‘Que a verdade seja revelada’: Defesa de padrasto espera esclarecer detalhes do dia da morte de Sophia

Sophia de Jesus Ocampo foi assassinada e torturada aos 2 anos; mãe e padrasto serão julgados nos próximos dias 4 e 5 de dezembro

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Christian e Stéphanie em dezembro passado durante audiência. (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

A menos de uma semana do julgamento de Stephanie de Jesus da Silva e Christian Campoçano Leitheim, acusados pela morte de Sophia de Jesus Ocampo, assassinada e torturada aos 2 anos, em Campo Grande, a defesa do padrasto da menina adiantou que espera que os fatos sejam esclarecidos nos próximos dias 4 e 5 dezembro.

O casal está preso desde a época do crime, que gerou repercussão em Mato Grosso do Sul e em todo o Brasil, em janeiro de 2023. Em dezembro do ano passado, a mãe e o padrasto da menina foram interrogados durante audiência de instrução e julgamento, onde culparam um ao outro pelos fatos. 

E nesta sexta-feira (29), a cinco dias do júri popular que pode condenar ou inocentar o casal pela morte da menina, um dos advogados que defende Christian Campoçano no caso, Pablo Arthur Buarque Gusmão, revelou sua expectativa à reportagem do Jornal Midiamax

“A expectativa para esse júri é grande, porque é um caso extremamente delicado, é um caso de repercussão nacional, pois envolve o falecimento de um bebê”, espera o advogado. 

Questionado sobre uma possível tese de defesa para os próximos dias 4 e 5 de dezembro, Pablo Arthur limitou-se a dizer que existe um ‘ponto obscuro’ referente a morte da pequena Sophia, visto que o casal ainda não esclareceu o que aconteceu naquele 26 de janeiro. 

“Nós, na condição de defesa do Christian, estamos trabalhando no sentido de tentar extrair maiores informações e fazer com que a verdade sobre esse homicídio seja revelada, até então os dois não disseram exatamente o que aconteceu no dia 26, na madrugada em que eles estavam confraternizando com os amigos”, adiantou o advogado. 

Por fim, o advogado afirmou que ‘não é novidade’ a estratégia que será adotada pelos advogados de Stephanie no julgamento. Na manhã desta sexta (29), a defesa da mãe de Sophia também conversou com a reportagem e afirmou que Stephanie era uma vítima do ciclo de violência. 

“Isso não é novidade, né?! Eles estão trabalhando com essa estratégia, mas a questão maior é o fato do homicídio”, disse Pablo Arthur à reportagem do Jornal Midiamax.

Defesa afirma que Stephanie era vítima do ciclo de violência

“Ela foi abandonada pelo Jean que foi viver outro relacionamento e estava em um momento frágil. Ela não tinha forças para denunciar”, disse o advogado de defesa de Stephanie, Alex Viana de Melo, ao Jornal Midiamax. Ainda conforme a defesa, Stephanie trabalhava o dia todo e Christian ficava responsável pelas crianças.

Sobre as 30 vezes que Stephanie levou Sophia a unidades de saúde e em nenhuma delas denunciou os maus-tratos, a defesa alegou que ela levou a criança para que alguém visse os machucados e tomasse a atitude de denunciar, já que ela não tinha forças para fazer por estar vivendo o ‘ciclo de violência’. 

“Demora muito para as mulheres agirem e ela (Stephanie) estava pesquisando na internet como denunciar, mas daí aconteceu a tragédia”, disse o advogado.

Viana ainda diz que Stephanie não sabia das agressões e que Christian relatava que era o filho dele que havia agredido a menina ou que Sophia havia se machucado brincando. O menino – filho de Christian – disse em depoimento especial na DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), que já tinha visto o pai chutar a perna de Sophia, o que causou uma fratura na menina. 

Julgamento de padrasto e mãe de Sophia

O casal está preso desde a época do assassinato, quando Sophia deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino, já morta nos braços da mãe, no dia 26 de janeiro de 2023.

Durante o andamento do processo, a defesa de Stephanie tentou por várias vezes a anulação do júri popular, mas teve os pedidos indeferidos pela Justiça. Assim, o julgamento foi mantido para o próximo mês, com 12 testemunhas que devem ser ouvidas pelos jurados e um esquema de segurança reforçado.

A sessão está marcada para iniciar às 8 horas da manhã do próximo dia 4, com permissão da presença do público limitada e por ordem de chegada. Entre as testemunhas arroladas, estão um investigador de polícia, uma médica e um médico legista, que serão ouvidos no primeiro dia. 

No dia 4, pela manhã, estão previstas duas testemunhas do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e outras cinco da defesa de Stephanie. E a partir das 13 horas, serão ouvidas as cinco testemunhas de Christian. 

Após a oitiva, os réus serão interrogados e, segundo o Tribunal do Júri, podendo se estender até a noite. Para o dia 5 de dezembro, estão previstos os debates da acusação e defesa dos réus, que deverão ocupar todo o dia. Em seguida, ocorre a votação dos quesitos e, por último, a sentença que pode condenar ou inocentar o casal pela morte de Sophia. 

Mãe e padrasto foram condenados por maus-tratos a cachorro

Além da morte da pequena Sophia, Stephanie e Christian foram condenados a quatro anos pelo crime de maus-tratos contra o cachorro da família, morto em maio de 2022. 

O casal foi denunciado pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) no dia 28 de setembro e condenado no dia 1º de novembro pela 6ª Vara Criminal.

O crime aconteceu entre os dias 1º e 4 de maio, quando o cachorro estava defecando sangue em casa, conforme a denúncia, a mãe e o padrasto de Sophia não buscaram atendimento médico veterinário, deixando o animal sem alimento e amarrado com um fio curto na área de serviço do imóvel. O local estava repleto de fezes.

A sentença foi assinada pelo Juiz de Direito, Márcio Alexandre Wust, que condenou Christian e Stephanie a dois anos de reclusão, cada um, dez dias-multa e proibição de ter guarda de animais. O valor da multa foi fixado em 1/30 do salário mínimo vigente à data dos fatos. 

Assassinato de Sophia

Sophia morreu em janeiro de 2023, após passar por várias internações. Assim, as investigações mostraram que a mãe levou a menina até uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), já sem vida. A mulher chegou ao local sozinha e informou o marido sobre o óbito.

Além disso, a polícia identificou indícios de estupro na vítima. Ainda durante as investigações, uma testemunha contou que após receber a informação sobre a morte de Sophia, o padrasto teria dito a frase: “minha culpa”.

Também uma das contradições apontadas na investigação é o fato da mãe dizer que antes de levar a filha para atendimento médico, a menina teria tomado iogurte e ido ao banheiro.

Essa versão é contestada pelo médico legista, que garantiu que com o trauma apresentado nos exames, a criança não teria condições de ir ao banheiro ou se alimentar sozinha.

Por fim, a autópsia apontou que Sophia pode ter agonizando por até seis horas antes de morrer. Após o início das investigações, a polícia prendeu o padrasto e a mãe da menina. Eles seguem presos.

Sophia foi torturada e morta aos 2 anos. (Reprodução, Redes Sociais)

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