Corpo de indígena morto durante conflito com policiais em aldeia de MS é exumado

Exumação foi feita pela Polícia Federal na Guapo’y Mirim Tujury, em Amambai

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Policiais=federais durante exumação de corpo (Foto: reprodução, Cimi)

Por ordem da Justiça Federal de Ponta Porã deferida em requerimento do Ministério Público Federal, a Polícia Federal realizou nessa segunda-feira (9) a exumação do corpo de Vitor Fernandes, de 42 anos.

O indígena foi assassinado em despejo ilegal realizado pela Polícia Militar de Mato Grosso do Sul em 24 de junho de 2022, na Guapo’y Mirim Tujury, em Amambai e que ficou conhecido como “Massacre de Guapoy”.

Segundo informações divulgas pelo Cimi-MS (Conselho Indigenista Missionário), a exumação, acompanhada por moradores da comunidade, foi feita com a intenção promover perícia técnica a fim de averiguar provas que possam chegar a resolução do caso, até então, inconcluso.

Segundo Avá Apyká Rendy, um dos líderes ouvidos pela reportagem do Midiamax no dia do sepultamento, além do elevado significado espiritual para a comunidade, todo o ritual religioso é movido pela luta em defesa da terra.

“Ele tombou aqui, neste lugar que consideramos a nossa terra e também dos nossos [ancestrais] e aqui ficaremos em defesa da sua memória e do seu povo”, afirma a liderança indígena.

Entenda o caso

“Depois do helicóptero, que foi o dia mais tenso aqui para a comunidade, a nossa alma está tensa, angustiada. É como se estivéssemos em uma guerra. Os tiros duraram três, quatro horas, foi de uma hora [13 horas] às cinco [17 horas]”.

Essa é a descrição de uma liderança indígena Guarani Kaiowá sobre a sexta-feira, 24 de junho de 2022, data do conflito entre um grupo de indígenas e o Batalhão de Choque da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul e que terminou com a morte do indígena Vitor Fernandes, de 42 anos.

A liderança – que não será identificada por segurança – explicou como foi aquela tarde para a comunidade. O conflito entre um grupo de indígenas e os militares aconteceu na Fazenda Borda da Mata, em Amambai, que é vizinha à Reserva Indígena Amambai.

Retomada

O objetivo dos indígenas seria retomar as terras de origem ancestral, sendo o local o batizado de território Guapo’y Mirim, em referência à Reserva Amambai, também chamada de Guapo’y (em guarani). Ou seja, Guapoy’ mirim, seria como filha da Reserva Guapo’y.

A Terra Indígena Amambai (Guapo’y) é uma das mais antigas de Mato Grosso do Sul. Foi criada em 1915, pelo antigo SPI (Serviço de Proteção aos Índios), órgão criado pelo Cândido Rondon, em 1910 e que funcionou até 1967, sendo substituído pela Funai (Fundação Nacional do Índio). Em 1991, as terras foram homologadas como indígenas.