Quando a prisão não garante o arrependimento: especialistas asseguram terapia para pedófilos e vítimas
Na psicologia ou na esfera criminal, consenso é que condenação longa prevista para crimes de estupro não sustentam queda no número de vítimas
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Na última terça-feira (18), um idoso de 70 anos foi preso após abusar sexualmente da neta, de apenas 5, na cidade de Coxim. Além da trágica relação de parentesco entre o autor e a vítima, o que chamou a atenção das autoridades da DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) durante a prisão é que ele já havia sido condenado a 20 anos de prisão, pelo menos crime, pelo estupro de outras 10 crianças. No mesmo dia, outras 27 pessoas foram presas por mandados cumpridos na Capital contra pedofilia, durante a Operação Araceli.
Os casos de reincidência dos autores, cada vez mais comuns, segundo a delegada Elaine Benicasa, da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), vão muito além da tipificação dos crimes de pedofilia e estupro de vulnerável. “A pedofilia é um transtorno psicológico que deve ser tratado. Mas existem pedófilos que não chegam a ter ações contra crianças, como estuprar, ‘apenas’ possuem atração”, explica.
O psicólogo e pós-graduado em neuropsicopedagogia, atuante na área de reabilitação, Caique da Silva Hoffman, explica que a OMS (Organização Mundial da Saúde) classifica a pedofilia com uma doença, sendo assim, recomendado tratamento. “O tratamento é assegurado judicialmente, nesses casos para que se consiga diminuir os índices de reincidências. A pedofilia não possui raça ou classe social, e não existe um aspecto exclusivo que possamos prever quem será esse sujeito”, afirma se referindo ao autor.
Benicasa explica que, apesar do crime de estupro de vulnerável prever pena de reclusão de oito a 15 anos – podendo agravar pela reincidência – é preciso que se faça mais do que privar a liberdade do pedófilo, contando que ele terá consciência do delito. “Não é um crime que talvez haja reinserção social simplesmente por ele ir para a cadeia, como um roubo ou furto. É difícil se não tiver um olhar para o autior, ou seja, uma terapia, um tratamento”, explica a delegada.
Hoffman completa afirmando que os pedófilos são considerados “polimorfes”, ou seja, se adaptam às vítimas e às circunstâncias, além de transmitirem uma imagem de simpatia e amor, o que contribui para que não deixem vestígios ou suspeitas. “O pedófilo tem preferências por crianças que são mais inocentes, aparentam não terem conhecimento do mundo em que vivem ou da situação em si, porque dificilmente notarão que estão sendo abusadas”, alerta.
Por isso, o psicólogo afirma que é necessária orientação dos pais e responsáveis pelo menor, que também precisam de acompanhamento emocional. “Os pais têm de que conversar diretamente com seus filhos sobre sexualidade, inclusive nomeando os órgãos sexuais e explicando que eles não podem ser tocados por outras pessoas, mesmo que sejam conhecidos ou da família”, diz.
Em alguns casos, Hoffman afirma que pode ser pedida a internação dos pedófilos, amparados pela Justiça e feita em casas de reabilitação. Segundo Benicasa, os autores precisam ser recuperados, para que um ciclo violência se encerre, e não apenas mude de endereço. “Devemos recuperá-los para a sociedade, muitas vezes podemos diminuir os índices de abusos. Tanto o pedófilo como o agressor de violência doméstica destroem uma família, saem e vão para a outra, destroem também”, conclui.
A delegada da Depca lembra que foi sancionada, em outubro de 2020, a Lei 14.069/2020, que cria o Cadastro Nacional de Pessoas Condenadas por Crime de Estupro. Denúncias podem ser feitas pelo Disque 100 e, na Capital, na Depca durante a semana e na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) aos finais de semana, com funcionamento 24h.
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