Após a defesa do ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad tentar barrar a perícia do celular e a Justiça indeferir o pedido, a 3ª Vara Criminal de Campo Grande, em decisão da juíza Eucélia Moreira Cassal, restringiu a perícia no aparelho apenas a conversas com as oito mulheres citadas na investigação. Marquinhos Trad é investigado por assédio sexual. 

Na decisão, a juíza detalha que “o afastamento do sigilo dos dados do aparelho celular do investigado, deverá ser restrito às pessoas relacionadas como vítimas na ação penal”, que neste caso são as oito mulheres vítimas de assédio sexual, supostamente praticado pelo ex-prefeito. 

A juíza ainda proíbe acesso a outras conversas. “A proibição de acesso a conteúdo referente a quaisquer outros contatos”. Na decisão desta quinta-feira (16), publicada no Diário da Justiça, foi determinado que dois peritos acompanhem a realização dos trabalhos periciais no aparelho. 

“Estabeleço que o afastamento do sigilo dos dados do aparelho celular do investigado deverá recair especificamente nos aplicativos que envolvam troca de mensagens, tais como Whatsapp, Instagram, Facebook, outras redes sociais, e-mails, armazenados no celular, chips, cartão de memória e nuvem”, diz a decisão da magistrada.

A entrega do aparelho deverá ser feita à Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).

Sigilo externo

No dia 6 de fevereiro deste ano, a Justiça determinou o sigilo externo à ação penal a qual o ex-prefeito Marquinhos Trad responde por assédio sexual. Ele se tornou réu em cinco acusações. As denúncias começaram a surgir em julho de 2022.

Na decisão foi argumentado que: “Diante da manifestação defensiva, comprovando acesso a informações do processo, por terceiros e segredo de justiça já estabelecido para assegurar o direito à intimidade dos envolvidos – réus e vítimas – determino que o presente feito tramite também sob sigilo externo, no qual somente os representantes cadastros conseguem consultar os autos na íntegra”.

O pedido para o sigilo foi feito pela defesa, composta por Rejane Alves de Arruda e Andréa Flores, após vazamento de informações das investigações. Ainda será analisado o pedido de absolvição sumária feito pela defesa. 

Virou réu

Na denúncia inicial do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), constavam 7 vítimas. Então, em 16 de dezembro de 2022, a juíza Eucélia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal, recebeu a denúncia com apenas 5 vítimas. 

Em um dos casos, o MPMS entendeu que não houve fato típico e, em outro, a vítima não representou contra Marquinhos Trad. Sendo assim, o processo agora apura 5 crimes de cunho sexual.

Também se tornou réu André Luiz dos Santos, o ‘Patrola’, por denúncias de três vítimas por crimes sexuais. Agora, é aguardado que a defesa seja notificada para então apresentar as alegações, o que deve ocorrer apenas no fim de janeiro.

Conversas no WhatsApp

Durante as investigações, foram reunidas provas de que o investigado agiria, na maioria das vezes, mediante conversas com as vítimas via WhatsApp, bem como de sua rede social. O compartilhamento, portanto, poderia elucidar o caso.

A justificativa apontada no pedido também relata que Marquinhos Trad teria “estrita relação” com Victor Hugo Ribeiro Nogueira da Silva, investigado em um dos inquéritos que envolvem o ex-prefeito. Victor está preso preventivamente por coação e corrupção ativa de testemunha.

Ainda para a delegada, os atos de Victor Hugo poderiam guardar relação com o ex-prefeito, visto, ainda, que Victor Hugo chegou a exercer cargo em comissão na Prefeitura de Campo Grande, na época em que Marquinhos comandava o Executivo Municipal.

Defesa alegou armação política

Marquinhos Trad alegou, na época das denúncias, que tudo seria parte de uma ‘armação política’ para prejudicar a candidatura dele a governador de Mato Grosso do Sul após uma discussão por WhatsApp com o secretário de estado de Segurança, Carlos Videira.

Marquinhos Trad (PSD) admitiu que cometeu adultério com ao menos duas das denunciantes enquanto era prefeito de Campo Grande, mas negou os crimes sexuais. Já em 2018, uma denúncia envolvendo suposto assédio contra uma menor aprendiz da Prefeitura chegou ao conhecimento da polícia civil.

Na época, o caso acabou arquivado e a jovem, conforme apurou o Jornal Midiamax, ganhou um cargo sem concurso público no gabinete da Prefeitura de Campo Grande.