‘Agressor não aceita ser deixado’: Mariana tinha acabado de se reconciliar antes de ser assassinada

Psicóloga explica como vítimas de relacionamentos abusivos ficam ‘presas’ em seus agressores

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Sentimento de posse, como se a pessoa alvo do amor fosse um objeto, que precisa ser colocado em uma ‘caixa’ para que não seja perdido das vistas de quem afirma apenas querer o bem, querer cuidar e proteger.

O que no começo do relacionamento parece ser algo maravilhoso, afinal está sendo ‘cuidada’ com amor pelo parceiro, se torna um verdadeiro inferno na vida de milhões de mulheres Brasil afora, espancadas diariamente e assassinadas por seus companheiros.

O caso mais recente aconteceu em Anastácio, a 134 quilômetros de Campo Grande, quando Mariana de Lima Costa, de 29 anos, foi brutalmente assassinada a golpes de machadadas na cabeça pelo marido Jonas Ferreira Rocha, de 49 anos, no dia 15 de janeiro deste ano. 

A psicóloga Cláudia Malfatti falou ao Jornal Midiamax sobre relacionamentos abusivos e como as vítimas são convencidas a ficarem ao lado de seus agressores. “Normalmente, os abusos em um relacionamento nunca começam escancaradamente. Iniciam com uma falsa sensação de cuidado e proteção”, fala a psicóloga que ainda diz o agressor de maneira muito persuasiva convence a mulher que só quer o bem dela.

Com isso, ele a afasta da família, dos amigos o que acaba abalando a autoestima da mulher, e quando ela reage, se diz arrependido, querendo o perdão. “Algumas vítimas se enganam  acreditando que a relação pode melhorar”, fala Cláudia. 

Mas, quando a vítima decide romper com o ciclo de violência sofre ameaças, que muitas vezes são concretizadas. “O agressor não admite ser deixado, por achar que a mulher é objeto dele”, explica a psicóloga. 

Mariana vivia um ciclo de violência há muito tempo. A dona de casa já havia sido estuprada há muitos anos. Depois passou a viver a violência psicológica e física por parte do marido com quem tinha uma filha de 4 anos, que também estava enfrentando o mesmo ciclo de violência da mãe. Já que era agredida pelo pai para que não ficasse perto dos irmãos, de 13 e 15 anos.

Os enteados de Jonas também eram agredidos por ele, que respondia a um processo por maus-tratos contra os filhos de Mariana. Hoje, os meninos estão abrigados na rede de proteção de Anastácio.  Em julho de 2021, um dos adolescentes denunciou à polícia que estava na sala de casa brincando com o cachorro quando o padrasto o enforcou. O irmão mais velho precisou intervir. Jonas ainda teria, com um pedaço de madeira, ameaçado matar os meninos, que fugiram de casa. Para a polícia, o homem disse que não queria os enteados em casa. Mariana relatou que as agressões eram constantes, mas que não queria se separar de Jonas.

Em todo este tempo de agressões sofridas, Mariana nunca registrou um boletim de ocorrência contra o marido. Quando preso em Campo Grande, onde veio se entregar, Jonas se manteve em silêncio e nada disse sobre o porquê assassinou a esposa. Mas, segundo o delegado Gabriel Salles o ciúme excessivo seria a motivação para o feminicídio. Mariana havia acabado de se reconciliar com o marido. 

O feminicídio 

O criminoso confessou que usou um machado para assassinar a esposa, arma que foi encontrada ao lado da casa. O crime aconteceu no último sábado (15) e Jonas deixou a residência, abandonando o corpo da vítima no local. Testemunhas sentiram o forte odor e policiais arrombaram a porta da residência. O corpo de Mariana foi encontrado já em decomposição, em cima da cama.

 

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