Tratado como membro da família e visto por Márcia Catarina Lugo como um ‘sobrinho', Carlos Fernandes Soares, que acabou preso por implicações no assassinato, conhecia a família há pouco mais de três meses, segundo Lígia Martins Lugo, de 83 anos, mãe da vítima. Carlos Henrique Santareno, conhecido como ‘China' também foi preso. ‘China' trabalhava para um agiota fazendo cobranças e seria ele o autor do disparo, que matou Márcia.

A idosa falou com o Jornal Midiamax e revelou que conheceu Carlos, a quem tinha como um filho, após a morte do marido por Covid-19. Lígia falou que o marido morreu em dezembro de 2019, mas só neste ano, quando se mudou para perto da filha — a uma quadra e meia da casa de Márcia —, é que conheceu Carlos, que era dono de um lava-jato nas proximidades.

Ela disse que Carlos sempre almoçava na sua casa e que, inclusive, ele que a teria levado para tomar a dose de reforço da vacina da Covid-19. Sobre a morte da filha, Lígia disse ter ouvido as versões contadas por Carlos sobre a cobrança de agiota, mas que ela não sabe o que realmente aconteceu: “Estou perdida”.

Lígia ainda relatou que o genro, marido de Márcia, ‘só chora, não come' e teria dito a ela que não sabe o porquê e nem como aconteceu a morte da esposa. A idosa, que deve se mudar do Estado, falou sobre a tristeza com a morte da filha. “Só Deus. Tem horas que falta ar de tanta tristeza”.

A idosa disse querer saber da verdade, mas que sente medo de sofrer ainda mais quando for revelada e espera que tudo seja solucionado pela polícia. “A única certeza que tenho agora é que vi minha filha morta e o enterro. Do resto não sei mais nada”, finalizou.

A família não acredita que o marido de Márcia esteja envolvido no crime. Para Henrique Golin, promotor de Justiça em Goiás e genro da vítima, a família não tem nenhuma dúvida de que o policial não teve nada a ver com o ocorrido. “Essa coisa de amante é algo pessoal dele e não tem nada a ver com isso [assassinato]. Para a família, o que nos interessa é deixar o que estão comentando por aí, porque é irrelevante. Por outro lado, temos a preocupação de que isso tire o foco da verdade”, disse Henrique.

R$ 400 para consertar tiro em SUV

Após testemunhar o assassinato da ‘tia', Márcia Lugo, Carlos foi até uma tapeçaria, na manhã de sexta-feira (8), para que o estofado fosse arrumado depois do furo provocado pelo tiro dado na testa da vítima. O tapeceiro disse à polícia que, quando começou a remover o estofado, percebeu manchas de sangue, mas continuou com o trabalho sem questionar. O carro, uma SUV, era locado. 

Imagens apagadas x senha do celular de Márcia

As imagens de câmeras de segurança do lava-jato, o qual Carlos era dono, foram deletadas do sistema pelo namorado da irmã do suspeito a pedido dele. A polícia chegou a ir atrás das imagens, mas foi informada pela irmã de Carlos, que por mensagens de ele havia pedido para que fossem deletadas.

Logo após o sumiço de Márcia, o marido dela — policial civil aposentado — foi até o lava-jato para saber do paradeiro da esposa questionando Carlos, já que o policial não conseguia acessar a localização dela pelo celular. 

Carlos, que tinha acesso às senhas do telefone de Márcia, disse que alguém teria formatado o aparelho, por isso não estaria conseguindo localizá-la. No dia do achado do corpo da vítima, a polícia não conseguiu encontrar seus documentos, carteira e celular.

Os documentos de Márcia foram localizados no dia seguinte, na lixeira do banheiro de um shopping da cidade pelo segurança do local. 

Depoimento e destruição de provas

Quando acabou preso no dia 15 deste mês, Carlos afirmou que fugiu, logo em seguida para a fronteira, depois de ser ameaçado pelo agiota se revelasse sobre o crime. 

Em depoimento, ele foi questionado sobre o veículo Chevrolet Onix prata, que fazia uso antes de ser preso. Ele informou que o carro foi deixado com um conhecido, filho da proprietária de um hotel localizado na cidade de do Norte, no Paraguai. Carlos afirmou ter deixado as chaves e documentos com o rapaz, dizendo que voltaria para pegá-lo.

Questionado sobre como se deslocou de Bela Vista à Ponta Porã, o homem afirmou que utilizou o referido carro e, ao chegar à cidade fronteiriça, foi orientado por ‘China', por meio de mensagens via WhatsApp, a se livrar do carro, pois ele estaria sendo rastreado.

Carlos informou que ligou para o conhecido que está na posse do veículo e, como o homem já estaria se deslocando para Ponta Porã, entregou o carro para ele. Dois celulares, que estavam com ele, foram apreendidos.

A polícia não descarta o envolvimento ou participação de Carlos no homicídio, uma vez que, segundo as investigações, ele era “confidente de Márcia e tinha relações muito íntimas com ela”. Além disso, somente os dois sabiam da existência do SUV locado e, ao longo das diligências policiais, será apurado como os agiotas tiveram acesso à localização deles, no dia em que Márcia foi levada.

Esposa de policial aposentado

Márcia era esposa de um investigador da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, aposentado em 2007, e desapareceu na noite do dia 7 ao entrar em um carro SUV.

O policial, que esteve no local acompanhado de outro membro da família, fez o reconhecimento. Ele não quis conversar com a imprensa, mas acompanhou as equipes da Polícia Civil e do Batalhão de Choque até a delegacia, para os procedimentos de praxe.

A vítima estava vestida, com roupas e joias — pulseiras, relógio e aliança. Conforme informações apuradas pelo Jornal Midiamax, ela tinha apenas uma entrada de tiro na testa. Ela foi possivelmente morta em outro local e o corpo foi jogado no banco de areia embaixo do córrego.

Um boletim de ocorrência, registrado na tarde da sexta-feira (8), indica o desaparecimento de Márcia na noite de quinta-feira (7), por volta das 19h, na Vila Carvalho. Conforme relato, ela teria saído da casa da mãe e uma testemunha a viu sendo seguida por um carro utilitário SUV. Ao virar a esquina, a mulher entrou no carro e não foi mais vista.