Projeto criado por uma digital influencer de Campo Grande tem ajudado mulheres vítimas de diversos tipos de violência há cerca de dois anos. No próximo domingo (10), parte delas fará um treinamento de tiro esportivo e terá aulas de defesa pessoal com profissionais de Krav Maga, que também é aberto a mulheres que não sofreram violência, mas desejam aprender a se defender. A ideia surgiu a partir de uma, entre milhares de mulheres que já sofreram abusos, e busca dar apoio emocional, jurídico e psiquiátrico a elas.

Nurha Beatriz Rodrigues, de 34 anos, é veterinária mas encontrou no Projeto #QuemCalaNãoConsente sua vocação. A rede de apoio é formada por advogados, psicólogos e psiquiatras voluntários, além do apoio que cada uma delas dá para as outras. Com quase 13 mil seguidores no Instagram, ela usa das redes sociais para conhecer as participantes, que chegam até ela geralmente por indicação de conhecidas.

“As mulheres falam que alguma amiga indicou, ou sabe que tenho essa ação voluntária. Eu não faço divulgação porque elas preferem o anonimato. Muitas relatam que se sentem envergonhadas para irem até uma delegacia, e só querem apoio jurídico e psiquiatra”, explica.

Todos os profissionais atendem as vítimas de forma gratuita, como consultas psiquiátricas e orientação jurídica, e são encaminhadas para os serviços legais, como para a Casa da Mulher Brasileira. No próximo domingo (10), o Projeto promove um curso de tiro esportivo e aulas de defesa pessoal, também de forma gratuita e com os serviços doados por parceiros.

“Eu sou instrutora de tiro, mas não atuo. Elas me pediam muito para praticarem, mas não têm condições financeiras, inclusive porque muitas estão saindo da dependência financeira que estavam do marido, e é um esporte caro. No início era para 20 meninas, e agora já estamos com quase 60”, relata Nhura.

Entretanto, as vagas para a primeira edição já estão totalmente preenchidas. A idealizadora do Projeto pretende fazer a segunda edição, com novas inscrições. “Conseguimos um clube de tiro e as munições como voluntariado. Será um dia de defesa pessoal para essas mulheres, para que elas tenham direito de aprender a se defender. Os instrutores são os melhores de Campo Grande, policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros)”, explica.

Uma das participantes do projeto – que não terá a identidade divulgada – agradece por ter sido ajudada pelos profissionais voluntários. “É uma situação difícil que estou passando, estão me ajudando com advogado, psicólogo, psiquiatra e foi muito importante porque se eu não tivesse recebido essa ajuda, eu não sei onde estaria hoje. Graças a Nhura e aos profissionais hoje eu estou bem amparada”, relata.

Violência doméstica cresce em MS

Só neste ano de 2020 – do dia 1º de janeiro até o dia 5 de julho – foram registrados 9667 casos de violência doméstica registrados em todo Mato Grosso do Sul. Até agora, o mês com maior incidência de casos foi o de março, com 1737 registros. Julho já acumula 207 vítimas. Os dados são da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública).

As mulheres são, disparadamente, a maioria das vítimas. 8958 delas já sofreram algum tipo de violência, com autores próximos, como marido, namorado, pai ou irmão. Destas, 3395 são jovens, de 18 a 29 anos.

Já o crime de estupro acumula 760 vítimas em todo 2022, 683 do sexo feminino e 255 adolescentes, entre 12 e 17 anos. Apesar da queda de abril até junho, julho já registra mais de um caso por dia – são 7 até o dia 5.

Mato Grosso do Sul registrou aumento de 104% na média de estupros cometidos entre os cinco primeiros meses de 2021 e 2022. Ano passado foram contabilizados 298 casos entre janeiro e maio, já neste ano são 610 no mesmo período, segundo levantamento feito pelo Jornal Midiamax.

As reuniões do Projeto acontecem pelo menos uma vez ao mês, presencialmente, e são feitas em forma de roda de conversa, com a data a ser definida pelas integrantes do Projeto. O perfil da fundadora é o @nurha_beatriz.

Dados de violência doméstica em MS, em 2022, mês a mês. (Fonte: Sejusp)