O indígena da etnia Guarani-Kaiowáo e agente de saúde Cloudione Rodrigues Souza, 26 anos, foi morto em um atentado há seis anos e, outras dez pessoas inclusive um adolescente de 12 anos ficaram feridos após serem baleados. Segundo relatos do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e do Instituto Socioambiental (ISA), um grupo de cerca de 70 fazendeiros atacou os indígenas a tiros na Fazenda Yvu, vizinha à reserva Tey'i Kue, no município de , a 274 quilômetros de Campo Grande.

De acordo com relatos obtidos pelas entidades, os fazendeiros se aproximaram com caminhonetes, motocicletas e um trator e atiraram. Na época, os indígenas correram para dentro da reserva e áreas próximas.

Os feridos foram levados ao Hospital Beneficiente São Mateus. Já as vítimas em estado mais grave foram encaminhadas ao Hospital da Vida, em Dourados.

Matias Benno, missionário da regional do Cimi no Mato Grosso do Sul, contou que ataque teria sido promovido por um grupo de fazendeiros e pistoleiros. “Difícil precisar o quanto, mas eles [indígenas] falaram em cerca de 70 caminhonetes”, disse Matias.

Demarcação

“A gente foi empurrado de volta pra aldeia. Eles continuaram atrás e entraram na reserva, atacando. No meio desse ataque, o filho da nossa liderança caiu morto e as pessoas foram feridas. Estamos cercados aqui. Está tudo rodeado. Os fazendeiros estão em volta. Não podemos entrar e nem sair”, disse ao CIMI uma liderança indígena na época, ele com medo e receio preferiu não se identificar.

Os estava ocupando desde o dia 12 de junho – dois dias ante do atentado – o território chamado de Toropaso, dentro da Fazenda Yvu. Esse território, reivindicado pelos indígenas, foi identificado pela em maio do mesmo ano como , mas ainda não teve a demarcação confirmada.

Indígenas Guarani Kaiowá assassinados em MS

Levantamentos feitos por pesquisadores do ISA (Instituto Socioambiental) revelam que a etnia Guarani Kaiowá caminha para o extermínio em Mato Grosso do Sul. Os números são preocupantes e mostram que, dos 1.367 indígenas assassinados no Brasil, 39,4% foram registrados em MS. Mortes, segundo pesquisa divulgada pela ISA, estão ligadas aos conflitos agrários ocorridos durante o período de 2003 a 2019.

Esse percentual, segundo dados do ISA, representa um total de 539 indígenas mortos, durante os últimos 16 anos, uma vez que foram coletadas informações durante o período de 2003 a 2019. O que chama a atenção é que a pesquisa levou em consideração os casos registrados e divulgados.

Por outro lado, em relação aos óbitos por suicídios, dos 1.404 ocorridos no Brasil nestes mesmos anos, 894 aconteceram em Mato Grosso do Sul. Entre as causas desse tipo de morte, segundo estudos do Cimi, estão a situação de miséria, a perseguição e os despejos motivados por pedidos de reintegração de posse de terras.

No mapeamento da mortalidade de membros da etnia Guarani Kaiowá, o estudo também faz referência direta à questão agrária. Nesse sentido, com base em dados do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), estima-se que cerca de 85 mil pessoas vivem nas terras indígenas do MS.

Para justificar que os problemas estão relacionados à disputa pela ocupação territorial em MS, o ISA utiliza uma afirmação da antropóloga Lucia Helena Rangel, que considera a situação dos casos de violência enfrentados pelos indígenas como dramática e também como consequência da falta de acesso aos territórios tradicionais.

“A falta de acesso aos territórios tradicionais gera a impossibilidade de vivência plena dos usos e costumes, conforme garante a Constituição Federal de 1988 e gera também números assustadores de violência física, ataques a comunidades que tentam retomar suas aldeias e um número muito alto de assassinatos”, diz Rangel.

Ainda segundo ela, em menos de um ano, entre 2015 e 2016, foram registrados 33 ataques de natureza paramilitar contra comunidades Guarani Kaiowá. “Entre 2001 e 2018 foram assassinados 14 líderes indígenas em represália às tentativas de retomar pacificamente terras já reconhecidas”, conclui a antropóloga.

Os dados analisados pelos pesquisadores Anderson de Souza Santos, Luiz Henrique Eloy Amado e Dan Pasca, evidenciam um cenário de genocídio que afeta todos os povos indígenas do Mato Grosso do Sul. No entanto, são os Guarani Kaiowá que enfrentam a situação mais dramática, por conta do confinamento da população em territórios minúsculos.