Guerra por jogo do bicho em Campo Grande expõe laços da contravenção na Sejusp, dizem servidores

Um major aposentado estava no ‘QG’ quando 700 máquinas foram apreendidas no Monte Castelo

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A guerra pelo controle do jogo do bicho em Campo Grande voltou a movimentar os bastidores da política e da segurança pública em Mato Grosso do Sul. Segundo denúncia de servidores, a disputa pela jogatina expõe os laços da contravenção na Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul).

Além do envolvimento direto de servidores públicos supostamente cooptados para atuar em favor do crime organizado, pressão política e até ameaças estariam por trás da mobilização dos grupos que disputam o mercado milionário do jogo do bicho campo-grandense.

Após a apreensão de 700 máquinas eletrônicas usadas pelo jogo do bicho em uma casa no Bairro Monte Castelo, a Sejusp teria se tornado foco da medição de forças entre os grupos que estavam tocando o jogo do bicho descentralizado em Campo Grande e um grupo que tem se anunciado como ‘novos donos do negócio’.

Servidores relataram ao Jornal Midiamax supostas reuniões tensas e os corredores da Sejusp foram tomados por rumores de ‘pedidos’ para ‘cuidar das investigações’.

Além da mudança da unidade policial responsável pelo caso, até o suposto afastamento ou transferência de delegados estariam entre as medidas que supostamente atenderiam a um dos lados.

Oficialmente, a Polícia Civil nega qualquer tipo de risco de influência nas investigações.

Confira a nota:

“A PCMS vai apurar os fatos de maneira técnica e jurídica como sempre fez. Estamos aguardando o expediente do GARRAS para deliberar, com base na legislação e competência de cada delegacia, a unidade policial que irá cuidar desta investigação.”

A investigação deverá ficar a cargo do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado).

Vácuo de poder após Omertà e briga entre delegados

Junto com as 700 máquinas do jogo do bicho, os policiais do Garras (Delegacia de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestros) flagraram dois colegas: um oficial e um praça da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul.

Ambos aposentados, eles foram liberados no mesmo dia do flagra e negaram qualquer envolvimento com o jogo do bicho. Não é a primeira vez que a influência do crime organizado na Sejusp provoca mal-estar entre servidores que não ‘entram no esquema’.

Desde que a Operação Omertà desarticulou o grupo que chefiava o jogo do bicho em Campo Grande, o vácuo de poder deixado pelo ‘Gato Preto’ passou a ser alvo de disputa. Operadores da jogatina passaram a tocar pequenas bancas independentes que dividiram a cidade em 5 ou 6 áreas de atuação.

Segundo a denúncia, desde que a briga começou, os episódios incluiriam ameaças veladas a servidores, pressão e represália contra delegados e reuniões com políticos interessados na briga.

Em 2021, a tensão atingiu o auge com a Operação Deu Zebra, apontada por policiais como uma forma de a Polícia Civil interferir na disputa em Campo Grande e que nunca chegou sequer perto dos verdadeiro donos do jogo do bicho.

Coletores e anotadores viraram alvo de roubos com ‘avisos e ameaças’

Um grupo ‘de fora’ de MS teria interesse em assumir e alega ter chegado a ‘negociar’ o controle. Além disso, outro grupo, do interior com vínculos na fronteira com o Paraguai, também teria reclamado o território campo-grandense.

Assim, nos últimos meses, anotadores e cobradores passaram a ser alvo de roubos nos trajetos de coleta das apostas e anotações de jogos. A reportagem teve acesso a um dos registros policiais que denunciam as abordagens de coletores.

Segundo os relatos, a suspeita é de que policiais cooptados para trabalhar para o crime organizado seriam os autores dos roubos e deixariam ‘recados’ para os donos das bancas independentes.

Quando eram roubados, os coletores eram avisados a procurarem o ‘novo dono’ ou deixar para trás a atividade.

“Eles tomaram o dinheiro e mandaram eu avisar lá que era para procurar o… você sabe… o novo aí que se anunciou como dono, se quisesse reaver a grana ou acertar para continuar trabalhando para ele”, conta um dos coletores abordados.

Um dos coletores ‘abordados’ garante que a ação do suposto policial ligado ao grupo que quer assumir a jogatina em Campo Grande teria sido registrada em vídeo. “Tinha câmeras no local e eu peguei, mas ainda estou avaliando se entrego isso na Polícia ou direto no Gaeco, porque a gente ainda não sabe pra onde a banda vai tocar”, diz.

Flagrado em depósito do jogo do bicho detido na fronteira com arma

Um homem foi preso em uma casa de festas com uma pistola durante a madrugada de quarta-feira (18), em Ponta Porã. Ele estava, na segunda-feira (16), na mesma casa onde foram apreendidas as máquinas do jogo do bicho, em Campo Grande.

No local, a PM encontrou uma mochila com um carregador de pistola Glock G17 com sete munições e atrás do fogão estava a pistola da mesma marca. Além disso, a polícia também encontrou um carregador prolongado com 12 munições.

Máquinas para modernizar jogo do bicho em Campo Grande

No depósito estourado nesta semana pela equipe do Garras, 700 máquinas e outras ainda dentro de caixas foram apreendidas. Os equipamentos seriam parte final do plano para assumir o território.

As máquinas passaram a figurar como protagonistas no lugar das antigas bancas que ficavam em calçadas de ruas da cidade, onde podia ser encontrado o apontador das apostas com facilidade para quem fazia suas apostas. 

Agora o esquema de contravenção estava mais modernizado e mais fácil de ser ‘tirado’ dos olhos da polícia. A operação de apostas e impressão de bilhetes cabia na palma da mão, já que podia ser feita até por aplicativos instalados em celulares.

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