Fila para entrar no plenário, três dias de julgamento que movimentou Campo Grande, debates em rodas de conversas até de quem não acompanhou com afinco o crime que chocou a cidade – a execução de um jovem estudante de direito a tiros de fuzil. Matheus Coutinho foi assassinado por engano no lugar do pai, em abril de 2019.

Esta sexta-feira (19) de julho completa 1 ano da condenação dos acusados pela execução do estudante de direito. Foram quatro anos de angústia e espera pela família de Matheus, que aguardava pela condenação dos acusados do assassinato.

Mas, um dos envolvidos era da alta classe da sociedade campo-grandense, de família tradicional e poderosa: Jamil Name Filho. Conhecido como ‘Guri’ ou ainda ‘Jamilzinho’, ele era apontado como um dos chefões de uma organização criminosa de execuções em Mato Grosso do Sul. A organização ainda era composta por agentes de segurança, como guardas municipais e policiais civis.

Dessa forma, foram mais de 30 horas de julgamento divididos em três dias: 17, 18 e 19. O veredito saiu depois das 22 horas do dia 19 de julho, condenando Jamil Name Filho, Marcelo Rios e Vladenilson Olmedo.

Foram horas de leitura dos autos sobre como a organização agia. A violência física e psicológica era uma das marcas que ‘Jamilzinho’ usava a seu proveito contra as suas vítimas. “Comportamento agressivo”, assim era descrito o ator principal do grupo. 

O trio acabou condenado pela morte do estudante. Assim, Jamil Name Filho foi condenado a um total de 23 anos, com pena de 20 anos de reclusão por homicídio qualificado – motivo torpe e dificuldade de defesa da vítima, três anos e seis meses de reclusão e pagamento de 60 dias-multa por posse ou porte ilegal de arma de fogo. Ele foi absolvido da acusação de receptação.

Marcelo Rios foi condenado a um total de 23 anos e pagamento de 120 dias-multa, foi condenado à pena de 18 anos de reclusão por homicídio qualificado – motivo torpe e dificuldade de defesa da vítima; um ano e seis meses de reclusão e pagamento de 60 dias-multa por receptação do veículo roubado utilizado no crime; três anos e seis meses mais pagamento de 60 dias-multa por posse ou porte ilegal de arma de fogo.

Já Vladenilson Olmedo foi condenado a um total de 21 anos, foi condenado a 18 anos de reclusão por homicídio qualificado – motivo torpe e dificuldade de defesa da vítima; três anos e 6 meses de reclusão por posse ou porte ilegal de arma de fogo mais 60 dias-multa.

Matheus Coutinho foi morto em 2019 (Reprodução, redes sociais)

Por que a execução de Matheus se tornou o júri da década?

A execução do estudante de Direito, que morreu por engano, tinha como pano de fundo uma briga entre Jamil Name Filho e o pai do jovem – Paulo Xavier, conhecido como PX, capitão reformado da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul). 

Uma dívida após uma briga em negociações de propriedades rurais foi o estopim para que a organização de Jamil Name Filho planejasse e executasse o crime. Mas, o assassinato deu errado e Matheus acabou morto no lugar do pai quando manobrava sua caminhonete da garagem da família.

Em 2018, PX conheceu o advogado Antônio Augusto de Souza Coelho, com quem passou a ter uma relação próxima. Paulo Xavier também tinha vínculos com a Associação das Famílias para Unificação e Paz Mundial.

Nesse período, Antônio foi procurado pela associação, para resolver pendências comerciais e negociar propriedades. Assim, passou a negociar com a família Name, que se viu em prejuízo financeiro.

Depois, PX teria passado a prestar serviços para o advogado e parou de atender a família Name. Foi então que os líderes decidiram pela morte do policial. No contexto da denúncia, há relato de que a organização criminosa se baseava na confiança e fidelidade. Por isso, o abandono ao grupo foi malvisto.

Matheus foi assassinado a tiros de fuzil na noite do dia 9 de abril de 2019. O pai ainda tentou socorrer o filho, mas o estudante já chegou sem vida ao hospital.

A morte do estudante acabou desencadeando várias fases da Operação Omertà. Posteriormente, acabou descoberta a organização criminosa de execuções.

Fases da Omertà

Após a morte de Matheus, o esquema criminoso acabou revelado e resultou em diversas fases da Operação Omertà. Para o MPMS e a Polícia Civil, a família Name era líder do grupo. Na denúncia do caso Matheus, a descrição sobre a família é de que atuava com prática de crimes motivados por questões pessoais e financeiras, com a morte dos rivais. Tudo para garantir a proteção dos negócios da família.

Monitoramento por ‘hacker’

Antes do crime que matou Matheus, Eurico, um ‘hacker’, passou a monitorar Paulo Xavier. No dia do crime, atendendo às determinações dos mandantes, Juanil e Zezinho se armaram com fuzil AK-47 e, em um Onix, seguiram até a casa de PX. 

Eles aguardavam a saída do policial na Rua Antônio Vendas, no Jardim Bela Vista, naquele dia 9 de abril de 2019. Porém, o que os pistoleiros não contavam é que, quem saía na caminhonete S10 branca naquele momento era o filho de Paulo Xavier, Matheus Coutinho, estudante de Direito de 20 anos.

Os pistoleiros se aproximaram e atiraram várias vezes contra o motorista da S10. Matheus ainda foi socorrido pelo pai, mas morreu a caminho do hospital. A perícia identificou que Matheus morreu com 7 tiros de fuzil.