Após a noite dessa quarta-feira (16) em que o Chefe da Polícia Civil do Estado, Adriano Garcia Geraldo, se envolveu em mais um escândalo depois de atirar contra o carro de uma jovem, acontece mais uma oitiva sobre o PAD (Processo Administrativo Disciplinar) instaurado contra a delegada Daniela Kades. Isso porque em reunião com vários delegados, Kades disse para Adriano que não confia na polícia, quando ele pediu para ela revelar dados das operações deflagradas pela Omertà.

A Corregedoria ouve nesta quinta-feira (17) delegado titular da Homicídios, Carlos Delano, que já fez parte da Força-Tarefa da Omertà, durante as várias deflagrações de fases da operação que acabou na prisão de mais de 20 pessoas, entre elas, o que acabou morrendo em 2020, preso em uma cela do Presídio Federal de Mossoró. Jamil Name Filho ainda continua preso em Mossoró.

No dia 3 de dezembro de 2020, Adriano Geraldo Garcia foi ouvido em um depoimento que durou pelo menos 2 horas. Além do delegado-geral, os advogados de defesa da delegada Daniela Kades também foram ouvidos. 

Briga que acabou em PAD

Daniela Kades responde ao PAD após não ter repassado informações ao delegado-geral Adriano Garcia, que teria cobrado da colega nomes de quem seriam as pessoas responsáveis pelo jogo do bicho atualmente. “Falei que eu sabia algumas, mas não de maneira enfática. Até mesmo porque se eu soubesse materialmente eu tinha obrigação de prender essas pessoas”, disse Kades.

“Eu sabia de maneira informal, até porque não é mais a força-tarefa que investiga o jogo do bicho. Então disse que não falaria”, pontuou. Neste momento, o delegado-geral teria determinado que ela falasse. “É uma prerrogativa do delegado, ainda tem investigação em andamento, inquérito. É uma garantia do delegado, então disse que não falaria. Naquele momento acabei sendo infeliz na colocação que não acreditava na polícia”, explicou Daniela.

Para punir Kades o chefe da Polícia Civil de MS recorreu a um processo administrativo. Nele, Adriano diz que ao responder rispidamente Daniela transgrediu o artigo 155 da Lei Complementar nº 114/2005 que define, entre outras posturas, ‘observar o princípio da hierarquia funcional'.

Briga de trânsito x tiros

Na noite de quarta (16), Adriano fez disparos contra o carro de uma jovem de 24 anos, após uma briga de trânsito, na Avenida Mato Grosso, em Campo Grande, onde fez três disparos contra os pneus do carro dela. 

No B.O redigido por um subalterno de Adriano, a versão registrada admite que tudo começou devido a uma briga de trânsito. Na versão da ocorrência, foi confirmado que Adriano buzinou após ser ‘fechado' e que a motorista de 24 anos teria ‘mostrado o dedo' após levar a buzinada. O histórico afirma que o delegado atirou por duas vezes depois que ela já tinha parado o carro, e um dos disparos quando ela tentou fugir.

Segundo a versão da Polícia Civil, o delegado-geral teria atirado porque achou que a jovem, mesmo com o carro trancado pelo carro dele, estaria “virando o volante para o lado dele e engatando ré”. No entanto, pouco antes, ele mesmo diz que não sabia quantas pessoas poderiam estar no carro porque tinha Insulfilm, ou seja, contraditoriamente, diz que não seria possível ver o interior do veículo.

Durante o atendimento da ocorrência dos disparos feitos pelo delegado-geral,  os policiais que atenderam a ocorrência do chefe recolheram a memória de uma câmera que ela tinha no para-brisa do carro, e o celular da jovem. A motorista garante que, nas filmagens, poderia provar que o delegado-geral a perseguiu sem se identificar logo após se irritar em uma desinteligência de trânsito. “Simplesmente mostrei o dedo para ele porque meu carro afogou e ele buzinou. Eu não tenho bola de cristal para saber que ele é delegado”, disse a jovem.