Os policiais civis, Valdenei Peromalle e Jonatas Pontes Gusmão, presos durante a deflagração da Operação Codicia, pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), no dia 25 de abril de 2022, foram condenados pelo recebimento de propinas e absolvidos dos outros crimes em que foram apontados como participantes.

A condenação foi publicada nesta segunda-feira (24), no Diário da Justiça, que os condenou pelo crime previsto no artigo 316, que fala sobre concussão: “Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa”.

Valdenei Peromalle foi condenado a 2 anos de reclusão e pagamento de multa de 10 dias, em regime aberto, já Jonatas Gusmão também foi condenado a 2 anos de reclusão em regime aberto pelo mesmo crime.

Já nos outros crimes, a que foram apontados como participantes, os dois, assim como os outros presos na época, foram absolvidos. Audiências para oitivas de testemunhas foram marcadas para os dias 17 de maio, 7 de junho e 16 de junho deste ano.

Investigações do Gaeco descobriram que os policiais chegaram a receber em dois meses mais de R$ 47 mil em propinas. Os dois policiais receberam propina para liberar um caminhão de um casal que havia sido roubado e depois recuperado por policiais rodoviários federais.

‘Bônus de locadoras’

Valdinei havia armado um esquema junto com o escrivão Jonatas Pontes, que também era do controle de apreensão na mesma delegacia. O investigador aposentado chegou a entrar em contato com um procurador de locadoras de automóveis para dizer que as restituições de carros eram feitas a partir de recebimento de ‘bônus’ a ser ofertado aos policiais.

Em um primeiro momento, o procurador das locadoras afirmou que não era costume fazer este tipo de negociata, mas depois acabou aceitando fazer o pagamento aos policiais que ajudassem nas restituições de veículos das empresas. 

Em dois meses, de 20 de junho de 2018 a 27 de agosto de 2018, os policiais receberam o valor de R$ 47.665. Entre os meses de julho de 2017 a agosto de 2018, os investigados também receberam R$ 17.650 de uma empresa de assessoria, nas restituições de veículos recuperados. 

Nas interceptações telefônicas feitas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), foi percebido que os policiais usavam códigos para tratar sobre os ‘bônus’ recebidos pelas empresas. Após os recebimentos, Valdinei — sempre no dia posterior — fazia a distribuição do dinheiro para os participantes do esquema, que também incluía Adriana Jarcem da Silva, que trabalhava na 1ª Delegacia de Polícia Civil.

Interceptação telefônica

Segundo o relatório do Gaeco, em uma das conversas entre dois policiais presos na operação, um deles fala que Patrick Linares havia dito que não queria mais saber de se envolver em bronca, já que havia sido aprovado em um novo concurso público.

Ainda durante as investigações, foram identificados pelo Gaeco vários depósitos em espécie, que foram feitos na conta do delegado e de sua esposa: entre os anos de 2017 e 2019, foram feitos 18 depósitos, totalizando R$ 17.060, na conta bancária do delegado.

Já na conta da esposa do delegado, foram descobertos 190 depósitos que totalizaram o valor de R$ 214.597, com algum tipo de identificação — outros 86 créditos no valor total de R$ 89.980 não tinham identificação ou estavam precários.

Foram esses depósitos que chamaram atenção durante as investigações. Além disso, a esposa do delegado, que também é funcionária pública, não teria declarado outra atividade remunerada perante a Receita Federal, conforme foi mencionado pelo Ministério Público.

Ainda segundo o relatório, foram identificados indícios de que o recebimento das quantias pelos investigados sinalizavam o recebimento de valores de forma irregular, já que — como agentes públicos — a única fonte de renda conhecida viria do Estado, não se justificando o depósito de tantos valores sem origem aparente. O Gaeco ainda aponta que a conta bancária da esposa do delegado poderia estar sendo usada como ‘laranja’ no recebimento de propinas.