O que aconteceu no trajeto da casa da mãe de Sophia Ocampo, morta aos 2 anos, até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Coronel Antonino? O motorista de aplicativo que socorreu a menina falou em depoimento detalhado sobre o dia em que socorreu a criança. Sthepanie de Jesus, disse que a filha estava viva dentro do carro de aplicativo. A criança morreu em janeiro deste ano.

Segundo o motorista, ele recebeu a chamada e fez a corrida para Sthepanie às 16h42. Quando estava chegando na rua, viu a mãe de Sophia na calçada, que dizia: “Moço, moço, minha filha está passando mal”. Ele disse que avisou a ela que iria fazer a volta na quadra.

O motorista ainda revelou que viu, na varanda da casa, um homem sem camisa ao lado de um sofá onde estava uma criança. O padrasto de Sophia estava calmo, segundo o motorista que ao fazer o retorno com o carro já encontrou a mãe com a criança no colo.

Sthepanie entrou no carro com o rosto da menina virado para seu corpo. Ele disse que ela falava ao celular através de mensagens enviadas, mas não sabia para quem. O motorista chegou a questionar o que havia ocorrido com a criança, e ela respondeu que Sophia tinha comido muito na noite anterior e estava passando mal e que já havia vomitado.

Em um certo momento, ela teria dito: “Fica com a mãe, fica com a mãe”. Segundo o motorista, ele, em momento nenhum, ouviu a voz de Sophia no carro ou qualquer movimento da criança que estava inerte. O homem ainda disse que a mulher não parecia abalada e não pediu para que ele dirigisse com mais rapidez para a unidade de saúde. 

O motorista ainda disse que antes de chegar à unidade de saúde, Sthepanie falou que a filha não estava mais piscando, chegando a fazer respiração boca a boca, mas não viu nenhum movimento de Sophia no carro. 

O motorista falou que não viu Sophia com olhos abertos em nenhum momento do trajeto. Ainda segundo o depoimento do motorista, ao chegar à UPA, Sthepanie desceu e já colocou Sophia na maca e ele relatou que nem cobrou a corrida dela.  

Ele revelou que ao chegar em sua casa comentou com a esposa sobre o que havia ocorrido, sendo que ficou muito abalado ao ler em jornais que a menina havia morrido. 

O depoimento do motorista contradiz o que Sthepanie contou na delegacia, onde falou que a filha estava viva dentro do carro e que chegou a morder a sua mão. As médicas que atenderam Sophia também contradisseram o relato da mulher, afirmando que a menina já estava morta há pelo menos quatro horas. 

‘Não foi acidente’

O Jornal Midiamax teve acesso com exclusividade ao depoimento do médico legista, que é enfático ao falar que uma grande força foi empregada contra Sophia, que já foi levada sem vida para a unidade de saúde, no dia 27 de janeiro. O padrasto e a mãe da menina estão presos suspeitos do crime.

A audiência teve aproximadamente 48 minutos de duração e foi comandada pelo juiz Carlos Alberto Garcete, com a presença da acusação e da defesa. Quando questionado sobre o trauma sofrido por Sophia, na medula, o médico explica o caso. “Não é uma simples queda que provocou o trauma, um simples acidente, foi usada uma força grande provocada por um adulto”, fala o médico.

Ainda segundo o médico legista, foi usada uma energia suficiente para fazer a lesão e quebrar a vértebra da coluna de Sophia. O médico também é questionado pela acusação sobre o trauma sofrido na medula que pode ter feito com que o pescoço tenha girado em 360º e poderia ter causado a morte instantânea de Sophia.

O médico relata que Sophia pode ter demorado para morrer. “Ela pode ter agonizado por horas até a morte”, fala. Ainda segundo o relato do médico legista, a criança não teria conseguido ir ao banheiro ou se alimentado sozinha com o trauma que havia sofrido. A mãe da menina no dia da morte disse em depoimento que a filha teria tomado iogurte e ido ao banheiro antes da saída delas para a unidade de saúde. 

A perita Rosângela Monteiro, que atuou no caso Nardoni, em 2008, fez uma análise para a defesa do caso Sophia, que atua para o pai da menina.

Casa periciada

O Jornal Midiamax teve acesso ao laudo pericial que analisou a casa de Sophia. Logo na entrada da residência, em específico na varanda, foi observada a bagunça com lixos, objetos espalhados pelo chão e fraldas que estavam em sacos, além de embalagens vazias de latas de cerveja, demonstrando alto consumo de álcool. Na área de serviço, foi notado que recentemente roupas haviam sido lavadas e uma toalha branca chamou a atenção da perícia, já que estava separada das outras roupas estendidas no varal.

Já dentro da casa foi possível notar a desordem. Na sala havia um colchão no chão e sobre ele uma colcha, de cor rosa, onde os peritos encontraram três manchas: uma de cor marrom e outras duas, sendo uma delas de cor avermelhada, sugerindo ser sangue.

Na outra mancha encontrada foi usada luz azulada e com auxílio de óculos de coloração amarela pode-se perceber que se tratava de sêmen. Ainda na sala, foram encontrados vários medicamentos, que iam de tratamento para dores de cabeça, anti-inflamatórios, dores de garganta e prisão de ventre. 

Também na sala foram encontrados dois tubos de lubrificante feminino, sendo um deles aberto e quase no final. Um dos tubos estava em cima de um móvel ao lado do colchão que estava no chão da sala e outro em cima de um móvel onde ficava uma CPU, que foi apreendida para passar pela perícia. 

No quarto havia brinquedos espalhados, um ventilador quebrado e a cama também estava com o estrado quebrado. Uma toalha pendurada na porta do guarda-roupa foi periciada e encontrados vestígios de sêmen. Na cozinha havia louças na pia por lavar e outras limpas, e no banheiro tinha uma banheira, de cor rosa, com água limpa em seu interior. 

Segundo a conclusão da perícia, havia objetos e vestígios remetendo à prática sexual na sala e no quarto e um alinho que destoava da desordem na sala e no quarto, além de limpeza recente no banheiro, o que sugere possível tentativa de alteração da cena na residência. 

“Não é possível concluir nesse trabalho a existência de vestígios inequívocos de morte violenta em tal residência, não se descartando o prejuízo ante a falta de preservação do local durante o período entre a prisão dos supostos autores e a chegada da equipe pericial na residência”, disse a perita em laudo.

Gaeco vai periciar celulares

Após tentativas de recuperar dados apagados dos celulares da mãe e padrasto de Sophia Ocampo, morta aos 2 anos, sem sucesso, a Justiça determinou que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) faça a perícia nos aparelhos celulares dos acusados da morte da menina.

Antes, havia sido feito o pedido para que a Polícia Federal fizesse a tentativa de recuperação de dados, já que a Polícia Civil não conseguiu fazer a recuperação. E agora ficou a cargo do Gaeco a perícia para tentar recuperar dados que foram apagados sobre a morte de Sophia, já que possuem tecnologia mais avançada para o trabalho. 

“Considerando que mencionada autoridade, inclusive, os encaminhou também à polícia científica do Estado do Paraná por conta da tecnologia mais avançada, também sem sucesso; Considerando, finalmente, que o GAECO, braço direito do Ministério Público, é órgão estadual dotado de equipamentos também de alta tecnologia: Decido com base no art. 3o do CPP e art. 378 do CPC em encaminhar ao Gaeco aludidos aparelhos para fins de tentar extrair os dados ou provas de interesse criminal no contexto deste processo”, diz o juiz Aluisio Pereira dos Santos em sua decisão.

Ainda foi criada, por meio de uma portaria, uma força-tarefa na qual quatro promotores do júri irão atuar no caso da menina Sophia. Foi marcada para o dia 28 de setembro uma audiência, onde as médicas que atenderam a menina irão prestar depoimento do caso que mudou de Vara, e agora o juiz Aluisio Pereira dos Santos está à frente do caso.