Policiais presos em operação do Gaeco pediram ‘agrado’ de R$ 20 mil para devolver caminhão roubado
Pediam propina alegando que era para ‘agradar’ o delegado
Thatiana Melo –
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Os quatro policiais civis presos nessa segunda-feira (25) na deflagração da operação Codicia — que significa ganância — exigiam propinas alegando ser para o delegado de polícia da 2ª Delegacia da cidade. Eles chegaram a pedir R$ 20 mil para devolver um caminhão para as vítimas de roubo.
Uma policial aposentada de 59 anos estava entre os alvos da operação. As investigações começaram em 2021. Em depoimento, as vítimas dos policiais contaram que, no dia 5 de abril de 2021, o caminhão Scania em que estava acoplada a carreta foi roubado de Queimados, no Rio de Janeiro.
Já no dia 6 de abril, equipes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em fiscalização em Ponta Porã encontraram e recuperaram o veículo entrando em contato com as vítimas para comunicar o fato. O casal, então, foi até Ponta Porã.
No trajeto, segundo o relatório do Ministério Público, pararam em posto policial no estado do Paraná e foram orientados a procurarem em Ponta Porã a policial aposentada, alvo da operação, que iria ajudar na restituição do caminhão.
As vítimas, então, entraram em contato com a policial pelo WhatsApp, e ela indicou que fossem até a 2ª Delegacia de polícia e procurassem o escrivão também alvo da operação. Já na delegacia, no dia 8 de abril, o casal foi recepcionado por outro policial e, posteriormente, o segundo alvo da operação passou a atendê-los, como também o investigador de polícia aposentado.
Pedido de ‘agrado’
Segundo as vítimas, o escrivão na presença do investigador aposentado comunicou que a carreta seria liberada apenas por meio de um ‘agrado’ para o delegado. Com isso, o casal informou que tinha apenas R$ 300 disponíveis, já que teria gasto com a viagem. À declaração, o escrivão reagiu com desdém e disse que com tal valor não levariam nem as chaves do caminhão.
Então, o escrivão saiu da sala e disse que iria conversar com o delegado. Ao retornar, afirmou que o veículo somente seria restituído mediante o pagamento de R$ 20 mil. Assustadas, as vítimas contaram que tinham naquele momento R$ 4 mil, que seriam usados para as despesas da viagem e para a aquisição de alguns itens do trator/carreta, necessários para o deslocamento.
O escrivão achou a quantia baixa, e com isso, a vítima informou que somente lhe restava na conta R$ 1 mil, quando foi orientada a fazer um Pix do montante na conta dele e deixar o restante do dinheiro em cima da mesa, o que foi atendido.
Segundo as vítimas, enquanto aguardavam o encaminhamento dos documentos necessários à liberação do veículo, passaram a observar que outros servidores desfilavam na delegacia conduzindo caixas de cerveja, carnes e utensílios para realização de churrasco, para dentro das repartições levando-as a crer que haviam utilizado parte do dinheiro deixado sobre a mesa do escrivão para adquirirem aqueles produtos e que ali realizariam uma festa.
Ameaça
Após as vítimas terem retornado para sua cidade, receberam do escrivão por WhatsApp uma imagem com os dizeres: “Qualquer pessoa que nunca cometeu um erro, nunca tentou nada de novo”. A mensagem foi interpretada como uma ameaça com o fim de manterem o silêncio sobre os fatos.
Operação contra policiais civis
A operação realizada nesta segunda-feira cumpriu mandados contra policiais aposentados e da ativa, que agiam criminosamente na região de Ponta Porã. As investigações tiveram início em maio de 2021, quando agentes teriam recebido vantagem indevida por meio de Pix, para devolverem um caminhão apreendido ao proprietário.
Além disso, um escrivão é acusado de retirar do depósito da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Ponta Porã drogas apreendidas. Ele repassava para os comparsas, que então revendiam o entorpecente. Não foi relatada a quantidade de droga ou valores obtidos pela organização criminosa.
Conforme o Gaeco, foram cumpridos 8 mandados de prisão preventiva, um de prisão temporária, além de um mandado de medida cautelar alternativa à prisão e 16 mandados de busca e apreensão. Batalhão de Choque e Corregedoria da Polícia Civil também atuaram na ação.
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