Treinados para busca e localização de pessoas desaparecidas, os cães de resgate do CBMMS (Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul) foram fundamentais para que o corpo da adolescente Vitória Caroline de Oliveira Honorato, de 15 anos, fosse encontrado no último sábado (29), em Ivinhema, a 291 quilômetros da Capital.

Laika, a cadela de resgate do 6º GBM (Grupamento de Bombeiros Militar), da Capital, indicou a casa abandonada onde Vitória foi morta por meio de um dos treinamentos que recebeu ao longo de seus 2 anos e 11 meses de vida. Junto a Mali, também de Campo Grande, elas ‘colecionam’ resgates de sucesso na corporação.

Assim como os militares, Laika e Mali trabalham por escala e se revezam para atender aos chamados de ocorrências. Os responsáveis por cada uma delas — o sargento Thiago Kaluna, o aluno sargento Medeiros e a soldado Jéssica Lopes — as levam de casa para o quartel do Parque dos Poderes, diariamente.

As buscas com cães podem ser feitas de duas maneiras. A primeira é chamada de “venteio”, busca por área, onde o cão é solto e procura pelas vítimas ou corpos — como foi o caso das vítimas do “cemitério do PCC”, onde dois corpos foram localizados em uma área de mata do Bairro Santo Eugênio em julho de 2021.

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Mali participou da missão que ocorre em São Gabriel do Oeste. (Foto: Henrique Arakaki)

O segundo método é o que localizou a adolescente Vitória Caroline, em Ivinhema. “Elas encontram pelo cheiro da pessoa. Apresentamos uma peça de roupa com o odor da vítima por cerca de 15 a 20 minutos, e ela segue o rastro da pessoa até encontrar algum vestígio”, explica o aluno sargento Medeiros, sobre a busca chamada de rastreio ou maintrailling. Nessa investigação, apenas Laika participou, após sair da missão que cumpria junto aos militares em São Gabriel do Oeste.

As buscas pela idosa desaparecida na trilha da cachoeira Los Pagos,Tânia Bonamigo, já duram 23 dias, e por isso Laika e Maila se revezam com Rescue e Cindy, do grupamento da cidade de Coxim, para tentar encontrá-la. “Agora quem está na missão de São Gabriel é a Cindy, mas nos próximos dias já devem trocar”, explica o sargento Kalunga.

Cindy está há quase 10 anos ‘na ativa’ e participou das buscas por desaparecidos em Brumaninho, em Minas Gerais, no ano de 2019, e junto a Duque — também de Coxim — ajudou a localizar alguns das centenas de corpos. A cidade foi escolhida para também ter uma equipe com cães devido ao trabalho de dois condutores — sargento Luciclei, condutor da Cindy e major Fábio do Duque, do Rescue — e por estar localizado próximo ao Pantanal, área de frequentes operações de busca.

“Já tivemos duas ocorrências simultâneas de buscas, em 2021, nas cidades de Pedro Gomes e Rio Verde. Foram três dias de buscas por duas pessoas desaparecidas, então precisamos utilizar os cães dos dois quartéis. Coincidentemente eles encontraram as vítimas no mesmo dia”, lembra Kalunga.

O treinamento é feito diariamente, e os cães com potencial de integrarem o CBM são identificados logo após o nascimento. Laika é da raça pastor holandês, enquanto Mali é da raça pastor belga malinois. Kalunga explica que primeiro é feita uma procura por cães que sejam descendentes de pais que já tenham trabalhado. “Eles acabam vindo com uma carga genética, e desde a ninhada já analisamos o comportamento. Os filhos já começam a fazer exercícios e definimos aqueles que podem ir para o trabalho. A Laika, por exemplo, veio de Santa Catarina, e a Mali de uma criadora do Canil Toca Pantaneira”, explica o sargento.

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Treinamento também é feito em área de mata do Parque dos Poderes, com simulações. (Foto: Henrique Arakaki)

Segundo os bombeiros, levá-las para casa e inseri-las na rotina faz com que se crie um vínculo maior entre cão e condutor, fundamental nas ocorrências que participam. Os treinos são feitos durante a semana, com simulação de ocorrências reais e exercícios físicos. “Quando soltamos em uma área definida para fazerem buscas, eles começam a latir e só param quando chegamos”, detalha Medeiros.

Os militares ainda lembram que Cindy e Laika participaram das buscas pelo corpo de Graziela Rubiano, de 36 anos, que nunca foi encontrado. Contudo, as duas indicaram a presença de sangue na residência do marido de Graziela, Rômulo Rodrigues Dias, acusado do feminicídio. A indicação dos vestígios foi fundamental para que as equipes da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios) fizessem exame de luminol e identificassem indícios de autoria de Rômulo.

Laika e Mali também participaram das buscas pelos corpos das vítimas do ‘serial killer’, o pedreiro Cleber Souza — em julgamento nesta terça-feira (1) — quando as sete vítimas foram desenterradas de terrenos pela Capital.