Moradores do Prosa sofrem com explosão de furtos e criam até ‘linha direta’ com a PM

Parceria com a PM ajuda a reduzir crimes em alguns bairros, enquanto outros esperam por rondas

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Com medo de invasões moradores reforçam segurança (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Com mais de 82 mil habitantes, de acordo com o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e cerca de 11 grandes bairros, a região do Prosa é a mais nobre de Campo Grande e a que apresenta maior disparidade entre classes econômicas.

Entre os bairros localizados na região estão: Santa Fé, Chácara Cachoeira, Carandá Bosque, Autonomista, Jardim Veraneio, Mata do Jacinto, Novos Estados, Jardim Noroeste, Estrela Dalva, Vila Margarida e Chácara dos Poderes.

O Jornal Midiamax publica nesta semana uma série de reportagens sobre a segurança pública nas 7 regiões urbanas de Campo Grande. Nesta terça-feira (7), você confere os detalhes da região do Prosa.

Independente da renda da população, furtos e roubos em casas e comércios são as maiores preocupações dos moradores. Outros crimes também estão presentes no dia a dia, mas não são os primeiros a serem citados pelas pessoas entrevistadas nesta reportagem.

Morador relata que criminalidade diminuiu após parceria com PM (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Parceria com a PM

Após inúmeros casos de invasões em comércios durante a madrugada, um grupo de empresários da região do Autonomista resolveu procurar o 9º BPM (Batalhão da Polícia Militar), responsável pela área do Prosa, para uma parceria.

“Minha esposa tem um comércio aqui do lado, ela encabeçou a primeira reunião com o comandante do batalhão depois que invadiram a loja dela três vezes em um curto espaço de tempo. Desde então, ela tem uma linha direta com eles, que nos recepcionaram muito bem e ouviram nossas reclamações”, disse um empresário de 48 anos.

De acordo com ele, o grupo realiza reuniões periódicas com o batalhão da PM, a última foi em outubro de 2022 e uma nova reunião deve ser realizada em breve para, juntos, analisarem o que tem funcionado ou não para combater os bandidos.

Viaturas em comércio do Bairro Autonomista durante reunião (Foto: Divulgação/9º BPM)

“Nada é 100%, mas melhorou bem a segurança e desde que começamos a parceria os casos de invasões reduziram drasticamente. E temos um grupo de WhatsApp com os comerciantes da área para trocarmos informações, ajuda bastante”, finalizou o empresário que já investiu mais de R$ 10 mil na segurança das duas lojas, dele e da esposa.

Morando há 20 anos na mesma casa, Rosa Ishikawa, de 53 anos, contou ao Jornal Midiamax que o problema de invasões é mais frequente nos comércios, mas que a parceria com o 9º BPM realmente ajudou a diminuir as ocorrências na região.

“Já presenciei muitas invasões nas lojas aqui, sempre ligava avisando os lojistas quando tinha alguma movimentação estranha, mas aqui em casa invadiram só uma vez, quando estava em reforma, muitos anos atrás. Agora faz tempo que não vejo e não fico sabendo de caso de furto aqui”, disse Rosa.

Grupo no WhatsApp é proteção em conjunto

Para a aposentada de 68 anos, que se identificou apenas como Vera, as viaturas não são tão frequentes onde mora, na Rua Jales, mas também não sente necessidade, já que vive sozinha há 4 anos e nunca teve a residência invadida.

“Temos um grupo de segurança no WhatsApp, tenho cerca, alarme e câmeras. Sei de alguns vizinhos que já tiveram a casa furtada. Comigo, graças a Deus, nunca aconteceu, mas tenho medo assim como a grande maioria”, comentou a aposentada.

Outro bairro que firmou parceria com o 9º BPM, e teve um ótimo resultado na diminuição dos crimes, é o Carandá Bosque. A ideia surgiu no grupo de WhatsApp, com os moradores cansados de terem as casas invadidas e furtadas, ou de verem os vizinhos sofrendo com a criminalidade.

Vizinhos unidos ajudam na segurança (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

“Queríamos cobrar e solicitar respostas e providências das autoridades competentes ligadas à Segurança Pública quanto às inúmeras ocorrências, quase que diárias, que vinham acontecendo nas residências. Depois do encontro, as rondas foram intensificadas em toda a região do Carandá Bosque”, conta uma das líderes do grupo de moradores.

De acordo com a moradora, o que se percebe no Carandá Bosque é o mesmo modus operandi nas ações dos bandidos, que ficavam rondando a rua para verificar a rotina das pessoas. Com grande frequência, os crimes eram cometidos por menores de idade, que arrombavam as residências enquanto os maiores de idade aguardavam os produtos dos furtos nas proximidades.

Cada um faz a sua parte

“Infelizmente alguns moradores ainda possuem a mentalidade equivocada que ‘nem adianta registrar BO porque a polícia não faz nada’, mas temos que mudar isso, já que é somente através do registro que polícia vai conhecer a realidade de cada região para melhorar a segurança em nossos bairros”, comentou a moradora.

Para ela, é importante que a polícia, no geral, avalie projetos que estão dando resultados positivos em determinadas regiões, como Carandá Bosque e Autonomista, para copiar em outras áreas da cidade e melhorar a segurança de todos os cidadãos.

“Independente de classes sociais, é cada um fazendo a sua parte. Os moradores podem fazer como nós e procurar a polícia pra uma parceria, mas os órgãos de segurança pública também precisam usar de exemplo esses casos de sucesso que temos”, finalizou.

Policiais flagraram bandidos furtando casa no Carandá (Foto: Divulgação/9º BPM)

Parceria de um lado e falta de viatura do outro

Enquanto os bairros mais nobres comemoram a parceria com a polícia e a redução de crimes, bairros considerados mais humildes reclamam da falta de viaturas nas ruas e do número de invasões em casas e comércios. É o caso da Vila Margarida e Noroeste, visitados pela reportagem.

Funcionário de uma marcenaria furtada duas vezes em menos de quatro meses, Bruno, de 25 anos, contou ao Jornal Midiamax que, para andar na Vila Margarida, é preciso coragem, esperteza e ‘cara de mal’ para assustar os bandidos.

“Meu tio é o dono e em quatro meses invadiram aqui duas vezes, o prejuízo passou de R$ 11 mil já. A segurança aqui é péssima, eu vim do Norte do país tem um ano e meio, moro aqui desde então e até hoje só vi duas viaturas da polícia pelo bairro”, reclama o rapaz.

Fechadura de marcenaria com marcas do último arrombamento (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Depois dos dois casos recentes de furto, o tio de Bruno precisou investir na segurança da marcenaria, colocando câmeras e alarme, além de reforçar as fechaduras dos portões. Enquanto isso, o idoso Alexsander, de 94 anos, usa a simpatia para evitar ser alvo dos bandidos nos 12 anos que mora e trabalha na região.

“Os ladrões aqui são pebas, tranqueiras, eles roubam pra trocar por drogas, então quando eles passam de dia eu sempre sou simpático com eles. Às vezes, passam e falam ‘tio, dá um troco pra gente’, aí eu dou um dinheiro pra eles e não mexem comigo, eles já me conhecem. Sou velho, aprendi a fazer isso, relacionar com gregos e troianos”, contou o comerciante.

Usando a renda da empresa para viver e pagar a faculdade da filha, Alexsander passa 24h na loja para garantir que ninguém vai mexer no sustento dele e da família. “É a única coisa que eu tenho, então durmo e vivo aqui. Os policiais até passam na região, mas só fazendo pose. O problema aqui é droga, tem muito traficante nas casas velhas aqui, então tem muitos usuários que invadem as casas e comércios pra furtar e pagar o dono da boca”, finalizou.

Além de ser considerado um bairro da periferia e carente, o Jardim Noroeste abriga o Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, presídio de segurança máxima da Capital, e quem vive na região acaba tendo bandidos como vizinhos. Confira outra reportagem do Midiamax que abordou uma série de problemas enfrentados pelos moradores do Noroeste.

Aos 47 anos, uma moradora, que tem medo de se identificar, afirma que o bairro é perigoso, mesmo tendo movimento de polícia por conta do presídio. “Aqui vive muita gente envolvida no crime, principalmente nas ruas pertinho da Máxima, então dá medo sim de viver aqui, mas não temos pra onde ir, então a gente se acostuma”, conta a mulher.

Terreno baldio serve como esconderijo para bandidos (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

De acordo com ela, casas vazias e terrenos sem construção são costumeiramente usados pelos criminosos como esconderijo entre uma invasão e outra. “Geralmente os furtos acontecem de dia, quando o pessoal tá trabalhando fora, né. Aqui em casa sempre tem alguém, assim o bandido vê movimento e não entra”, contou a mulher.

Já para a servidora pública Camila, de 38 anos, o bairro é tranquilo. “Eu moro bem na entrada, né, e tem muitos policiais que moram aqui na minha quadra, então ninguém mexe. Vivo aqui tem 10 anos, nunca mexeram com a gente e não penso em sair daqui, mas pra quem vive lá pra baixo é complicado mesmo”, explicou, dizendo que o problema maior acontece cerca de 10 quadras depois da Rua Vaz de Caminha, uma das principais.

Vivendo há um ano no Jardim Noroeste, a dona de casa Josiele dos Santos, de 30 anos, explica que além dos presos, no estabelecimento penal, ela também vive presa, já que que não sai de casa sozinha por medo da criminalidade. “O máximo que faço é ir bem rápido no posto de saúde quando preciso. Tento resolver as coisas quando meu marido está comigo”.

Quem mora no Jardim Noroeste afirma ter bandidos como vizinhos (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Há um mês, ela mudou para uma casa mais dentro do bairro, o que a preocupa. “A casa aqui do lado estava vazia tinha tempo, dois caras invadiram esses dias, já avisamos o dono da residência porque temos medo deles pularem aqui pra nossa casa. Temos que cuidar da gente e dos outros, então eu sempre dou uma olhada pelo portão para ver o movimento. Falta segurança aqui, mas a gente tem que se acostumar, porque bandidagem tem em qualquer lugar”.

Combate ao crime

Responsável pelo comando do 9º BPM, o tenente-coronel Maurício Pavão Flores fala orgulhoso da parceria com os moradores do Carandá Bosque e Autonomista e do resultado na diminuição dos crimes. “Foi um trabalho realizado com parceria da Guarda Civil Metropolitana e Polícia Civil, que prendeu criminosos responsáveis por vários furtos e arrombamentos”, disse.

Ele também reconhece a dificuldade de realizar esse tipo de trabalho em outras áreas da região do Prosa. “Nós precisamos de ajuda da população para saber a realidade de cada bairro, já tentamos identificar moradores com personalidade de liderança para firmarmos outras parcerias, mas nem sempre eles estão dispostos a abrir mão do tempo de descanso ou em família para participarem de reuniões, por exemplo. Mas isso também não faz com que a gente deixe de atender algum bairro”, explica.

Conforme o comandante, todos os dias há patrulhamento nos bairros do Prosa, sendo possível, inclusive, provar o serviço realizado através do sistema de rastreamento nas viaturas. Para melhorar o trabalho, é preciso que os moradores sempre registrem boletim de ocorrência quando algo acontecer, já que a polícia usa as estatísticas para realizar um melhor atendimento nos bairros.

“Na Vila Margarida, Mata do Jacinto e alguns outros bairros, por exemplo, começamos recente a ‘Operação Saturação’, como estamos chamando por enquanto, onde uma viatura fica exclusiva realizando rondas e abordando pessoas e veículos suspeitos, como trabalho de prevenção de crimes. Também temos patrulhamento de reforço com apoio do Choque e Polícia de Trânsito”, detalhou o tenente-coronel.

De acordo ele, o ponto mais complicado na Vila Margarida é um prédio abandonado que foi invadido por várias pessoas. “Tem muita gente honesta ali, trabalhadora, mas também tem muitos que traficam drogas e acabam gerando outros crimes como furtos e roubos. Estamos trabalhando para resolver esse problema, principalmente na prevenção dos crimes”, disse.

Durante toda entrevista, o tenente-coronel Maurício Pavão Flores deixa claro que as portas do 9º BPM estão abertas aos moradores dos bairros da região do Prosa. “Estamos aqui para atender a população, ouvir a comunidade, atender às demandas de cada bairro. Também recebemos as crianças que têm curiosidade em conhecer nosso trabalho, elas passam o dia aqui aprendendo sobre nossa rotina, temos muitas ações sociais, somos um batalhão comunitário e estamos à disposição”, finalizou.

Crianças da região tiveram “dia de polícia” em ação social no batalhão (Foto: Divulgação/9º BPM)

Confira as matérias da série sobre segurança nos bairros de Campo Grande

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