Leonardo da Silva Gomes, de 34 anos, acusado de matar a tiros Luciano Ferreira Torres, de 33 anos, em novembro de 2021, no Jardim Nossa Senhora das Graças, em Campo Grande, foi a julgamento nesta quinta-feira (10). Luciano foi assassinado quando limpava a calçada de uma residência.

De acordo com o Ministério Público, a denúncia é que, na frente da casa do tio da vítima, houve uma discussão entre Leonardo e Luciano, quando Leonardo sacou um revólver, calibre 38, e atirou duas vezes contra Luciano, que morreu no local.

O Júri foi formado por 4 homens e 3 mulheres. A defesa é feita pela Defensoria Pública, de Ronald Calixto Nunes, e o promotor de acusação é José Arturo Iunes Bobadilha Garcia. A primeira pessoa ouvida, como informante, foi a esposa de Leonardo. Ela disse que o marido é uma pessoa muito tranquila, pai de família, com duas filhas, e trabalhador, frentista, mas que está desempregado por causa dos ‘antecedentes criminais’. A mulher falou que, após chegar do trabalho, por volta das 3h da madrugada, no dia do crime, ela e Leonardo beberam algumas cervejas e depois o marido saiu para comprar mais bebida, quando tudo aconteceu.

Hoje, um catador de materiais recicláveis foi testemunha de defesa do réu. No dia do crime, ele estava na garupa da moto de Leonardo para ajudar a trazer as cervejas e acabou testemunhando o homicídio.

De acordo com o reciclador, Luciano estava no meio da rua e começou a ofender Leonardo, dizendo que ele não ia passar com a moto e começaram a discutir. Na versão do reciclador, Luciano estaria com um ‘pedaço de pau’ e vinha para cima do Leonardo. Leonardo então teria atirado nesse momento, mas garante que não lembra de muitos detalhes porque faz tempo e que foi muito rápido. O reciclador confirmou que presenciou o crime e que houve ‘bate-boca’ quando Luciano foi para cima de Leonardo.

Arma usada no assassinato de Luciano (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Respostas do réu

Leonardo respondeu ao Promotor do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), José Arturo Iunes Bobadilha Garcia, que conhecia Luciano, mas que não tinha amizade com ele. Ainda segundo o réu, na vizinhança, a vítima era conhecida por ser ‘usuária de drogas’, alcoólatra e que causaria muitos problemas na região. Leonardo disse que saiu para comprar cerveja e ia passar na casa da sogra para chamá-la para um churrasco, que iam fazer durante a final da Libertadores da América, entre Palmeiras e Flamengo.

“A hora que eu subi a rua, o Luciano ‘tava’ no meio da rua e o tio dele na calçada. Cumprimentei ele (Luciano), mas ele ‘tava’ nervoso, ‘tava’ muito alterado. E começamos a discutir. Ele me ameaçou com uma ‘inchada’ e eu tirei a arma, dei dois tiros, Iiguei a moto e saí. Aí, no outro dia, eu vi no Midiamax que ele tinha morrido”, foi a versão de Leonardo.

A acusação continuou: “você falou, na polícia, que ao vê-lo fez brincadeira e ele (Luciano) achou ruim e ele foi com ‘pedaço de madeira’ pra cima de você. O reciclador também falou ‘pedaço de madeira’. Queria dirimir… era ‘pedaço de madeira’ ou inchada? Há uma diferença!” – ‘Era inchada. Foi muito rápido, depois do segundo tiro, liguei a moto e saí dali. Eu não tive intenção de matar’, respondeu Leonardo. 

O Juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida perguntou se ele estava alcoolizado, Leonardo respondeu que não, que ele e a esposa haviam bebido 8 latas no total e que ele estava lúcido, na versão dele. Questionado ainda pela acusação sobre onde estava a inchada, que não foi encontrada, Leonardo respondeu: “certeza que os parentes deles ali tiraram dali do local”.

Laudo dos tiros

Segundo os laudos do processo, os tiros atingiram o ombro direito e a cabeça da vítima e resíduos de pólvora apontam que os disparos foram feitos a menos de 60 centímetros, momento em que acusação pergunta ‘por que foi tão perto’? Leonardo disse que não tinha o que fazer porque Luciano estava bem próximo, que atirou para se defender e que foi a única reação no momento.

“Vou fazer outras perguntas e pedir para trazer respostas sóbrias, você está sendo julgado hoje por homicídio, responda com humildade, sem ironia. Não podia desviar dele e ir embora? Não tinha jeito de passar em outra rua?”, chamou a atenção a acusação.

“Era uma viela, eu não ia atropelar ele (Luciano)”, disse e logo em seguida pediu desculpas ao Juiz. O juiz mostrou ainda a rua Lourdes no telão, via realmente estreita, mas questionou se não havia espaço para Leonardo passar.

A acusação lembrou ainda que Leonardo já teve uma condenação por porte ilegal de arma, em 2009, e perguntou: “por que comprou uma outra arma e sem registro?” Leonardo disse que pegou o revólver como parte na negociação de um carro porque a região estava muito perigosa e, por isso, resolveu aceitar a arma para segurança dele e da família.