Um ano após briga no trânsito, ex-delegado-geral Adriano Garcia sequer responde PAD por tiros na rua

PAD (Processo Administrativo Disciplinar) é investigação interna que a Polícia Civil deveria ter instaurado para apurar ação no trânsito de ex-delegado

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Ex-DGPC, Adriano Garcia (Arquivo, Jornal Midiamax)

A Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul segue investigando a conduta do ex-delegado-geral, Adriano Garcia Geraldo, após tiros dados contra o carro de jovem de 24 anos, em uma briga de trânsito que acabou em perseguição na Avenida Afonso Pena. O episódio antecedeu sua exoneração do cargo e um PAD (Processo Administrativo Disciplinar) ainda não foi instaurado.

O caso aconteceu no dia 16 de fevereiro do ano passado e, um ano e cinco meses após o ocorrido, a investigação ainda não apontou qual punição deveria ser aplicada contra o ex-chefe da Polícia de MS.

A Corregedoria havia concluído o inquérito no dia 17 de maio deste ano, com relatório favorável a Adriano. Em nota, a DGPC (Delegacia Geral de Polícia Civil) confirmou que a corregedoria havia concluído a investigação.

No entanto, conforme apurado pela reportagem do Jornal Midiamax, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) teria solicitado mais provas. Então, o procedimento foi reaberto no dia 3 de julho deste ano “para cumprimento de novas diligências policiais, as quais estão em andamento”, confirma a DGPC em nota.

À época, o secretário de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antônio Carlos Videira, disse que Adriano iria ser investigado por abuso de poder. Ele explicou que seriam duas investigações paralelas: uma administrativa por se tratar de agente da segurança pública e uma pela Polícia Judiciária.

No entanto, um PAD, que é o meio usado pelo poder público para apurar possíveis atos ilícitos cometidos pelos funcionários, quando é apurado possível desvio na conduta dos servidores, sequer foi aberto.

À reportagem do Jornal Midiamax, Adriano Garcia disse que é “inocente” e que “a Corregedoria provou isso”.

Sem PAD

Conforme publicado pelo Jornal Midiamax, já a delegada Daniela Kades foi punida nesta terça-feira (25) após responder PAD (Procedimento Administrativo Disciplinar) aberto cerca de três meses antes do processo de Adriano.

Dessa forma, a punição contra Kades ocorreu 1 ano e 8 meses após a abertura do procedimento, em dezembro de 2021. A decisão de suspensão da delegada aconteceu dois dias depois dos réus da Omertà serem condenados pela morte de Matheus Coutinho, em abril de 2019. Ainda assim, a decisão teria sido postergada para depois do julgamento, já que a delegada estava entre as testemunhas que iriam depor ao júri.

Pneu do carro de jovem foi estourado por tiros disparados por Adriano (Arquivo, Jornal Midiamax)

A reportagem acionou o MPMS para explicar os motivos pelos quais rejeitou o relatório da Corregedoria e quais diligências solicitou para que a apuração contra Adriano possa ser avaliada. No entanto, não obteve retorno até esta publicação. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

Briga no trânsito foi estopim para exoneração

O anúncio da saída de Adriano Garcia do cargo ocorreu dois dias após o ocorrido e, no dia 22 de fevereiro daquele ano, saiu a publicação da exoneração, que ocorreu após uma série de escândalos em que o ex-DG se envolveu.

A briga no trânsito foi o estopim, mas Adriano estava no centro de polêmica envolvendo a corporação no contexto da operação Deu Zebra, que investigava atuação dos donos do jogo do bicho em Campo Grande.

Na época, o Jornal Midiamax mostrou que delegados estavam ‘estranhando’ as ações do chefe, apontando que as decisões de Adriano estariam ligadas à suposta tentativa de interferir na briga pelo controle da contravenção em Campo Grande. O ex-DG disse na época que tais alegações eram ‘absurdas’.

O caso resultou em denúncias ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e pedido de afastamento do delegado-geral.

Ainda, em uma das reuniões sobre a operação, discussão com a delegada Daniela Kades gerou o PAD que a puniu esta semana, por insubordinação. Isso porque a delegada não repassou informações ao seu superior, que teria cobrado nomes de quem seriam as pessoas responsáveis pelo jogo do bicho.

Após deixar a DGPC, Adriano foi removido ex-officio – decisão unilateral por parte da administração pública – para atuar no CIOPS (Centro Integrado de Operações de Segurança), onde permanece até hoje.

Abordagem em viatura descaracterizada e tiros

Consta em boletim de ocorrência que que Adriano buzinou após ser ‘fechado’ e que a motorista, uma jovem de 24 anos, teria ‘mostrado o dedo’ após levar a buzinada. O histórico afirma que o delegado atirou duas vezes depois que ela já tinha parado o carro, e um dos disparos quando ela tentou fugir.

Movimentação policial após briga de trânsito envolvendo ex-DGPC (Arquivo, Jornal Midiamax)

Segundo a versão da Polícia Civil, Adriano teria atirado porque achou que a jovem, mesmo com o carro trancado pelo carro dele, estaria “virando o volante para o lado dele e engatando ré”. No entanto, pouco antes, ele mesmo diz que não sabia quantas pessoas poderiam estar no carro porque tinha insulfilm, ou seja, contraditoriamente, diz que não seria possível ver o interior do veículo.

Durante o atendimento da ocorrência dos disparos feitos pelo delegado-geral, os policiais que atenderam à ocorrência do chefe recolheram a memória de uma câmera que ela tinha no para-brisa do carro, e o celular da jovem.

A motorista garante que, nas filmagens, poderia provar que o delegado-geral a perseguiu sem se identificar logo após se irritar em uma desinteligência de trânsito. “Simplesmente mostrei o dedo para ele porque meu carro afogou e ele buzinou. Eu não tenho bola de cristal para saber que ele é delegado”, disse a jovem.

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