O ano de 2021 pode ser considerado nefasto, não só pelas mortes ocasionadas pelo novo coronavírus, mas também pelos recorrentes crimes bárbaros que marcaram a cobertura jornalística do Jornal Midiamax ao longo dos últimos 12 meses. Crimes que comoveram a audiência, causaram indignação e movimentaram delegacias em investigações. Não foi um ano fácil.

O caso policial de maior repercussão noticiado, que chocou a todos pela forma que a vítima foi encontrada, foi o do pastor Valdenei Lopes Souza Júnior, de 28 anos, conhecido apenas como ‘Junior'. Ele foi encontrado no dia 26 de agosto, três dias após ter ao seguir para a igreja. Junior trajava uma camisa do São Paulo e uma calça jogger de cor preta — assim foi visto pela última vez com vida.

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(Foto: Reprodução/Facebook)

Dias depois de seu desaparecimento, o pastor foi encontrado seminu por populares em um córrego localizado na Avenida Ernesto Geisel, próximo à Avenida Raquel de Queiroz. A situação não fazia sentido, pois Junior não aparentava ter inimigos ou estar envolvido em qualquer situação que justificasse a forma como morreu — segundo um familiar, Valdenei era uma pessoa boa, que não tinha problemas com ninguém. O corpo do pasto foi retirado das águas pelo , com ferimentos nas costas, que poderiam indicar, inclusive, que ele tenha sido vítima de tortura.

Quatro meses depois, a Polícia Civil tem um indicativo de quem seriam os autores da morte do pastor Júnior Lopes e o caso já é tratado como homicídio pela 5ª Delegacia de Polícia de Campo Grande.

Segundo informações do delegado Gustavo Bueno, diligências estão sendo feitas fora de Campo Grande, para identificar os autores. Até o momento, a investigação tem somente os ‘apelidos' dos suspeitos. “Estamos em busca de descobrir os nomes dos envolvidos”, afirma o delegado. Ele revelou ainda que a vítima e os autores seriam conhecidos.

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(Foto: Reprodução)

Outro caso de grande repercussão foi o de Rosinaldo Andrade Messias, de 41 anos, morto no dia 22 de novembro, após aparecer em um vídeo dando um beijo na enteada — uma criança de seis anos — em uma lancha, no Rio Paraná. Tanto o crime como o vídeo provocaram reações acirradas, que podem indicar relação entre os fatos — na ocasião da primeira reportagem, ele teria dito que seu ato seria “normal”. Nesse contexto, as investigações indicaram que haveria indícios de que a criança, em outra ocasião, tenha sido abusada pelo padrasto. Mas, segundo o delegado Eduardo Lucena, não foi comprovado estupro.

No dia do crime, a mulher de Rosinaldo contou que eles estavam em casa e o marido ao telefone. Ela teria ouvido ele ser chamado no portão e em seguida o criminoso invadiu a residência, chutou a porta e fez o disparo contra a vítima, que morreu no local. Ninguém foi visto saindo da casa após o crime. Vários populares foram até o local para queimarem a casa e o corpo de Rosinaldo. O caso segue sem indiciamento.

Motivo torpe

No dia 31 de outubro, nos Altos da Avenida Afonso Pena, em Campo Grande, o jovem Rhenan Matheus, de 19 anos, morreu atingido por disparo de arma de fogo. O rapaz foi atingido por um tiro no peito durante ‘rolê' em frente ao Parque das Nações Indígenas. Ele foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado para a Santa Casa, mas não resistiu aos ferimentos.

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As investigações apontam que o crime aconteceu após um desentendimento entre Rhennan e Diego Laerte, de 23 anos, dono da arma usada no crime. No dia do homicídio, o rapaz estava fazendo uma manobra em sua motocicleta, conhecida como “zerinho”, e teria sido atrapalhado pela vítima, que no momento teria girado com uma cadeira próximo a ele.

Após isso, o autor confesso, identificado como Jhonny Souza, de 23 anos, pegou o revólver no carro e atirou em Rhenan, que apesar de ser socorrido, acabou morrendo. Tanto Jhonny, o atirador, como Diego, proprietário da arma, foram presos. Na ocasião, a Justiça converteu os flagrantes dos envolvidos em prisão preventiva. Eles aguardam julgamento.

Requinte de crueldade

A maneira como vários dos homicídios ocorridos em Mato Grosso do Sul foram cometidos ao longo deste ano revela requinte de crueldade dos algozes, como no assassinato do casal Priscila Gonçalves Alves e Pedro Vilha Alta. Eles foram mortos carbonizados em meio a incêndio de pneus, no dia 15 de agosto deste ano. O método cruel é conhecido como “micro-ondas”, associado a membros de facções criminosas: além de causar sofrimento às vítimas, minimiza vestígios, pois destrói quase que completamente tecidos, ossos e outras pistas.

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(Foto: Reprodução/Facebook)

Os corpos foram encontrados esquartejados, sem cabeças e dispostos em sacos de lixo e espalhados pela região. As vítimas seriam usuários de drogas, e teriam desaparecido por volta das 2 horas da madrugada do dia 15 de agosto, quando saíram de casa jogando as chaves por debaixo da porta. A suspeita, porém, é de que o casal tivesse problemas com traficantes da região do Jardim Noroeste, sendo descartado, inicialmente, que ambos integrassem alguma organização criminosa. Cerca de 11 testemunhas foram levadas para a delegacia para prestarem esclarecimentos sobre o assassinato do casal.

Também impressionou o assassinato da menina Raíssa da Silva Cabreira, de 11 anos, de etnia Kaiowá. Ela foi encontrada sem vida no dia 9 de agosto, em uma pedreira desativada na Aldeia Bororó, Reserva Indígena Federal de Dourados. Após ter sido vítima de estupro, a menina foi jogada de um penhasco.

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(Foto: Divulgação)

As investigações apontam que, no dia do crime, a menina foi arrastada a força de casa por dois dos três adolescentes envolvidos. O tio, que já abusava da menina desde os 5 anos, flagrou o momento em que os quatro acusados do crime estupravam a menina. Mas, em vez de proteger a sobrinha, ele acabou participando da sessão de estupro coletivo.

O inquérito foi finalizado ainda no final de agosto e confirmou a participação de cinco pessoas no crime. Segundo o delegado Erasmo Cubas, do SIG (Setor de Investigações Gerais) de Dourados, os acusados embebedaram a criança para continuarem os abusos. Quando ela recobrou a consciência e tentou se desvencilhar dos autores, foi arrastada para a beirada da pedreira e jogada do penhasco de 20 metros. Ela ainda teve os braços quebrados quando tentava se defender. A polícia conseguiu apreender três adolescentes e ainda prendeu Lucas Pinosa, de 20 anos, e Elinho Arévalo, de 33, tio de Raíssa.

A fronteira de Brasil com o Paraguai, na divisa entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, ocorrem diversas execussões, mas uma que chamou a atenção foi a do Denis Osvaldo Servin Palacios, de 42 anos, conhecido como “Dênis Pimentinha”, que foi executado com mais de 30 tiros de fuzil .762. A vítima antes de ser morta, havia acabado de sair de uma rave que estava acontecendo no dia 30 de agosto, na cidade fronteiriça.

Segundo informações da polícia, Denis estava em uma rave e foi encontrado morto com vários tiros em todo o corpo ao lado de sua camionete Toyota Fortuner, também atingida pelos disparos. Tanto a Polícia Civil quanto a Perícia foram ao local.

No dia do crime, familiares da vítima que participavam da festa contaram que ouviram os disparos, mas que ninguém percebeu quem era o atirador, nem mesmo sabiam que o crime aconteceu. Várias munições .762 foram recolhidas no local e a Perícia constatou mais de 30 tiros contra a vítima.

O caso segue sendo investigado pela Polícia Civil de Ponta Porã, como homicídio simples.

Envolvimento com drogas

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(Foto: Vinicius Santana)

Em muitos casos, são as drogas que motivam os crimes cometidos, como no homicídio de um homem identificado como Fernando, mais conhecido como ‘Falcatrua'. Ele foi assassinado a pauladas até a morte, no bairro Taquarussu, no dia 27 de novembro, em crime que terminou com a arma cravada no crânio da vítima.

No dia do crime, o autor acabou preso após voltar para desferir mais golpes contra a vítima, que já estava sem vida. A briga que acabou em assassinato teria sido motivada por drogas, mas testemunha também disse que uma mulher seria o motivo para o homicídio. O autor segue preso.

Alarmante

Os números da (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) — disponibilizados na plataforma SIGO Estatística — acerca de homicídios dolosos, ou seja, com intenção de matar, trazem que do dia 1º de janeiro deste ano até o último dia 25, MS registrava 431 homicídios, dos quais 108 ocorreram apenas em Campo Grande. Em 2020, os indicadores traziam 435 mortes — 124 delas na Capital. A poucos dias de 2022, os números permanecem semelhantes, embora esta semana seja conhecida por crimes desse tipo.

Entre setembro e início de dezembro, porém, Mato Grosso do Sul viu o número de homicídios disparar, concentrados principalmente na Capital e na região da Fronteira. Nesse período, foram registradas 26 mortes violentas. Em um dos dias, uma única manhã de sábado, foram três ocorrências de homicídio em Campo Grande, em apenas três horas.

Números como estes revelam situações alarmantes, marcadas por serem nefastas e cruéis, e talvez indiquem que o fim desse crescimento da violência dependa muito mais da criação de políticas públicas que da ação policial. Que em 2022, números diferentes inspirem matérias mais otimistas.