“Mãe nenhuma quer isso”, diz Iraides sobre a morte da filha queimada após discussão 

Crime aconteceu em pleno mês da Visibilidade Trans

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Mãe e namorado da vítima estiveram na delegacia na manhã desta terça-feira (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Ao lado de amigos e do genro, a mãe de Pâmela Myrela, de 31 anos, que morreu após ter 90% do corpo queimado depois de uma discussão com duas travestis em Campo Grande, contou, bastante abalada, que esteve com a filha quatro dias antes do fato. Crime aconteceu em pleno mês da Visibilidade Trans.

Iraides Rosa Ferreira explicou que Pâmela é natural de Trindade, em Goiás, e veio para Mato Grosso do Sul há dez anos a trabalho. “Ela gostava muito de Campo Grande”, disse. A família faz ‘vaquinha’ para que ela seja enterrada em Goiás.

Pâmela teve 90% do corpo queimado. (Redes sociais)

Explicou que a filha era uma pessoa feliz e muito carinhosa. Como toda a família mora em Goiás, Pâmela, que é a mais velha entre os irmãos, além de ligar todos os dias para a mãe, ia todos os anos para a cidade natal.

Ela, inclusive, havia ido para lá no final do ano e retornou para Campo Grande na última quarta-feira (15), quatro dias antes do crime.

“Saiu na quarta e domingo já aconteceu essa tragédia”, lamentou a mãe.

A mãe, logo ao ficar sabendo do caso, se organizou para vir para MS, mas chegou nesta terça-feira (21) já com a pior notícia, a da morte da filha.

“Mãe nenhuma quer isso. Não quer que tire o filho da mãe”, disse.

Renan Castilho, namorado da vítima, contou que estavam namorando há 8 anos. Ele também está bastante abalado. Em poucas palavras disse estar indignado com tudo o que aconteceu e não entender o real motivo para o crime.

“Foi uma barbaridade. As pessoas têm que pagar pelo que fizeram com a gente, com a nossa família”, conta.

Durante o crime, o cachorrinho de Pâmela ficou escondido embaixo da cama. Mesmo ferida, durante socorro, Pâmela pediu para uma amiga resgatar o animalzinho do meio das chamas.

O namorado de Pâmela explicou que o cãozinho teve queimaduras superficiais no pelo, mas está bem, está aos cuidados dele.

Mês da Visibilidade Trans

Ainda na delegacia, a conselheira da ATTMS (Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul), Kensy Palácio, lamentou o caso durante o mês de janeiro, que é considerado o Mês da Visibilidade Trans.

Conselheira da ATTMS, Kensy Palácio (Nathalia Alcântara, Midiamax)

A associação publicou nota de pesar lamentando o ocorrido: “É com profundo pesar que anunciamos o falecimento de Pamela Myrela. Sua partida é uma perda imensurável, não apenas para seus amigos e familiares. Neste momento de dor, nos solidarizamos com aqueles que a amavam e que tiveram o privilégio de conhecê-la. Que possamos honrar sua memória continuando a luta por um futuro onde todas as vidas sejam respeitadas e valorizadas. Descanse em paz, Pamela Myrela. Sua luz nunca será esquecida”.

Kensy explicou que o trabalho da associação é uma luta que já dura 20 dias. “A gente já vem há mais de 20 anos lutando pela dignidade do ser humano, principalmente das pessoas trans e travestis”.

Ela explicou ainda que a luta continua e que vão continuar cobrando as autoridades e também auxiliar a família no que precisar.

“A gente não concorda com nenhum tipo de barbárie. A gente vive em sociedade, a sociedade tem leis e é para serem cumpridas. Se aconteceu algo pessoal, individual, que correu a isso, não cabe. Temos sistemas jurídicos para isso. Não concordamos com nenhum tipo de barbárie, principalmente aquela que traz uma situação tão violenta como foi essa. Nos lembra do passado, as questões de transfobia também, e vem com muitas questões de ódio”, explicou.

Janeiro é considerado o mês da visibilidade trans e o dia 29 de janeiro é o Dia Nacional da Visibilidade Trans no Brasil. A data foi escolhida em referência ao lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, em 2004, em Brasília.

A Visibilidade Trans é uma campanha que visa dar visibilidade à luta pela garantia dos direitos das pessoas trans, travesti e não-binárias.

Discussão e crime

Pâmela estava internada desde domingo (19) após ter o corpo incendiado na Vila Carvalho, em Campo Grande. Ela não resistiu e morreu na madrugada desta terça-feira (21).

A travesti havia se envolvido em uma discussão em uma boate. Depois ela foi para casa, mas as duas autoras, enfurecidas, foram até um posto de combustível, compraram gasolina e seguiram para a casa da vítima.

Lá elas chamaram a vítima, que, ao sair no portão, teve o corpo atingido por combustível. Em seguida, as autoras atearam fogo na vítima.

A amiga da vítima, de 26 anos, prestou depoimento na delegacia, onde relatou que as duas foram até uma boate na noite de sábado (18) com outros três amigos. Por volta das 3 horas da madrugada, chegaram ao local duas travestis alteradas e aparentemente sob efeito de drogas ou álcool. Segundo a amiga, a dupla estaria procurando confusão no local.

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