Crise e pedidos de afastamentos não atrapalham atendimento na Deam, garante Sejusp

A crise que a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) enfrenta e os pedidos de afastamentos de duas delegadas após o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte – morta a facadas pelo ex-noivo Caio Cesar do Nascimento Pereira no último dia 12 – não atrapalharam os atendimentos na especializada nesta terça-feira (18).
Recentemente, áudios gravados por Vanessa e enviados para uma amiga apontaram descaso e erros no atendimento recebido por ela na Deam. A jornalista diz que foi tratada de maneira ‘fria e seca’ na especializada, além de orientações desencontradas.
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Desde o feminicídio de Vanessa, a especializada enfrenta uma crise institucional. Isso porque, inicialmente, em entrevista coletiva, a delegada titular da Deam, Elaine Benicasa, disse para toda imprensa campo-grandense que teria oferecido escolta, mas a jornalista teria ‘rejeitado’.
Contudo, os áudios gravados por Vanessa apontaram que pouco antes de ser assassinada, ela esperava ‘chegar com a polícia’ para tirar o assassino da casa dela naquela quarta-feira (12). Logo que os áudios foram divulgados, a reportagem do Jornal Midiamax recebeu inúmeros casos de revitimização enfrentados por mulheres que buscaram ajuda na especializada.
À reportagem do Jornal Midiamax, a Sejusp/MS (Secretária de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul) informou, em nota, nesta terça-feira (18), que não foram formalizados novos pedidos de transferências de profissionais que atuam na Deam.
Mesmo em meio a crise institucional, a secretaria disse que o atendimento continua sendo realizado de forma regular na especializada. Além disso, afirmou que a apuração dos fatos que envolvem o atendimento à jornalista naquele 12 de fevereiro será concluída em um mês.
Confira a nota na íntegra:
“A Secretária de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul informa que não foram formalizados novos pedidos de transferência de delegadas que atuam na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). A Sejusp esclarece que o atendimento permanece sendo realizado regularmente na Deam, com funcionamento 24 horas por dia e oferecimento de todos os serviços de atribuição da unidade. Em tempo, a apuração dos fatos que envolvem o atendimento à jornalista Vanessa Ricarte, vítima de feminicídio, será concluída em 30 dias.”
Delegadas que atenderam Vanessa pediram para deixar Deam
As delegadas Lucélia Constantino e Riccelly Donha, que atenderam a jornalista Vanessa Ricarte horas antes do seu feminicídio, pediram para deixar a unidade após repercussão do atendimento à jornalista.
Também a titular, Elaine Benicasa, colocou o cargo à disposição até que as investigações sejam concluídas na Casa da Mulher Brasileira. A informação foi dada em reunião sobre o assunto, na Assembleia Legislativa, na manhã desta terça-feira (18).
Após reunião com o secretário da Sejusp-MS (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul), Carlos Videira, e a ministra da Mulher, Cida Gonçalves, a delegada Riccelly Maria Albuquerque Donhas, que registrou o boletim de ocorrência feito por Vanessa horas antes da morte, pediu para sair da unidade após a repercussão dos áudios da vítima.
Quem mandou a jornalista ‘conversar’ com assassino horas antes do crime?
O que a Polícia Civil ainda afirma, desde coletiva de imprensa realizada na Deam após a morte de Vanessa, é que a vítima procurou a delegacia mais de uma vez. Ou seja, teria registrado o boletim de ocorrência de madrugada e voltado na delegacia à tarde.
No entanto, não foi apresentado até o momento documento oficial que comprove que Vanessa buscou a delegacia à tarde ou o que ela solicitou. Assim, enquanto as autoridades se calam, o episódio segue nebuloso.
Também não há registro sobre qual delegada teria destratado a jornalista, que em áudio enviado pelo WhatsApp retrata o horror que passou no atendimento momentos antes de ser assassinada.
O Conselho de Ética da Adepol-MS, bem como a diretoria, se mantêm calados sobre a apuração das supostas falhas operacionais e técnicas que podem ter sido cometidas no episódio.
Também não se comentam os questionamentos sobre como delegadas apontadas como inexperientes, que ainda estão no estágio probatório, deixaram o interior e chegaram até a Deam, delegacia especializada que exige experiência e vocação, segundo delegadas mesmo disseram ao Jornal Midiamax.
Reclamação não é isolada
Humilhação, deboche e falta de acolhimento. Essas são algumas das características apontadas em relatos sobre atendimentos na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de MS) realizados há pelo menos quatro anos na Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande. Áudios de Vanessa Ricarte sobre atendimento na quarta-feira (12) mostram que o descaso e erros grosseiros seguem presentes na Deam.
Vanessa detalhou o atendimento na Delegacia Especializada: “bem fria e seca”. A jornalista buscou amparo e denunciou o ex-noivo, Caio Nascimento, pouco tempo antes de ser vítima de feminicídio na própria casa. Ela foi morta a facadas.
Neste domingo (16), a jornalista completaria 43 anos ao lado de amigos e familiares. Agora, deixa memória de carreira brilhante e independência, além das denúncias em gravação de voz.
Confira os áudios de Vanessa:
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