‘Sintonia dos Gravatas’: em 10 dias, advogada presa trocou 2 mil mensagens com líder do PCC

Líder do PCC tinha função de gerenciar os ‘gravatas’ para a facção criminosa

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(Foto: Leonardo de França, Midiamax)

Foram mais de 2 mil mensagens trocadas entre uma das advogadas  presas durante a operação Courrier, contra o núcleo ‘Sintonia dos Gravatas’, deflagrada no dia 25 de março, com o líder da organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), que seria o responsável por gerenciar os ‘gravatas’, em Mato Grosso do Sul. O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) ofereceu denúncia contra 8 pessoas por envolvimento no ‘Sintonia dos Gravatas’, do PCC, na última sexta-feira (8).

Do dia 6 a 16 de agosto de 2021, a advogada trocou com o líder do PCC cerca de 2.946 mensagens, entre elas, fotos e áudios. Na mesma época, com o servidor que forneceu a sua senha para um dos advogados integrantes do núcleo foram 567 mensagens. 

A advogada chegou a ser orientada para usar o ‘Signal’, já que o WhatsApp era de fácil rastreamento. Quando a advogada foi presa em seu quarto foram localizadas 10 folhas pertinentes a operações contra a facção criminosa. 

Bilhete com alvos da ‘Sintonia dos gravatas’

Em abril de 2021, foi apreendido um segundo bilhete, com nome de diversos servidores da Agepen-MS, acompanhados da frase: “cortar a árvore e colocar fogo — todos já rastreados”, mostrando ainda que foram feitos levantamentos da rotina destas pessoas, a fim de que elas também fossem alvos de atentados. Com a investigação, chegou-se à conclusão de que o preso Ed Carlos Rodrigues Dias, vulgo Heitor, seria o responsável pelo bilhete. Em seguida, houve a transferência dele para a Sistema Penitenciário Federal, o que o levou a ameaçar um juiz da 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, responsável pelo pedido de transferência. 

O Gaeco ainda apontou que, insatisfeito com a decisão do juiz, Ed Carlos pediu levantamentos dos locais onde o magistrado reside e trabalha, já que ele pretendia se vingar. Dois meses depois, em junho do mesmo ano, sabendo que um dos líderes do grupo criminoso, estava com um celular em mãos, foi solicitada uma varredura em uma cela do presídio fechado de Campo Grande.

No entanto, a vistoria do dia 1° de julho apontou que o líder regional do PCC, Edimar da Silva Santana, o Arqueiro, teria destruído o aparelho celular a fim de atrapalhar as investigações. Na mesma época, outra investigação foi iniciada, com procedimento instaurado e apurado pelo delegado Carlos Delano, da DEH (Delegacia Especializada em Repressão à Homicídios). 

A investigação aponta que, em ligação telefônica, um policial penal relatou a uma familiar que seria transferido. Ele disse que faria plantões no Presídio de Segurança Máxima.

Conforme relatado pelo Gaeco, o policial tinha uma “relação promíscua” com o advogado. Os dois se mostraram bastante íntimos nas conversas flagradas pela acusação, sendo que o advogado frequentemente acionava o agente para pedir os favores ilegais. Um dos favores atendidos seria a transferência de um preso.

Advogado usou senha de servidor

O ex-chefe de cartório da 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grade, membro do ‘sintonia dos gravatas’, passava informações privilegiadas, como decisões judiciais, manifestações e procedimentos administrativos instaurados em presídios. Foi dado acesso pelo servidor ao advogado aos sistemas Sigo e Siapen.  

Com isso, o advogado teria feito consulta ao nome de um delegado de polícia da cidade. Ele também repassou informações e transferências de líderes do PCC para o Sistema Penitenciário Federal. Ainda foram localizadas conversas no celular do ex-servidor acerca de ordens a integrantes do PCC para que promovessem o assassinato de juiz da Vara de Execuções Penais de Uberlândia/Minas Gerais, da juíza e da promotora de Justiça atuantes perante a 2ª Vara de Tóxicos de Belo Horizonte/Minas Gerais.

No celular dele também foram encontradas ordens, conhecidas como ‘salves’ do PCC, o que reforça a suspeita do seu envolvimento como infiltrado do núcleo ‘sintonia dos gravatas’ no Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul.

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