Quadrilha alvo do Gaeco que tinha CAC como líder planejava decapitar mulher em Campo Grande
Mulher estaria atrapalhando ‘negócios’ da organização, segundo denúncia do MPMS
Thatiana Melo –
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Um dos membros da organização criminosa, que foi alvo do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), no dia 8 de março, em Campo Grande, durante a deflagração da Operação Traquetos, planejava matar uma mulher decapitada na Capital, segundo denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). A quadrilha tinha como líder um CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador).
A descoberta veio quando o Gaeco conseguiu as interceptações telefônicas de um dos membros apontado como o armazenador da droga em Campo Grande, que depois seria responsável por distribuí-la para outros estados. Em conversas com outra mulher, o membro da organização fala em decapitar a vítima que estava atrapalhando os ‘negócios’.
“Deixa eu falar um negócio para você, eu precisava, eu vou ter que fazer um serviço com uma menina ali cara, não aguento mais cara, vamos dar um jeito de cortar a cabeça dela enterrar, fazer qualquer coisa”, diz o membro da quadrilha. E nisto a mulher, comparsa do autor responde, “Demoro nós fecha ela, demoro, demoro nós cavucar ela, nós já leva umas viciada junto com nós, já pega ela, sonda ela, extrapola a hora certa que ela chegar, os passo dela tudo certinho nós pega ela, nós não marca não, tá ligado, vamos pegar ela, tá tirando você, tá tirando eu”, dizia a mensagem.
O membro da quadrilha fala que se ela não quiser participar, ele faz o serviço sozinho. “Se não tiver ninguém para fazer o serviço eu mesmo faço, entendeu? Só que eu preciso de uma mulher só, umas duas mulher que segure o resto é comigo mesmo, entendeu?” Depois ele ainda diz: “Então nós vai no meu carro mesmo, passa ali pega as meninas ali e já era, entendeu, eu tenho o FERRO aqui”.
Em outras conversas interceptadas pelo Gaeco, o membro da organização conversa com uma pessoa identificada como ‘Chopp PCC’. Os dois falam sobre a cocaína que seria comercializada. “Estou com o melhor pó do mundo, tem 200g viado, melhor pó do mundo, chega parece que tem caco de vidro, se alguém quiser, estou vendendo 250 a caixa, se pegar 50g, eu faço até 240”, diz o membro do PCC ao integrante da organização criminosa.
Além do tráfico de drogas que era feito pela quadrilha, como também de pedras preciosas e ouro, os integrantes também faziam a travessia de carros clonados de Goiás. “Você está com 600 aonde? Aqui? Eu tenho uns mano lá do GOIÁS que desce, mas tem que ser material, os cara trás uns carro clonado ali entendeu? Cem por cento, vidro, chassi, tudo bonitinho mano, eu tenho ali os corre, entendeu? Aí dá para nós fazer algum jogo”.
Havia planos da quadrilha de enviar para Goiás cerca de 50 quilos de maconha que seria comercializada para um cliente da cidade pelo valor de R$ 50 mil. “Vamos subir uma fita lá para Quirinópolis lá, eu mesmo vou dirigindo, se você quiser colocar um gurizinho seu, para acompanhar, para ver que o bagulho, chegar lá em Quirinópolis vender para aquele cliente meu lá, entendeu? Uns 50 kg para nós fazer uns R$ 50.000,00, ali e nós se resolve”, dizia a mensagem interceptada pelo Gaeco.
O membro apontado como responsável por guardar a droga em Campo Grande entrou com pedido de liberdade, e a defesa ainda pediu por medidas cautelares, mas o pedido foi negado no dia 8 de maio.
931 mensagens trocadas pela organização apontada como sofisticada
Durante as investigações e interceptações telefônicas, foi descoberta a troca de 931 mensagens entre um dos líderes e outro membro. As mensagens foram trocadas em um espaço de tempo de 15 dias, onde os dois discutiam a retirada de 200 peças de maconha de uma garagem, que era usada por eles como ‘guarda-roupa’- termo usado para local onde se escondem drogas.
“Já! Já retirou velho, eu já paguei tudo lá já, ai o GURI cobrou SETE CONTO, SETE PEÇA lá pra retirar e guardar lá, tem que ter DUZENTAS E DUAS PEÇAS lá certinho, ele já conferiu já, só falta o *** ligar o telefone e entrar em contato que o GURI lá vai buscar, eu já passei o telefone pro GURI só que chega aqui, chega lá ele não responde”, dizia uma das mensagens interceptadas pelo Gaeco.
Em outra mensagem é possível ver a preocupação dos membros da organização e relação à polícia que sempre estava na região. “Uma semana que é pra pegar o BAGULHO lá e ninguém pega mano, porra cara eu tô, é foda mano aqui toda hora tá POLÍCIA entrando aqui entendeu? Tá lotado aqui não dá pra ficar com o telefone em cima não.”
Segundo as investigações, as mensagens foram trocadas entre 8 e 23 de junho, sendo um total de 931. Outra preocupação da organização era a necessidade de se encontrar outro lugar para armazenar a droga.
Pedras preciosas e ouro
O Gaeco em acesso às conversas do alvo descobriu que não só armas e drogas eram traficadas pelos membros, mas também pedras preciosas como diamantes, safiras e rubis, além de barras de ouro. Em uma das conversas, o líder fala sobre barras de ouro que estava transportando escondidas dentro dos sapatos. “O problema é essas BARRAS DE OURO que está dois no pé do *** e um no meu pé machucando”.
Em outro diálogo, os membros da organização criminosa conversam sobre a avaliação de pedras preciosas. “Ninguém sabe se é Diamante, se é Safira, se é, eu vou levar pra avaliar aí pra ver”.
O diálogo continua e o líder da organização fala na venda da pedra preciosa. “É mais vai que é uma pedra de Diamante, risos, aí nóis (sic) vai ter que vender porque não tem como andar com uma pedra de diamante deste tamanho né, mas deve de ser alguma pedra de um RUBI, uma SAFIRA alguma coisa”. Os diálogos aconteceram em abril de 2021.
Operação Traquetos
O Gaeco deflagrou a Operação Traquetos para cumprir 18 mandados de prisão preventiva e 26 de mandados de busca e apreensão. Alvos são traficantes do Estado que levavam drogas de Bela Vista e Ponta Porã para a Bahia, Goiás e São Paulo.
Ainda segundo o órgão, a organização criminosa tinha uma grande rede de batedores. Também havia pontos de apoio nas cidades de Campo Grande, Anastácio e Aquidauana, com o intuito de escoar a droga.
Os mandados foram cumpridos em Anastásio, Campo Grande, Corumbá e Coxim. Também conforme o Gaeco, o trabalho investigativo durou cerca de 17 meses, tendo iniciado em agosto de 2021.
Assim, resultou em uma série de prisões em flagrante por tráfico de drogas, como ainda identificou a estrutura da organização criminosa.
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