Após a morte de um militar e prisão de outro, policiais denunciam clima de perseguição no 10º Batalhão da Polícia Militar de Campo Grande, com humilhações e até punições que seriam aplicadas pelo comandante do batalhão. Em uma das represálias, ele teria diminuído o tempo de descanso dos policiais, além de proibir permutas e transferências entre os batalhões. 

Segundo relatos dados ao Jornal Midiamax pelos militares, a perseguição começou depois da morte em confronto do cabo do 10º Batalhão, Almir Figueiredo Barros Júnior, e da prisão de Laércio Alves dos Santos, em junho deste ano, quando foram flagrados por policiais do Batalhão de Choque com uma carga de drogas roubada.

Depois da morte e exposição de um policial corrupto dentro do batalhão, o comandante teria começado a perseguir quem tinha algum tipo de ligação com o cabo morto. “Uma série de perseguições dizendo que iria prender mais policiais do batalhão”, conta um dos militares.

Como nada foi encontrado pelo comandante, outro militar contou que ao invés de cessarem as investidas, o comandante passou a remover os policiais do comando de viaturas e fez acusações publicamente durante formaturas na sede do 10º batalhão. 

Descanso restrito

Além disso, o comandante também teria suspendido o descanso dos policiais, impondo apenas 30 minutos de pausa. O 10º Batalhão atende uma das maiores regiões da cidade, o Anhanduizinho, com uma população de aproximadamente 200 mil moradores.

Há também a proibição de qualquer contato com a imprensa, dificultando o acesso a informações públicas. “A intenção é intimidar os policiais que trabalham com medo”, disse um policial.

Assim, no batalhão, cerca de 15 policiais estão afastados por atestado médico por problemas psicológicos. “Um policial chegou a comentar dentro da viatura em tirar a própria vida”, disse o militar. A sobrecarga de trabalho, segundo o policial, é vista na quantidade de ocorrências atendidas durante um plantão, que passa de 40 chamados. 

“Não estamos mais aguentando”, disse outro policial. Os militares também alegam não ter ligação com supostas atividades ilícitas cometidas por outros policiais alvos de investigação e sindicâncias pela PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul). 

É o caso da denúncia de que alguns militares estariam usando viaturas para amedrontar apontadores do jogo do bicho, com ‘visitas’ de coerção aos apontadores. 

Ainda há denúncias de que o comandante nega solicitações de permuta ou transferências de militares. “Ele diz que quem manda é ele”, falou um policial. Outros militares que precisam sair mais cedo por questões médicas de familiares, também têm o pedido negado. “Estas solicitações estão baseadas em lei estadual e na portaria da própria PM”, disse o policial.

Escalão superior

Em contato com a PMMS para saber sobre as denúncias relatadas pelos policiais, a resposta foi de que a denúncia foi encaminhada ao escalão superior da PM para conhecimento e medidas pertinentes. “Caso seja identificada alguma irregularidade por integrantes da corporação, poderá ser instaurado um procedimento investigativo”, conclui.

Já o questionamento feito em relação à prisão de Jorcinei Sabala, em junho deste ano, recebemos a resposta: “Em atenção à solicitação, a PMMS informa que após os fatos, o citado policial militar foi encaminhado ao Presídio Militar e segue à disposição da Justiça.”

Morte de PM com carga de droga

Em junho deste ano, o policial Almir Figueiredo Barros Júnior morreu em confronto com policiais do Batalhão de Choque e Jorcinei Júnior Sabala Gil acabou preso depois do roubo de uma carga de drogas.

No dia 21 de junho, os policiais do Choque receberam a denúncia de que uma carga de drogas estaria vindo para Campo Grande através da BR-262. Assim, os militares fizeram vigilância na estrada para identificar os autores.

Assim, a informação era que, assim que a carga de drogas entrasse na cidade, seria roubada por uma quadrilha rival. O motorista do caminhão foi sequestrado pela quadrilha.

Durante as diligências, os policiais observaram a aproximação de um caminhão Mercedes-Benz 1113 azul, sendo seguido de perto por um Toyota Corolla, de cor prata. Os ocupantes do Corolla sinalizaram para que o motorista do caminhão estacionasse.

Em seguida, com o caminhão estacionado na Rua Barra dos Bugres, o motorista foi levado a bordo de um veículo sedã, de cor branca. 

O caminhão deixou o local escoltado pelo Corolla. Assim, a quadrilha se deslocou para uma chácara na Rua Claudio Augusto, na Vila Romana, e em seguida os integrantes iniciaram um suposto conserto na estrutura do caminhão – cortando uma chapa metálica.

Neste momento, os integrantes da quadrilha notaram a presença da polícia e os suspeitos – cinco ao todo – fugiram em direção a um imóvel. Dois fugitivos foram interceptados pelo cerco policial, e ocorreu a troca de tiros.