Os três réus acusados pelo atentado na região do bairro Moreninhas, em Campo Grande, ocorrido na virada de 2020 para 2021, que matou Odilon Rodrigues da Silva Mareco, de 19 anos, negaram qualquer envolvimento com o crime na manhã desta quinta-feira (16), durante o júri popular. O crime teria sido uma ‘vingança’ pela morte de Lucas ‘Bocão’, pouco mais de um mês antes.

Respondem pelo atentado Leonan Gomes de Abreu, Henrique da Silva Bernardo e Wellington Paes Lino. Além da morte de Odilon, os disparos também atingiram outras quatro pessoas. O trio responde pelas quatro tentativas e pelo homicídio de Odilon.

O primeiro dos acusados a depor foi Leonan Gomes de Abreu, que negou as acusações de homicídio e relatou não saber quem atirou. “Não sei quem são os autores, mas houve boato que foram uns meninos do Jardim Hortênsia, que eles tinham inimizade. Depois do que aconteceu, depois de um dia, eles falaram que eu tinha participado, mas não participei”, afirmou.

Disse, também, que na noite da virada, estava na maternidade do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, pois a esposa dele estava dando à luz à filha caçula do casal.

O juiz Carlos Alberto Garcete, titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri, explicou a Leonan que solicitou ao Hospital cópia do livro de presença, mas o nome do réu não constava no dia em que disse estar lá, ao qual o réu rebateu que “foi erro do hospital, porque eu até consegui um papel assinado da médica que atendeu minha esposa comprovando que eu estive lá”.

Sobre ‘Bocão’, Leonan explicou conhecê-lo porque moravam no mesmo bairro, mas que não possuíam amizade. “Nada que me levasse a tirar a vida deles. Esses meninos que aconteceu o fato tinham muita inimizade na região. Não foi a primeira nem a segunda vez que isso aconteceu na casa do Guilherme. Foram várias vezes”, afirmou.

Já Henrique da Silva Bernardo, conhecido como ‘Henrique Neguinho’, disse que passou a virada de 2020 para 2021 na casa de um tio, na companhia da esposa. Depois da festa, foi para a casa do pai, mas o carro em que estava ficou sem bateria. Então, o casal pegou a motocicleta dela e foi para a casa da sogra do réu, onde dormiram.

A esposa de Henrique confirmou essa versão. “Fiquei sabendo porque o pai dele me ligou de madrugada, pois acharam que a polícia tinha invadido a casa dele atrás dele, mas ele estava dormindo comigo. Aí eu acordei ele e falei que era impossível, porque ele passou o dia comigo”, afirmou.

Henrique ‘Neguinho’ explicou, também, que conhece uma das vítimas do atentado por causa de outro processo de tráfico de drogas que caíram juntos. “O Vitor foi peça de um processo meu passado, mas nunca tive desavença com ele, com o irmão ou qualquer uma dessas pessoas. Como que eu ia fazer isso por vingança? Por que eu iria vingar a morte do Bocão se ele era apenas um conhecido para mim?”, questionou.

Atualmente está preso, mas afirma que é relativo a outro processo e ‘apenas esse b.o. do homicídio’ está segurando ele na cadeia.

“Se tivesse envolvido eu ia entregar”

O último réu a ser ouvido foi Wellington, que teve como testemunha os pais dele. Tanto os pais quanto os filhos comentaram que a acusação é uma “injustiça”. “Não é porque é meu filho, mas se ele tivesse envolvido, eu iria entregar”.

Bastante emocionado, o pai de Wellington explicou que ele e o filho, que trabalham juntos como pedreiros, passaram o dia 31 de dezembro de 2020 trabalhando até as 18h. Depois, voltaram para casa, assaram uma carne para comemorar a virada do ano e dormiram cedo.

Segundo relato do pai, o caso foi uma armação de Guilherme porque a mãe de Wellington disse ao filho para que ele parasse de ‘andar’ com o amigo. “Ele disse que ia ferrar a vida do meu filho”, afirmou o pai. A mãe reafirmou a versão. “Eu tenho certeza que meu filho é inocente. Certeza”, disse a mãe.

No caso dele, a promotoria apresentou mensagens enviadas de um perfil no Facebook em nome de Wellington Souza para a mãe de Guilherme, nas quais o jovem teria afirmado ser vingança em nome de Bocão. “Na falta de um ferro, ‘nois’ tem três”, diz um dos textos.

Mensagens trocadas com a mãe de Guilherme – (Foto: Reprodução, autos do processo, TJMS)

Ele nega. “Foi armação. O nome do perfil é Wellington Souza e eu nem tenho esse sobrenome. Tanto que no dia da delegacia eu falei para o delegado pegar meu celular e ver se tinha algum perfil, mas ele não quis”, diz.

Crime

Odilon estava sentado em frente a uma residência, localizada na Rua Mururé, com outros homens, quando um veículo Gol G5 parou em frente à casa. O carro era ocupado por quatro homens, que abaixaram o vidro, sacaram várias armas e passaram a atirar contra as vítimas.

Ainda, conforme as informações, cerca de três horas após o crime, o veículo Gol G5 foi encontrado batido em um poste em uma estrada vicinal que liga a saída de São Paulo, na Avenida Gury Marques, com o macro anel rodoviário. Dentro do carro havia cápsulas deflagradas. Foram recolhidas pela perícia cápsulas de 9mm e munições intactas calibre .38.