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Polícia

‘Culpar delegada pelo feminicídio de Vanessa é injustiça contra outra mulher’, diz Adepol sobre falhas na Deam

Mulheres vítimas de violência reclamam há meses de atendimento na Deam; Em nota, associação diz que "protocolo" será melhorado
Jennifer Ribeiro, Thatiana Melo -
Fachada da Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande. (Nathalia Alcantara, Midiamax)

Após áudios gravados pela jornalista Vanessa Ricarte virem à tona, escancarando descaso e negligência no atendimento prestado pela (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de , a ADEPOL-MS (Associação dos Delegados de Polícia de ) divulgou uma nota informando que “não aceita a forma unilateral e abusiva com que o crime passou a ser tratado após a veiculação de um áudio atribuído à vítima, contendo críticas ao atendimento recebido pela DEAM”.

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Os áudios em questão foram gravados por Vanessa poucas horas antes de ser assassinada pelo ex-companheiro, Caio Nascimento, na última quarta-feira (12), e desmentem o discurso das delegadas que atuam na especializada, apontando descaso e erros grosseiros no atendimento que ela recebeu quando procurou ajuda na Casa da Mulher Brasileira.

Conforme a nota publicada nas redes sociais da Associação, a Polícia Civil, por intermédio da Deam, ofereceu todas as orientações e medidas existentes para a garantia de segurança de Vanessa, seguindo todo o protocolo operacional existente.

Essas medidas incluíam orientações para que ela não retornasse para casa e permanecesse no alojamento da Casa da Mulher Brasileira. Na nota, pontua-se que a sugestão “não foi aceita pela vítima e não pode ser coercitiva”.

No áudio, Vanessa Ricarte detalhou para uma amiga pouco antes de ser assassinada que esperava ‘chegar com a polícia’ para tirar o assassino da casa dela. Não conseguiu.

Dados sigilosos

Em um trecho dos áudios, Vanessa afirma que a delegada teria se negado a comentar sobre o histórico de agressões do assassino e falou que a vítima “já sabia porque ele mesmo havia falado de agressões”.

Sobre isso, a Associação pontuou que “o fornecimento de dados criminais é sigiloso, dados sigilosos não foram fornecidos para a vítima e não serão fornecidos doravante para outras pessoas, por mandamento legal”.

Sobre haver gargalos e negligências nos atendimentos oferecidos à Vanessa e outras vítimas, a Associação afirmou que se há a necessidade de que o protocolo seja aprimorado, isso ocorrerá. Ou seja, até lá, os métodos de atendimento permanecerão como são atualmente.

As mudanças já são estudadas. Na tarde dessa sexta-feira (14), o Poder Judiciário, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública e a Delegacia-Geral da Polícia Civil, se reuniram para discutir mais celeridades nos processos que precedem a denúncia de uma vítima.

“Atribuir o resultado desse crime à Delegada de Polícia que atendeu a ocorrência observando todo o protocolo existente, não coaduna com o que aconteceu e cria mais uma situação de injustiça contra uma mulher trabalhadora, mãe de família e cidadã que é a Delegada de Polícia. O autor dessa tragédia é o feminicida preso, alterar ou subverter essa verdade não se justifica”, finaliza a nota.

Midiamax já havia noticiado relatos de vítimas

Há três meses, o Jornal Midiamax noticiou o relato de mulheres vítimas de violência doméstica que aguardaram cerca de 14 horas por atendimento na DEAM de Campo Grande.

Ao invés de medidas para resolver os problemas apontados, repórteres passaram a ser hostilizadas na delegacia, que chegou a dificultar o acesso dos jornalistas a partes do prédio público.

Entre as vítimas que relataram dificuldades para receber atenção na Deam, mulheres machucadas, sem roupas e com a filha sequestrada.

Após os áudios de Vanessa serem divulgados, diversas mulheres utilizaram suas redes sociais para também relatar episódios em que foram vítimas de violência institucional na unidade.

Os relatos são angustiantes e carregam as dores de vítimas de um crime cruel que, ao invés de encontrarem conforto e atendimento humanizado, foram tratadas friamente e até culpabilizadas pela violência sofrida.

Vítimas culpabilizadas

Em depoimento nas redes sociais, uma mulher compartilhou que quando esteve na Deam foi questionada por um policial “se realmente aquilo [boletim de ocorrência] era preciso”, já que a ficha do agressor era limpa e ela, a vítima, iria sujá-la. O homem nunca foi intimado.

“Desde a primeira reportagem que vi da Vanessa, senti que o caso dela viria para mudar essa realidade nojenta e machista que vivemos. Infelizmente perdemos uma grande mulher, porém, o que nos traz a esperança é saber que sua morte não foi em vão. Por Deus e a orientação que ela tinha, desmascarou não só a polícia, como toda a sociedade que julga e sempre diz que, se quiser, ‘é só largar’, é ‘só denunciar’. A mulher, até depois de morta, se passaria como culpada. É triste e lamentável”, desabafa.

Outro relato traz uma experiência muito similar. Neste caso, o escrivão, sem nenhuma empatia, teria insinuado que a vítima deveria ter feito ou escondido algo do agressor, para ele ter “chegado a esse ponto”. Ela continua seu depoimento afirmando que após registrar o boletim de ocorrência por agressão, sentou em uma cadeira na recepção para beber água e aguardar um carro de aplicativo. Neste momento uma funcionária se aproximou e informou que ela não poderia aguardar ali.

“Olhei para ela com meus olhos cheios de lágrimas e falei que só estava tomando água para me acalmar. Ela falou que eu deveria esperar lá fora. Totalmente despreparada. Me arrependi de ter ido! Os policiais que me levaram [para a Casa da Mulher] disseram que lá iam me amparar, que teria a GCM para me levar para casa. Antes de pedir Uber, perguntei se podiam me levar e disseram em voz de deboche: ‘como vamos carregar todas as mulheres que aparecem aqui?’”, conta.

Este último, traz uma reflexão preocupante. Com tantos relatos sobre o despreparo, desumanização e descaso nos atendimentos, muitas mulheres podem não se sentir seguras em ir denunciar seu agressor. No entanto, a denúncia se faz necessária. Se você é uma vítima e vive em um lar opressor, busque ajuda!

Confira a nota na íntegra

Onde tentar ajuda em MS

Em Campo Grande, a Casa da Mulher Brasileira está localizada na Rua Brasília, s/n, no Jardim Imá, 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana.

Além da DEAM, funcionam na Casa da Mulher Brasileira a Defensoria Pública; o Ministério Público; a Vara Judicial de Medidas Protetivas; atendimento social e psicológico; alojamento; espaço de cuidado das crianças – brinquedoteca; Patrulha Maria da Penha; e Guarda Municipal. É possível ligar para 153.

Existem ainda dois números para contato: 180, que garante o anonimato de quem liga, e o 190. Importante lembrar que a Central de Atendimento à Mulher – 180, é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres em todo o , mas não serve para emergências.

As ligações para o número 180 podem ser feitas por telefone móvel ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive durante os finais de semana e feriados, já que a violência contra a mulher é um problema sério no Brasil.

Já no Promuse, o número de telefone para ligações e mensagens via WhatsApp é o (67) 99180-0542.

Confira a localização das DAMs, no interior, clicando aqui. Elas estão localizadas nos municípios de Aquidauana, Bataguassu, Corumbá, Coxim, Dourados, Fátima do Sul, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.

Quando a Polícia Civil atua com deszelo, má vontade ou comete erros, é possível denunciar diretamente na Corregedoria da Polícia Civil de MS pelo telefone: (67) 3314-1896 ou no GACEP (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), do MPMS, pelos telefones (67) 3316-2836, (67) 3316-2837 e (67) 9321-3931.

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