A primeira audiência do jogo do bicho após a deflagração da Operação Sucessione, em 2023, acontece em setembro deste ano. O deputado Neno Razuk é apontado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), como o líder da organização criminosa que contava com policiais militares como ‘gerentes’ do grupo.

A audiência foi marcada para o dia 16 de setembro pela magistrada May Melke do Amaral, da 4ª Vara Criminal. Na ocasião serão ouvidas testemunhas arroladas pela defesa. O deputado Neno Razuk é citado como réu no despacho da juíza.

Na época da deflagração da Operação Sucessione, Neno foi alvo de buscas e apreensão em sua casa em um condomínio de luxo, em Campo Grande. Na ocasião, quatro assessores do deputado foram presos. O major aposentado da PM, Gilberto Luiz, também foi preso. 

O deputado foi acusado de usar servidores da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul) para a organização criminosa do jogo do bicho. As denúncias de servidores da secretaria envolvidos com a organização causaram um racha na secretaria. 

Reportagem do Jornal Midiamax em julho deste ano, revelou uma guerra entre os grupos de Neno Razuk, ‘Banca BR’, contra outro grupo, ‘Banca Kapital’, que estaria tentando dominar o jogo do bicho em Campo Grande.

Segundo alguns anotadores de apostas, policiais militares e civis estariam abordando os cambistas para impor a mudança do controle das banquinhas do jogo do bicho para os donos da ‘Banca BR’.

Guerra do jogo do bicho implica policiais e políticos em Campo Grande 

De acordo com a denúncia, a tática, que não é nova, estaria usando a atuação policial na repressão à contravenção como forma de ‘pressionar’ os anotadores e coletores a aceitarem a nova direção, supostamente ligada ao deputado estadual Neno Razuk (PL).

Em troca, os policiais receberiam propina em forma de ‘mesadas’, além de favores políticos dentro das instituições. Os laços entre servidores da segurança pública de MS e o jogo do bicho também não são novidade e já chegaram a ser apontados como pivô de mudanças na Sejusp.

Além disso, o deputado Neno Razuk foi apontado pelo Gaeco como o ‘bicheiro’ que supostamente lidera uma das organizações implicadas na guerra pelo controle da contravenção em Campo Grande.

Assim, sete meses atrás, a primeira fase da Operação Sucessione, realizada pelo Gaeco, prendeu 10 envolvidos com o grupo que teria como líder Neno Razuk.

Jogo do bicho na Sejusp

Segundo denúncia de servidores, a disputa pela jogatina expôs os laços da contravenção na Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul). Além do envolvimento direto de servidores públicos supostamente cooptados para atuar em favor do crime organizado, pressão política e até ameaças estariam por trás da mobilização dos grupos que disputam o mercado milionário do jogo do bicho campo-grandense.

Após a apreensão de 700 máquinas eletrônicas usadas pelo jogo do bicho em uma casa no Bairro Monte Castelo, a Sejusp teria se tornado foco da medição de forças entre os grupos que estavam tocando o jogo do bicho descentralizado em Campo Grande e um grupo que tem se anunciado como ‘novos donos do negócio’.

Em outubro de 2023, servidores relataram ao Jornal Midiamax supostas reuniões tensas e os corredores da Sejusp foram tomados por rumores de ‘pedidos’ para ‘cuidar das investigações’.

Neno Razuk nega e diz que denúncias ‘têm caráter político’

Por e-mail, o parlamentar Neno Razuk (PL) garantiu que desconhece os fatos e alegou que as acusações teriam caráter político.

“Quanto ao presente questionamento, tenho a esclarecer que desconheço por completo esses fatos. Vejo que essas imputações tem caráter político, na tentativa de prejudicar minha imagem perante a sociedade com inverdades. Reafirmo minha confiança na justiça e nos meios de investigação, para que essas calunias sejam esclarecidas”, informou em nota.

Major era gerente do jogo do bicho

No entanto, o major aposentado da Polícia Militar, Gilberto Luiz dos Santos, conhecido como ‘Barba’, foi apontado como gerente do jogo do bicho no reduto da organização criminosa, segundo denúncia do Gaeco a qual o Jornal Midiamax teve acesso.

Segundo a denúncia do Gaeco, ‘Barba’ exerce um controle sobre os integrantes do grupo criminoso no que diz respeito às articulações da organização criminosa para a tomada do controle do jogo do bicho em Campo Grande, sempre atendendo aos comandos do suposto líder, o deputado estadual Roberto Razuk Filho, Neno.

Major Gilberto lidava ostensivamente com intermediários, oferecendo treinamento, controlando a ação dos ‘recolhes’ e ‘apontadores’ do jogo do bicho, sem comprometer a imagem do chefe da organização, apontado pelo MPMS como sendo Neno Razuk. 

Quando flagrado na casa no Monte Castelo, em outubro de 2023, por policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), ocasião em que foram apreendidas 700 máquinas do jogo do bicho, o major havia dito que estava na residência jogando com outras pessoas.

O delegado que era titular do Garras também entrou na ‘dança das cadeiras’ promovida na Polícia Civil após a troca do delegado-geral e foi removido.

No entanto, na época, foi apreendida uma agenda que estava com o militar aposentado onde constavam nomes e o esquema de funcionamento atual do grupo de São Paulo, que supostamente está no controle do jogo do bicho em Campo Grande.

Na agenda ainda foram encontrados os nomes de ‘recolhes’ ligados ao grupo de São Paulo, que supostamente estavam na mira do grupo supostamente chefiado por Neno Razuk, seja para deixarem o grupo para o qual trabalhavam ou para serem alvos de nova ação.