pode ir porque a ordem é não fazer ronda para não gastar gasolina. De tanto eu ficar ligando, pedindo, solicitando, há cinco dias colocaram guarda na escola, mas só agora, depois que já roubaram tudo”.
Como solução ela credita que a internação involuntária resolveria o problema, pois há muita burocracia e se depender da vontade de pessoas viciada em drogas não haverá solução.
“Ele está oferecendo risco. Corremos risco de levar uma facada, de eles nos roubarem, estuprar uma criança da gente. Tem que ter um local onde recolha até desintoxicar e de lá encaminhar para família ou para outro lugar. Muitos não são dali, vieram de outros estados. A burocracia é porque muitos não têm documentos e não conseguem atendimento justamente por isso”.

Há 23 anos no local, o morador José Roberto da Silva lamenta que até mesmo crianças são vistas nessa situação. “Hoje chegou a uma situação de calamidade. Da gente não dar conta. Sai briga, sai confusão na frente da nossa casa. Situação muito difícil”, lamenta informando que muitos usam drogas do lado da creche que tem no bairro.
Ela explica que o incômodo está muito grande e que já não veem uma saída.
“Não está tendo uma parceria. A polícia prende, não tem pra onde levar. Quando leva, eles são soltos três horas depois e vão praticar o mesmo ato de novo. Tem que ter uma campanha social em conjunto. Não é só questão de prender ou de expulsar eles do local, tem que ter política social, se não, não vai resolver. Não somos autoridades, somos apenas moradores”.
A população sofre também com outros serviços, como, por exemplo, motoristas de aplicativo e motociclista por delivery que não querem aceitar trabalho na região, principalmente ao anoitecer.
Propostas e debates
O delegado titular da Denar (Delegacia Especializada em Repressão ao narcotráfico), Hoffman D’ávila, falou que a polícia faz o trabalho de prender, porém, logo eles são soltos. “A gente tira de circulação, a população respira por 3h, 4 horas e ele volta para as ruas. Realizamos a prisão em flagrante de pequenos traficantes, mas em um mês ele está nas ruas com tornozeleira eletrônica”, se defende o delegado.
Para Hoffman, uma solução seria injetar real investimento no ser humano. “Não é questão biológica, é questão multifatorial, envolve família, religião, perspectiva”.
Já a Superintendente de Proteção Social e Especial da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), Tereza Cristina Miglioli, explicou que não podem forçar um usuário de drogas ou morador em situação de rua a receber o acolhimento, mas que também não desistem fácil.
“A gente insiste na emancipação deles, para serem reintegrados a sociedade, à família. Mostramos a eles o direito de cidadania que eles têm. Não podemos obrigá-los é uma questão de convencimento. A gente busca fazê-los compreender sobre a dignidade que podem ter”, explicou, enfatizando que atualmente a prefeitura tem 315 vagas em comunidades terapêuticas.
O Gerente de Controle de Posturas da Semades (Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável Campo Grande), Admir Cristaldo, relembra que os comércios, mesmo regulares, não podem ficar abertos após as 18h, salvo em casos previamente autorizados mediante requerimento.
“Faremos plantão noturno para notificar esses estabelecimentos para não funcionarem no período noturno. A lei prevê até 18h o funcionamento. No decreto 1265/2014 prevê o estendimento de horário no caso de bares, restaurante, shopping, eventos até as 23h, de segunda a quinta-feira. Depois disso podemos emitir uma licença ou avará especial de funcionamento, mediante apresentação de uma série de documentos, não é o caso desses estabelecimentos”, disse.
Entre os documentos para solicitar requerimento de licença para estender o horário de comércios estão certidões da Polícia Militar, licença ambiental, Deops, Bombeiros entre outros.
“Em conjunto com a Polícia Militar ou a Guarda Civil, vamos cobrar esse cumprimento de lei”, informou.
Já o promotor de justiça Douglas Oldegardo, por exemplo, apresentou uma proposta de crianção do programa de enfrentamento a criminalidade.
O programa atenderia a princípio a região do Anhanduizinho, Vila Nhanhá e depois a região do bairro Los Angeles e, assim por diante, mas a começar pela Nhanhá.
“Instauro hoje o procedimento e integro todo mundo que está nessa mesa e a partir daí a gente vai começar cada um com mais do que cinco minutos de fala, com um, dois, três meses, talvez com dois anos, talvez com quatro anos, não sei. A gente resolve esse problema, mas um dia a gente chega um lugar melhor. Se todo mundo aceitar, eu assino a portaria hoje e na semana que vem a gente começa a desenvolver essa mesa de trabalho”, afirmou.
Audiência pública
O debate foi proposto pelo vereador Beto Avelar, integrante da Comissão Permanente de Segurança Pública da Casa de Leis, atendendo a pedidos de moradores.
“São várias ideias, foram várias falas. O problema destes moradores de rua, desses usuários de droga, principalmente na Nhanhá e o entorno dela, é muito complexo. Uma sugestão foi para termos uma Guarda Comunitária”, afirmou. Ele alertou que autoridades – tanto policiais como do Judiciário – falaram que a “Guarda Comunitária só funcionaria com uma união de esforços, não só da Polícia ou da Guarda, mas também dos órgãos públicos, como Assistência Social, Saúde e também para dar uma oportunidade para essas pessoas entrarem no mercado de trabalho”.
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