Em julgamento, dupla nega participação em execução de Luiz Felipe em disputa por tráfico há 2 anos
Um dos acusados disse que apenas estava no carro e o outro nega conhecimento de qualquer ação, mas confirma tráfico de drogas
Mirian Machado –
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Thiago da Silva Gomes, de 25 anos, e Fabiano Saraiva, 22, estão sendo julgados nesta quarta-feira (31) no Tribunal do Júri pelo assassinado de Luiz Felipe da Silva, 22 anos. O crime aconteceu em março de 2021, no Bairro Tijuca, em Campo Grande. A dupla nega o crime.
Ao todo, são 5 acusados pelo crime. Além dos dois, há um traficante conhecido na cidade, Marcelo Rodolfo da Silva Neves e Caio Cesar Oliveira da Silva, este último faleceu por complicações de saúde. O juiz Aluizio Pereria fracionou o julgamento, sendo que os outros dois réus serão julgados na próxima semana. Durante interrogatório no Tribunal do Júri, Thiago Gomes e Fabiano negaram o crime.
Thiago, que é citado na denúncia por ter participado da ação entregando o veículo para que fosse cometido o crime e depois ainda havia solicitado corrida por aplicativo para os executores, negou qualquer participação.
Aos jurados, o réu confessou que vendia drogas, pois havia ficado desempregado e com a pandemia a situação dificultou. Ele contou que o veículo usado no crime estava em sua posse há 4 dias, já que um usuário havia penhorado o veículo, um Fiat Uno de cor prata, em troca de drogas.
Contou que conhecia Caio há pouco tempo, mas conhecia Marcelo há mais tempo. Já os outros dois não conhecia.
“Quando fui preso achei que era por conta da droga, quando vi no papel ‘homicídio’ foi uma surpresa pra mim”, contou afirmando que não sabia do assassinato e que descobriu apenas na delegacia.
Thiago disse ainda que Caio havia aparecido pela manhã em sua residência, e depois pediu o carro para comprar cerveja e chamar umas amigas, mas sumiu. Já pela tarde voltou com a cerveja e pediu que ele solicitasse um motorista de aplicativo para ir embora porque ele não conseguia, mas não contou nada do que havia acontecido.
“Eu nunca tirei a vida de ninguém. Sou inocente, não tive nada a ver com esse homicídio”, concluiu.
Em seguida, Fabiano foi ouvido e contou que havia pego carona com Caio, sendo que o amigo disse que passaria ali para cobrar um rapaz que lhe devia. “Ele chamou a vítima, eles começaram a conversar, depois brigaram e teve troca de tiros, eu me abaixei e não vi nada”, contou.
Disse ainda que, no trajeto após o crime, chegou a questionar Caio sobre a morte, que lhe respondeu que a vítima queria matar ele também e que apenas se defendeu.
Fabiano assume apenas que escondeu a arma do crime a pedido do amigo que lhe prometeu R$ 500 para a ocultação e como estava precisando de dinheiro aceitou. A arma foi enterrada no quintal da casa onde morava com a irmã. No dia seguinte, Caio iria buscá-la com a presença de um advogado.
“Eu fiquei dentro do veículo. O Caio desceu e atirou na vítima. Não estou envolvido com ninguém”, contou.
Fabiano ainda negou que conhecesse os outros acusados.
Consta na denúncia que Marcelo apareceu na delegacia e negou os fatos. Em juízo, o traficante, que seria o mandante do crime, também negou e disse que estava preso há 3 anos por tráfico de drogas, que não conhecia nenhum dos acusados, nem sabia nada sobre o que aconteceu.
Assassinato
O crime aconteceu na Rua Antônio Meirelles Assunção, no Tijuca, na tarde do dia 31 de março de 2021. A morte teria sido encomendada por um detento, que seria o traficante, que já foi considerado ‘chefão’ do tráfico naquela região e recentemente teve pedido de liberdade negado.
Segundo a denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), os quatro homens agiram a mando do detento e, utilizando armas de fogo, atiraram contra Luiz e outras duas pessoas que também estavam na casa. Uma das outras vítimas chegou a ser atingida por um tiro de raspão.
Conforme a acusação, o traficante teria mandado matar Luiz e quem mais estivesse com ele no local, onde funcionaria uma ‘biqueira’, por motivo torpe. Isso porque o homicídio teria sido encomendado pela disputa da venda de drogas naquela região. Naquele dia, dois dos suspeitos teriam chegado ao local fingindo que comprariam drogas e repentinamente atiraram várias vezes contra as vítimas.
A investigação ainda apurou que três dos envolvidos também praticavam tráfico de drogas. Isso, porque durante a prisão equipe do Batalhão de Choque localizou aparatos para venda de entorpecente, além dos mais de 3 mil papelotes de cocaína. Além disso, foi identificado que os três ‘trabalhavam’ para o detento.
O grupo se tornou réu pelo homicídio qualificado, tráfico de drogas, associação criminosa e ocultação da arma de fogo.
Roubo e arrependimento
Luiz tinha passagem por furto e, em uma das ocasiões, no mesmo mês que morreu, chegou a se arrepender e comprou uma televisão nova para a vítima.
Segundo a polícia, foi Luiz quem cometeu furtos em fevereiro no Ramez Tebet e Nova Lima. Após ser identificado pelas equipes da 6ª Delegacia de Polícia Civil, ele se arrependeu e comprou uma televisão nova para uma das vítimas, avaliada em R$ 2 mil, parcelada em 10 vezes. Ele chegou a se apresentar na delegacia no dia 5 de março.
Mandante do crime
O detento foi preso em dezembro de 2018, após investigações da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico). Na época ele ainda chegou a ‘debochar’, dizendo que daria R$ 200 a desembargador e logo estaria na rua.
As investigações apuraram que o detento comandava o tráfico na região do Tijuca, movimentando até R$ 700 mil por mês, mantendo a família como quadrilha. A esposa era sócia no esquema e recrutava pessoal para trabalhar, além de fazer pagamentos. A irmã e a cunhada produziam e embalavam a droga. Já o pai era fiscal de vendas e ainda havia uma pessoa que lavava dinheiro da venda do entorpecente.
Integrantes da organização criminosa chegavam a trabalhar 10 horas por dia, com uma hora de descanso e recebiam R$ 900 por mês. Com a família do tráfico foram apreendidos dinheiro em reais e dólares, relógios de luxo, droga e uma pistola. O criminoso também seria dono de imóveis em Santa Catarina e no Estado que ultrapassavam R$ 5 milhões.
O ‘maior traficante do varejo’ em Campo Grande foi solto há cerca de 2 meses e com o uso de tornozeleira eletrônica.
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