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Polícia

‘Abusador não tem perfil’: Maio Laranja alerta para a exploração e abuso sexual infantil 

Delegada Anne Karine Sanches Trevizan, titular da DEPCA, afirma que 70% dos abusadores estão em ambiente familiar
Lívia Bezerra -
Imagem Ilustrativa; (Leonardo de França, Arquivo Midiamax)

A cada hora, 3 crianças são vítimas de abuso sexual no Brasil. Os dados, da campanha nacional “Maio Laranja”, expõem uma violência cíclica entranhada na sociedade, e que requer visibilidade e conscientização.

O assunto ganha ainda mais importância neste sábado (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil, data considerada estratégica na prevenção dessas violências.

Os dados da campanha “Maio Laranja”, com base nas ocorrências registradas nos Estados, contabilizam que cerca de 51% das crianças vítimas de abusos têm entre 1 e 5 anos de idade. Além disso, anualmente, 500 mil crianças e também adolescentes são explorados sexualmente no Brasil. A iniciativa ainda revela que há números que sugerem que somente 7,5% dos casos vêm à tona.

Voz às vítimas

O tema grave e bastante presente na sociedade precisa ser falado, mas, os pontos importantes a serem vistos são dar voz aos pequenos e analisar os abusadores, principalmente por eles não terem um perfil, segundo a delegada Anne Karine Sanches Trevizan, titular da DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).

“Eles [abusadores] não têm um perfil, nós sabemos que 95% dos abusadores conhecem as suas vítimas, não são pessoas desconhecidas. E mais de 70% dos abusadores estão dentro da família da criança e do adolescente”.

“Que os pais e responsáveis conversem com seus filhos, deem voz ao que os filhos falam. Escutem”, reforça a delegada. 

Ambiente familiar

E mais, os abusadores não precisam ser reincidentes – aquelas pessoas que cometem novamente o mesmo crime -, pois o criminoso pode estar no ambiente familiar que ninguém imagina. 

Na delegacia, é comum quando chegam casos em que tenha uma convivência facilitada entre a criança e o abusador pelo fato de ambos terem um contato maior do que o normal. Mas, a titular da DEPCA explica que eles podem estar principalmente entre as famílias das vítimas.

“Não é que costumam ser reincidentes, pode acontecer sim. Quando o abusador verifica que dentro daquela família ele teve facilidade, acesso a uma criança, adolescente e a outras, pode ser que ele venha a abusar delas também”, afirma a titular da DEPCA.

Como identificar sinais de abuso?

Mas, como identificar que uma criança próxima está sendo vítima de abuso? Anne Karine explica que há casos em que a vítima não revela verbalmente que está sendo abusada. Então, o primeiro sinal a ser observado pelos pais ou responsáveis são as mudanças no comportamento daquela criança. 

“Mudança de apetite, mudança no rendimento escolar, agitação no sono, a proximidade demasiada a alguma pessoa ou mesmo a rejeição demais a alguém são sinais de que pode estar havendo o abuso sexual”, explica. 

Punição

Um ponto muito questionado nesses casos é a punição para os abusadores, que podem ficar presos de 8 a 15 anos, se condenados pelo crime de estupro de vulnerável, que se enquadra no abuso sexual infantil. 

“Muitas vezes o abuso sexual acaba enquadrando dentro do crime de estupro de vulnerável, cuja pena base é de 8 a 15 anos. Não é uma pena baixa, é uma pena até que razoável. Então, a gente não tem que falar se a pena é branda ou não, o que a gente tem que levar em conta nesse mês de maio, no ‘Maio Laranja’, é trazer conscientização à população de que ainda temos muitos casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes”, destaca Anne Karine.

Como lidar?

É na infância que as pessoas desenvolvem traumas para o resto da vida, como insegurança, timidez, sentimento de rejeição, muitas vezes causadas por abuso e exploração.

Para superar ou aprender a lidar com os danos emocionais causados quando criança, que impactam na vida adulta, o ideal é praticar o autoconhecimento. A coluna Viver Bem, do Portal Uol, lista algumas dicas.

  • Entenda que você é a soma de todas as suas experiências

Mais do que se apegar às lembranças negativas da época de criança, é preciso ter em mente que diversas vivências compõem quem somos e podem dar um sentido diferente ao que aconteceu. Quando criança, você não tinha consciência disso. Hoje, pode ressignificar o que passou. Todo mundo é capaz de fazer escolhas e se responsabilizar pela vida que deseja ter. 

  • Fortaleça sua autoestima

Por mais que ela tenha sido afetada, é possível reconstruí-la. Sentir-se inferiorizado depende da imagem que a pessoa tem de si mesma e das crenças que alimenta a respeito de suas incapacidades — e não apenas da maneira como os outros a veem.

Listar todas as qualidades que têm atualmente, em vez de se ater aos prováveis defeitos que lhe atribuíram no passado, pode melhorar a autoimagem e resultar em uma atitude mais positiva diante da vida. Essa lista deve ser elaborada aos poucos. À medida que a pessoa vai percebendo que é dotada de virtudes e capacidades, naturalmente passa a aceitar a si própria.

  • Construa uma rede de apoio

Não são poucas as pessoas que somente na idade adulta se dão conta de quanto os familiares são tóxicos. Romper laços ou buscar o diálogo como forma de ressignificar os relacionamentos é uma decisão que compete a cada um. Nessas circunstâncias, o convívio com os amigos pode ser uma boa estratégia para superar as assombrações do passado. Família não pode ser escolhida, mas o círculo de amizades, sim. 

Essas relações podem ajudar a fortalecer a autoestima e a criar um sentimento de pertencimento até então não experimentado. Uma vez que o indivíduo se vê acolhido, amado e respeitado, também se sente apto a estabelecer uma outra forma de lidar com as questões 

  • Não perpetue o sofrimento com seus filhos

É muito comum que as pessoas criem seus filhos espelhados em seus pais. A repetição é inconsciente. Uma vez que você tomou consciência desse ciclo nocivo, pode quebrar o padrão e buscar novos modelos mais saudáveis e afetuosos para aplicar na própria família. A preocupação em não dar continuidade a práticas que considera sofridas na educação dos filhos já é, por si, uma maneira de ressignificar seu passado e, assim, escrever uma nova história, de acordo com seus valores, escolhas e crenças.

  • Tente perdoar quem lhe feriu

Quem perdoa deixa de sentir ressentimento, raiva ou qualquer outro sentimento que faça mal. O ato de perdoar proporciona regeneração e transformação, pois consiste em um processo interno no qual a pessoa se desvincula emocionalmente de quem a magoou. 

  • Tire da experiência negativa algo benéfico

Experiências ruins na infância podem levar as crianças a desenvolverem certas habilidades de enfrentamento à realidade externa. Resiliência, capacidade de lidar com situações adversas e flexibilidade são alguns aprendizados “do bem” que costumam ser adquiridos em contextos difíceis. 

  • Busque ajuda quando o fardo for pesado demais

Caso sinta que, por maiores e melhores que sejam seus recursos emocionais, é complicado ressignificar e superar o que houve na sua infância, procure o auxílio profissional de um psicoterapeuta. Você não tem que aguentar as consequências sozinho(a). Por meio de uma terapia, poderá entender melhor a origem de seu sofrimento, aprender formas de questionar seus padrões de comportamento e pensamento e construir uma nova visão sobre si e sobre o mundo.

Operação Caminhos Seguros

Como forma de conscientização sobre exploração e abuso sexual infantil, a DEPCA deflagra a Operação Caminhos Seguros 2024 em todo o Mato Grosso do Sul desde o início deste mês.

A operação já prendeu suspeitos na Capital, em Itaporã, Dourados, Maracaju, Fátima do Sul, Bonito e Jardim.

Em , na última terça-feira (14), bares e boates foram alvos de fiscalização dos policiais civis. A ação acontece com o intuito de conscientizar os proprietários, funcionários e frequentadores dos estabelecimentos.

Como denunciar?

Na maioria dos casos, familiares e/ou responsáveis não sabem como agir ao se deparar com uma criança sendo vítima de abuso. Para isso, a delegada reforça que, basta uma suspeita para que a vítima seja levada para uma delegacia.

“Não precisa ter certeza para procurar a DEPCA, basta alguma suspeita de que esteja sendo vítima de abuso sexual para trazer até a delegacia. A criança e o adolescente vão passar por depoimento especial, nós temos uma equipe capacitada para fazer o depoimento especial dessa criança para conseguir tirar as informações necessárias para nós verificarmos se ela realmente está sendo vítima de abuso sexual ou não”.

A Delegacia Especializada de Proteção a Criança e ao Adolescente, em Campo Grande, fica localizada na Rua 25 de dezembro, 474, Centro. O telefone da unidade é o: (67) 3323-2500/2510.

Para denúncias via telefone sobre crime de exploração e abuso sexual contra crianças, disque 100.

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