‘Primeira atitude dos funcionários foi me mandar tomar banho’, diz paciente estuprada por enfermeiro
Juiz ouve testemunhas, vítima e réu em 1ª audiência sobre estupro ocorrido no HRMS
Danielle Errobidarte, Gabriel Neves –
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Acontece nesta segunda-feira (19) a primeira audiência de instrução do caso do enfermeiro, de 52 anos, acusado de estuprar uma paciente em fevereiro de 2021 no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul). Na última sexta-feira (16), ele foi absolvido das acusações durante julgamento do Coren (Conselho Regional de Enfermagem). “A primeira atitude deles [dos funcionários do hospital] foi limpar o quarto e me mandar tomar banho”, disse a paciente.
Estão previstos de serem ouvidos a vítima e testemunhas durante a primeira audiência, que é feita a portas fechadas e começou por volta das 14h, além do réu, que está acompanhado de seu advogado. Segundo a mãe da vítima, são ouvidas dez testemunhas – sendo 7 de acusação e 3 de defesa -, todos funcionários do HR.
“Logo que aconteceu e eu pedi ajuda aos profissionais, uma ginecologista me disse que não ia dar em nada e era pra eu não denunciar porque só ia ser mais humilhada ainda”, disse a mãe da vítima.
Após a absolvição do enfermeiro no Coren, a vítima deve recorrer da decisão no Conselho Federal de Enfermagem. “O próprio auditor disse na audiência que só a palavra da vítima não bastava”, afirmou.
“O que mais me doeu foi que mulheres me atacaram lá dentro”, disse a vítima, logo após prestar depoimento.
Absolvido no Coren
“Eu confiei nele como uma pessoa que estava ali para cuidar de mim, não para se satisfazer. Estou extremamente revoltada. O Coren deu autorização para predadores sexuais, carta branca para mulheres ficarem desprotegidas”, disse a vítima de estupro do enfermeiro.
O julgamento ocorreu pela Comissão de Ética do Coren e durante todas as audiências a família da vítima pedia pelo fim do registro do agressor. “Eles alegam que não tem provas suficientes, mas eles sabem o que aconteceu, porém desde a denúncia houve uma séria de erros, como por exemplo, o hospital trocou ela de quarto e lavou o lençol, tudo isso enquanto eu estava na delegacia fazendo o registro da ocorrência. Eu tenho mensagem e prints disso tudo, mas acontece que minha filha é anônima, não é artista que iria dar ibope pra ele. Uma pessoa é presa, algemada por roubar um pacote de bolacha, que é errado também, mas por estupro não acontece nada”, reclamou revoltada a estudante de Direito Miria Motta, mãe da vítima. “Não tem câmera nem particular, quem dirá no HR que mal tem medicação”.
A mãe da vítima ainda reclama que exige apenas o que é seu direito. “A Lei é do país, então eu exijo um resposta do país. Não quero vingança, isso eu faria na calada da noite. Quero apenas justiça e que ele seja responsabilizado”, detalhou.
Mãe e filha afirmam ainda que não estão levantando falso contra pessoa inocente. “Estupro é estupro. É um absurdo. É monstruoso. Ele acabou com a vida da minha filha. Acabou com a minha vida. Tudo colabora para que seja um caso esquecido e mais uma de boca fechada, mas não vou me calar e não vou omitir tudo o que acontecer. Estou pagando por uma dor que ninguém merece ter”, diz.
Sobre o crime
A vítima foi internada no HRMS em 2 de fevereiro de 2021 com sintomas de Covid-19. Dois dias depois, na madrugada do dia 4, às 3 horas, ela foi estuprada pelo enfermeiro após reclamar de problemas para respirar.
Consta nos autos do processo que a vítima estava com dores e o enfermeiro teria arrumado o oxigênio. Depois, com um óleo, passou a massagear a mulher e a estuprou. Às 5h30, a vítima relatou o ocorrido para a mãe.
Pouco tempo depois, a mulher foi até a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) e registrou boletim de ocorrência por estupro. O hospital também foi acionado sobre o ocorrido.
Assim, no dia 6 de fevereiro, a vítima começou o tratamento psicológico, ainda no hospital. Já no dia 9 foi encaminhada ao Centro de Atendimento à Mulher e também recebeu alta hospitalar.
No dia seguinte, dia 10 de fevereiro de 2021, a vítima foi ouvida na Deam. Lá, confirmou os fatos denunciados e o caso chegou até a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Seccional de Mato Grosso do Sul. Com isso, foi solicitada providência por parte do Coren.
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