Advogados presos por ligação com PCC buscaram nome de delegado no sistema da Sejusp

Em depoimento na Omertá, delegado citou nomes da cúpula da Polícia Civil de MS

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(Leonardo França, Midiamax)

A operação Courrier, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) no dia 25 de março deste ano, em cima do núcleo ‘Sintonias dos Gravatas’ começou com investigações após a descoberta que advogados ligados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) estariam fazendo consultas no sistema da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul), pelo nome de um delegado de polícia do Estado.

A consulta ao nome do delegado aconteceu na noite do dia 2 de julho de 2021, após ele citar nomes da alta cúpula da Polícia Civil em audiência, no dia 30 de junho, quando deu detalhes da sua retirada das investigações de homicídios investigados pela força-tarefa da Omertà. Já no dia 2 e na madrugada do dia 3 de julho, o nome do delegado foi pesquisado por três vezes. 

A consulta acabou sendo descoberta. Ela foi feita pelo advogado — que tinha uma senha fornecida por um ex-chefe de cartório — preso durante a deflagração da operação que levou para a cadeia 15 advogados que trabalhavam para a facção criminosa. Na época da consulta, o advogado chegou a dizer que havia feito a checagem para tentar encontrar o telefone do delegado, já que tinha informações para passar sobre o PCC. Ele ainda chegou a dizer que usava essas informações para sua ‘atividade profissional’.

Quando o advogado deu declarações para o delegado, que teve o nome procurado no sistema da Sejusp, passou a entregar todos os nomes de advogados ligados à facção criminosa e que prestavam serviço ao PCC no Estado.

Ainda segundo informações, o advogado teria feito a consulta a pedido de um colega de profissão que seria defensor de um dos presos, na Operação Omertà, e que faria parte do grupo de advogados que prestam serviços de mandar recados e encaminhamento de ‘salves’ do PCC. Neste grupo estariam incluídos sete advogados. O grupo dos ‘Gravatas’ administrariam as contas bancárias e o dinheiro do PCC. 

Senha do sistema da Sejusp

O ex-chefe de cartório da 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grade foi quem forneceu sua senha para o advogado preso na operação. Foi descoberto que o ex-chefe de cartório ainda passava informações privilegiadas, como decisões judiciais, manifestações e procedimentos administrativos instaurados em presídios. 

Ele também repassou informações e transferências de líderes do PCC para o Sistema Penitenciário Federal. Foram localizadas conversas no celular do ex-servidor acerca de ordens a integrantes do PCC para que promovessem o assassinato de juiz da Vara de Execuções Penais de Uberlândia/Minas Gerais, da juíza e da promotora de Justiça atuantes perante a 2ª Vara de Tóxicos de Belo Horizonte/Minas Gerais.

O ex-chefe de cartório negou que havia passado a sua senha para o advogado, chegando a dizer que, provavelmente, ele teria conseguido a senha ao ver ela anotada em um ‘post-it’ fixado em seu computador. Segundo a investigação, essa informação é nada plausível, já que as senhas são renovadas periodicamente.

Servidores ligados ao PCC

A operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) cumpriu mandados contra os advogados, um servidor do Poder Judiciário — ex-chefe de Cartório —, servidor da Defensoria Pública e também o policial penal. Outras pessoas também foram alvos em Campo Grande, Dourados, Jardim e Jaraguari.

A ação, denominada Courrier — correspondência —, cumpriu ao todo 38 mandados judiciais. Conforme o Gaeco, a operação mira o núcleo ‘Sintonia dos Gravatas’, célula em que advogados usam de suas funções para transmitir recados aos faccionados presos, daí o nome da operação.

Ainda de acordo com o Gaeco, o grupo criminoso estaria articulando atentados contra a vida de agentes públicos, entre eles promotor do Gaeco e um juiz de Direito de Campo Grande. Um advogado foi preso no condomínio Acqua Verano, na Avenida Rachid Neder. Ele é defensor de um dos suspeitos de envolvimento na morte do garagista Carlos Reis Medeiros, conhecido como ‘Alma’, que desapareceu no dia 30 de novembro de 2021.

Já na rua Sebastião Lima, na residência onde mora um casal, policiais cumpriram dois mandados, sendo um de busca e apreensão e um de prisão. Garras, Batalhão de Choque, Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e Gisp (Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário) também atuam na operação.

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