O pai da menina, de 4 anos, que sofreu racismo em uma escola municipal, localizada na Vila Nasser, em Campo Grande, relatou que a filha foi acusada de furto pelos profissionais da instituição. O homem, de 29 anos, denunciou a escola na última quinta-feira (6) na (Delegacia Especializada no Atendimento à Criança e ao Adolescente).

A criança disse ao pai que a professora teria dito que o cabelo dela era feio e que ela deveria ser branca. Na tarde deste sábado (8), o homem relatou ao Jornal Midiamax que está sendo ameaçado por pessoas do ambiente escolar, que afirmam que ‘irão procurar seus direitos’, além de revelar as acusações feitas à filha após a denúncia. 

“Eu fui ameaçado por gente falando ‘vai depender do ponto que você quiser resolver isso, pois nós também vamos procurar nossos direitos’. Na verdade, eu fui lá [na escola] para ser coagido, para tentar ser sensibilizado a mudar de ideia e não entrar com processo”, explicou.

Ele contou que já passou por situações de racismo, mas ficou quieto, sendo que uma delas foi há duas semanas no trabalho. Entretanto, ele relata que quando envolve a filha, ainda criança, são necessárias algumas providências para que o fato não fique impune.

A menina chegou em casa no fim da manhã e pediu para que a mãe arrancasse seus cabelos dizendo que queria um cabelo liso após a professora falar que era para ela ser branca. Logo depois de ouvir os relatos da menina, ele imediatamente foi na delegacia especializada denunciar o fato.  

Após ela ser ouvida em depoimento especial e o boletim de ocorrência ser registrado, o pai se deslocou até a escola para questionar os profissionais. “Não falaram obviamente com essas palavras, porque ninguém vai falar, mas acusaram minha filha de furto. Disseram: ‘ela pega as coisas dos amiguinhos na mochila e se a gente não falar nada, leva para casa’”, relata.

Ele ainda questiona o motivo de não ter sido informado dessa situação de furto, pois se for verdade, diz que deveria ter recebido uma notificação da escola. Sobre o racismo, ele pede que não tratem o relato da criança como uma mentira.

“Isso vai ser apurado, mas não falem da criança como se ela estivesse mentindo, pois foi ouvido por mim, pela polícia, pela mãe e sempre a mesma história, sempre o mesmo. E eu espero que a justiça seja feita”. 

O homem comenta que concorda que o fato precisa ser analisado e investigado, porém, a resposta que recebeu da instituição, não foi positiva. “Claro, tem que investigar, sem dúvidas nenhuma. Porém, a resposta que tive da escola não foi positiva, eu fui recebido de uma forma falsa, que não queriam resolver a situação, queriam tirar o corpo fora e indagar porque eu fui à delegacia primeiro do que ir na escola”, diz, indignado.

O pai também revelou à reportagem que foi disponibilizado um psicólogo da escola para apurar se a filha falou a verdade. Contudo, afirmou que não deixará a menina ser atendida por profissionais da instituição em que foi vítima de racismo. Por isso, ele irá procurar um profissional por meios próprios para cuidar da saúde mental da filha.

Por fim, o pai ressaltou que não há vitimismo, mas, sim, uma criança, de apenas 4 anos, que sofreu racismo e não quer mais frequentar a escola.

“Eu vou defender minha filha até onde eu tiver alcance. As ferramentas e as possibilidades que eu tiver, vou usá-las para defender minha filha. Estou com uma criança de 4 anos hoje que não quer ir para a escola mais, que pediu para não deixar a professora chegar perto dela, então não é brincadeira”, finalizou.

Denúncia

Segundo relato do pai, a criança chegou em casa no fim da manhã da última quinta (6) e pediu para que a mãe arrancasse seus cabelos. “Disse que era feio e queria um cabelo liso. Fui perguntar de onde ela tirou isso e ela disse com todas as letras que foi a professora ‘tal’”, explicou.

O pai chegou a gravar um áudio em que a filha conta qual é a professora e que ela teria dito que seu cabelo era feito. “Meu cabelo não é bonito, é feio”, diz a criança questionada pelo pai. 

O pai ainda a questiona se a professora falou que era para ela ser branca e a menina diz que sim. “E você quer fazer isso?”, indaga, tendo a resposta negativa.

“A professora proferiu essas palavras para minha filha de 4 anos de idade. Eu quero expor não por vitimismo. Eu passei por uma situação dessa há duas semanas no meu trabalho, mas eu tenho que aguentar, agora meus filhos já é demais”, reclama.

Semed diz que denúncia não procede

Conforme a Semed (Secretaria Municipal de Educação) a informação não procede. Confira a nota na íntegra:

“A Secretaria Municipal de Educação (Semed) informa que a informação foi apurada pela direção da escola e não procede.

Na aula em questão, a coordenadora da escola estava em sala e nada disso foi notado. A direção procurou os pais da aluna, mas eles se recusaram a falar com a diretora”.