‘Fadado à fatalidade’, diz delegado sobre evento de manobras regado a álcool e crimes de trânsito

Motociclista morreu atingido por moto que empinava durante evento no Autódromo de Campo Grande

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Estado da moto após acidente (Ana Laura Menegat, Midiamax). Local era regrado a bebida alcóolica (Polícia Civil)

O motociclista Nicholas Yann Santos de Jesus, de 20 anos, morreu atingido por outra moto que empinava durante o evento no Autódromo de Campo Grande. Segundo o delegado plantonista da Cepol, Felipe Madeira, o evento estava “fadado à fatalidade”, já que foram constatados indícios de crimes de trânsito, bebedeira e manobras sem equipamentos de segurança.

A polícia identificou que o influenciador conhecido como Manolo, de 40 anos, promoveu o evento, inclusive, com vídeos de divulgação incitando manobras sem o uso de capacetes. O organizador é conhecido por outra polêmica, quando um policial militar foi atropelado durante um evento nos Altos da Avenida Afonso Pena.

“Ele tem um histórico de eventos envolvendo acidentes graves de trânsito, não sei como continua realizando eventos. Desta vez, infelizmente, essa falta de responsabilidade resultou na morte de um jovem. No local já não se encontrava nenhum organizador, apenas pessoas que trabalhavam para o mesmo. Foi constatada uma situação bem peculiar no que diz respeito à situação de risco que estava sendo exercida ali, as pessoas estavam fazendo manobras, empinando motocicletas, num ambiente com vasta quantidade de bebida, sem utilização de capacetes ou equipamentos de proteção, com garupas, provavelmente, com menores de idade, pois não havia controle algum da entrada. Uma situação fadada para a fatalidade”, disse o delegado.

A investigação contou com apoio da DHPP (Delegacia de Homicídios e de Proteção à Pessoa), que poderá prosseguir com o inquérito. Madeira relata que as primeiras provas e testemunhas indicaram que tanto a organização como o motociclista preso, de 20 anos, agiram com dolo eventual, ou seja, quando assume o risco de resultado proibido pela lei penal.

“Na versão do suspeito (motociclista), estaria de capacete e o que foi a óbito sem. Ele alega que o rapaz teria invadido a pista contrária, entretanto, isso vai contra as informações que encontramos no local e o relato das testemunhas, que indicam que ele estaria empinando a moto com uma moça na garupa e atingiu o outro. Analisamos no local, junto à perícia, que a lesão no corpo era única, em formato de meia lua na testa. Todos os danos no veículo da vítima indicam que ele foi atingido de cima para baixo pela moto. Isso ficou muito bem caracterizado de acordo com a informação da perícia. Isso nos levou a deliberar a prisão em flagrante”.

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Moto de Nicholas estava com a placa entortada após manobras (Ana Laura Menegat, Midiamax)

Não foi mera negligência

Para o delegado, Manolo e o condutor assumiram o risco da fatalidade. Ainda há possibilidade de outras pessoas serem envolvidas no inquérito, por exemplo, a direção do próprio autódromo e funcionários do influenciador que promoveu o evento.

“Agiram em dolo eventual, portanto, têm um grau acima da culpa, não foi uma mera imprudência, imperícia ou negligência, houve uma assunção de risco. Claramente, todos os envolvidos na situação estavam assumindo o risco de levar alguém ao óbito. O mero fato de não ter nenhum responsável quando a equipe chegou e atuando ativamente para descaracterizar esse local de crime, já demonstra que estavam fazendo algo irregular. Se regular fosse, não haveria essa conduta de se evadir do local e tentar descaracterizar o crime que, inclusive, constitui um crime autônomo previsto no Código de Trânsito, que é de inovar artificiosamente durante o local de crime de trânsito. A moto só não foi retirada do local porque se tivéssemos chegado 30 segundos depois, a moto seria retirada. No momento em que estávamos entrevistando as pessoas, essa pessoa (suposto funcionário do influenciador) se aproveitou para se evadir do local, mas foi identificado com tranquilidade, um funcionário e conhecido do influenciador, embora não seja organizador do evento, será chamado para prestar esclarecimentos”.

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Delegado Felipe Madeira (Ana Laura Menegat, Midiamax)

Evento regado a bebida alcoólica

Imagens registradas pela Polícia Civil revelam que o evento era regado a bebida alcoólica, com pilotos realizando manobras e ingerindo bebida. Pelas redes sociais, o organizador da festa compartilhou uma foto do alvará, que será investigada pela polícia.

“Estava sendo comercializadas bebidas, uma quantidade absurda. Pessoas estavam nas pistas enquanto havia manobras, motociclistas embriagados. O organizador do evento está em local incerto, outros também, está sendo apurado e vamos resolver o caso o quanto antes. Foi um óbito, mas poderia ter sido três. A moça que estava na garupa sofreu fraturas. Posteriormente à alta, ela pode comparecer na delegacia e relatar se deseja representar por lesão corporal culposa”.

Moto ganha para trabalhar

De acordo com o delegado, familiares de Nicholas receberam a notícia e estão consternados. A nova moto teria sido um presente da mãe para que o filho trabalhasse. O veículo teria sido ganho duas semanas antes do acidente.

Pelos redes sociais, Nicholas não escondia o entusiasmo pela adrenalina de pilotar uma moto. Apesar de apaixonado pela velocidade, o jovem se arriscava em manobras perigosas.

Em vários vídeos compartilhados nas redes sociais, Nicholas revelava o ímpeto pela alta velocidade. Em um dos registros, ele descreve: “Permita-me viver o extraordinário antes que o ciclo se encerre”.

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