Após nota de repúdio do CRO-MS, dentista pede liberação na Justiça para fazer procedimentos proibidos 

Caso veio à tona na quinta-feira (12) após uma das vítimas registrar boletim de ocorrência contra ela

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Vítima que teve necrose ao fazer rinoplastia com a dentista. (Reprodução Processo)

Após uma nota de repúdio do CRO-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul), a dentista investigada por erros em procedimentos estéticos em várias mulheres pediu liberação na Justiça para fazer os procedimentos proibidos a odontólogos. O caso veio à tona nessa quinta-feira (12) após uma das vítimas registrar boletim de ocorrência contra ela. 

A nota de repúdio do CRO-MS diz que os procedimentos blefaropastia, rinoplastia, otoplastia, lifting não podem ser realizados pela dentista. Relata também que procedimentos cirúrgicos invasivos fora do escopo da odontologia são expressamente proibidos. 

Com isso, a dentista acionou a Justiça contra o CRO-MS e o CFO (Conselho Federal de Odontologia) para que ela seja liberada para realizar os procedimentos, que são proibidos pelo conselho nacional. 

A profissional entrou com ação declaratória com pedido liminar de tutela de urgência. Na ação, os advogados dela alegam que o CFO (Conselho Federal de Odontologia) publicou uma resolução limitando o exercício de suas atividades profissionais e seus colegas de profissão.

A defesa diz que o CFO limitou o direito fundamental ao livre exercício profissional dela. “O que não pode ser tolerado”, alegam os advogados da dentista. Com isso, ela pediu a suspensão liminar da resolução que limita o exercício das atividades profissionais.

“Diante da clara invalidade do artigo 1º da Resolução nº 230/2020 do Conselho Federal de Odontologia, a autora ajuizou a presente ação requerendo a suspensão liminar do artigo 1º da Resolução nº 230/2020 do CFO, com o impedimento o Réu e seus respectivos Conselhos Regionais de iniciar processos administrativos contra a Autora pela prática, ensino ou divulgação dos procedimentos ali listados”, dizem os advogados.

A dentista alega ainda que é especialista em harmonização orofacial em Minas Gerais, mas não em MS, apresentando inclusive alguns certificados na ação judicial. 

Contudo, a juíza Janete Lima Miguel, da 2ª Vara Federal de Campo Grande argumentou que: “alegada divergência interpretativa acerca do exercício profissional de odontologia na realização profissional de odontologia na realização de procedimentos de harmonização orofacial, tampouco evidencia eventual restrição ao exercício de suas atividades a justificar a concessão da antecipação da tutela pretendida”.

Por fim, foi determinado que a dentista comprove ocorrência ou iminência de risco em não poder realizar os procedimentos estéticos e que aponte se o conselho regional é legítimo para definir a proibição e autorização dos procedimentos aos odontólogos.

CRO-MS emite nota de repúdio

Em nota, o conselho relatou que procedimentos blefaropastia, rinoplastia, otoplastia, lifting não podem ser realizados pela dentista. Ainda segundo a nota, procedimentos cirúrgicos invasivos fora do escopo da odontologia são expressamente proibidos. 

O conselho ainda afirmou que procedimentos irregulares configuram infrações éticas, sujeitas a sanções. Pelo menos duas vítimas da dentista entraram com ações de indenização por danos morais na Justiça contra a dentista.

Boca torta

O sonho de acabar com o que incomodava no rosto e se sentir feliz acabou em pesadelo para uma mulher de 37 anos, que acabou com a boca torta depois de um procedimento feito com a dentista famosa de Campo Grande, que já fez outras vítimas.

A dentista famosa tem 157 mil seguidores no Instagram. A vítima registrou um boletim de ocorrência nesta quinta-feira (12), na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Centro. 

Para o Jornal Midiamax, a mulher contou que procurou a dentista para fazer uma lipo de papada, em setembro de 2022, pagando pelo serviço R$ 10 mil. A mulher contou que no dia do procedimento não tomou anestesia, apenas um remédio, e sentiu dores durante todo o procedimento. 

Após o procedimento, a mulher disse que suas roupas na parte de trás estavam encharcadas de sangue. Ela saiu do consultório toda enfaixada. “Passaram-se os dias, até que, um mês depois, eu estava com os pontos todos infeccionados. Na época, minha única preocupação era parar de sentir dor. A expectativa, que antes era positiva, passou a ser baseada apenas na ideia de que os efeitos desse procedimento, que foi feito por alguém que se apresentou como apta para tal função, não fossem tão nocivos para a minha saúde.”, disse a vítima.

A vítima contou que tentou resolver o problema com a dentista, mas a profissional teria dito que a mulher estaria ‘jogando’ a boca para o lado para mostrar que estaria torta. “Fui em um médico que disse que o nervo teria sido lesionado e precisava entrar com medicação para ver se voltava ao normal.”, disse a mulher.

A mulher ficou com pontos por um mês ao redor da cabeça causando dores. “Na época, minha boca ficou torta, tive que fazer fisioterapia pra voltar ao normal.Hoje lido com as cicatrizes que ficaram, uso coque para trabalhar e me sinto constrangida com as falhas no meu cabelo, devido aos cortes que ela fez.”, fala.

Uma reparação foi feita pela dentista 1 ano depois do procedimento, mas que segundo a vítima não resolveu seu problema. “Emocionalmente falando, ao me olhar no espelho e não reconhecer a versão que teve e tem que lidar com as sequelas oriundas da falta de profissionalismo, torço para que outras pessoas não passem pelo que passei e para que um dia eu possa ficar satisfeita com a imagem que enxergo refletida no espelho.”, disse a vítima.

Rinoplastia na cadeira do dentista

O sonho de ter um nariz remodelado e a retirada de papada acabou em pesadelo para uma comerciante de 41 anos. Ela procurou a 5º Delegacia para registrar o caso. 

Ela relatou que o contrato feito com a dentista foi verbal para uma rinoplastia definitiva e uma lipo de papada. Ela relatou que quando chegou no consultório, a dentista fez o procedimento cirúrgico na cadeira de dentista. 

Após o procedimento, a comerciante relatou que teve de buscar ajuda médica depois do nariz infeccionar, após tentar contato com a dentista e não conseguir ajuda. O médico que atendeu a vítima explicou que ela teria de ser submetida a outra cirurgia já que o material sintético colocado dentro do nariz da mulher havia apodrecido.

A vítima ainda ficou com uma enorme cicatriz no pescoço depois da lipo de papada. Foi tentada uma conciliação com a dentista, mas sem acordos. 

Outra vítima

Outra mulher que acionou a Justiça contra a dentista fez um procedimento de Blefaroplastia das pálpebras, mas depois da intervenção cirúrgica, ela teve problemas de lubrificação nos olhos e quando procurou a dentista não conseguiu resolver o problema.

A vítima relatou que pagou pelo procedimento R$ 3,5 mil e que a intervenção cirúrgica foi realizada na cadeira da dentista. Após complicações, a mulher teve de procurar um médico para resolver o problema nos olhos. Ela pediu na Justiça indenização de R$ 100 mil por danos morais, além de R$ 26 mil para reparação de outras cirurgias. 

Jornal Midiamax entrou em contato com os advogados da dentista para saber sobre a investigação sobre as denúncias de pacientes, mas até a publicação da matéria não obtivemos resposta. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

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