Júri desclassifica crime e homem que tentou matar caminhoneiro e esposa é condenado no semiaberto

Gabriel Zampiere de Mattos Bezerra faltou ao julgamento, mas as vítimas relembraram o desespero e ‘arma na cabeça’

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Motorista em depoimento, com banco de réus vazio – (Imagens: Nathalia Alcântara, Henrique Arakaki, Midiamax)

O Tribunal do Júri desclassificou o crime de tentativa de homicídio nesta terça-feira (8) e condenou Gabriel Zampiere de Mattos Bezerra no regime semiaberto por perseguir e tentar matar o motorista de um caminhão e a esposa dele na Avenida Afonso Pena, em Campo Grande. As vítimas foram alvo de 11 disparos de arma de fogo em fevereiro de 2022 após os autores acreditarem que o casal atingiu o carro deles em uma conversão.

Gabriel faltou ao julgamento, mas a sessão ocorreu normalmente e, inclusive, o caminhoneiro e a esposa se emocionaram durante o depoimento ao relembrar a perseguição e os disparos.

O réu respondia por tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil. Porém, a defesa pediu pela desclassificação do crime, absolvição genérica e afastamento da qualificadora. 

Ao fim do júri popular na manhã desta terça (8), o Conselho de Sentença acolheu a tese da desclassificação e condenou Gabriel por disparo de arma de fogo em local habitado, porte ilegal de arma de fogo e dano qualificado. 

As penas, que totalizam quatro anos e 6 meses de reclusão e 1 ano de detenção e 30 dias-multa, à razão de 1/30 do salário mínimo vigente à época do crime, deverão ser cumpridas no regime semiaberto.

O julgamento

O motorista do caminhão, que atualmente é gerente de uma fábrica, explicou que Gabriel e o comparsa – Elias Maldonado, morto a tiros em 7 de julho deste ano – passaram a persegui-los por acreditarem que o casal teria atingido o carro deles durante conversão.

Conforme relato da vítima, ele e a esposa haviam acabado de deixar pacotes de gelo em uma boate na Avenida Afonso Pena, pela rua lateral, a Rua Espírito Santo. O casal retornaria para a fábrica, mas se deparou com a Land Rover dos acusados parada em fila dupla, quase no cruzamento entre a Avenida e a Rua.

“Embiquei o caminhão e fiquei esperando eles saírem, minha esposa comigo, mas não saíram. Eu ia dar uma ré para pegar outra rua, mas minha esposa ‘falou espera, acho que está saindo’. Eles encostaram à direita, eu saí com o caminhão, sem buzinar nem nada, e eles deram o primeiro tiro do lado da minha esposa, ela gritou e abaixou e eu fugi. Nós dois ficamos em desespero”, afirma.

O casal continuou pela Afonso Pena, sentido ao Parque dos Poderes, e foi seguido pela dupla, que dispara no veículo. Um dos tiros atravessou o baú do caminhão e atingiu a cabine do motorista, quase acertando o condutor.

O motorista passou o Pontilhão da Avenida Ceará, e a perseguição não parou. “Nós fizemos o retorno que tem em frente ao shopping e eles passaram reto, pois acreditaram que iríamos continuar. A gente tinha a esperança de eles desistirem, mas eles vieram atrás de novo”.

Quando o motorista chegou quase na esquina com a Rua Rio Grande do Sul, Gabriel e Elias conseguiram ‘fechar’ o caminhão do casal. “Eu falei amor, não tem jeito de a gente escapar deles”.

Os suspeitos desceram cada um com uma arma na mão e gritavam “desce, seu vagabundo. Ajoelha aí”. Então, passaram a dar coronhadas na vítima, sob justificativa de que ele havia estragado o veículo deles. O motorista ficou sob a mira da arma de Elias e a esposa dele, de Gabriel.

A mulher também foi ouvida e contou que foi ameaçada de morte por Gabriel. “Elias pegou meu esposo e falou ‘vem aqui que eu vou te mostrar o que você fez no meu carro’. Eu tentei ir atrás, mas o Gabriel não deixou. Ele falou ‘fica quieta sua vagabunda, senão eu vou te matar’”, disse aos prantos.

O veículo não estava danificado. Mesmo assim, Elias colocou o motorista ajoelhado novamente e fez mais um disparo próximo a ele. Depois, fugiram do local.

Executado com tiros na cabeça

Além de Gabriel, Elias da Silva Maldonado também é apontado como autor do crime. Contudo, foi executado na noite do dia 7 de julho de 2024, em frente à esposa, no bairro Coophavilla, após uma festa na residência do casal. Ele morreu no local antes da chegada do socorro.

Vestígios de sangue em frente à casa onde Elias foi executado – (Nathalia Alcântara, Arquivo, Midiamax)

Elias tinha diversas passagens na Polícia, como essa tentativa de homicídio, além de roubo, ocorrido em agosto de 2014, no Recanto dos Rouxinóis. Elias e outros dois colegas, além de um adolescente, roubaram R$ 9 mil em dinheiro, além de joias e semijoias avaliadas R$ 180 mil, mediante grave ameaça e violência.

Em julho de 2022, no Recanto dos Rouxinóis, Elias foi flagrado transportando uma arma de fogo com 7 munições. O flagrante aconteceu depois que a polícia foi acionada através de denúncia de disparos de arma de fogo e policiais avistaram o carro Evoque fazendo manobra brusca para tentar fugir. Em novembro de 2022, na Avenida Gunter Hans, no bairro Aero Rancho, ele foi novamente flagrado com arma de fogo.

Conteúdos relacionados