Empresária de 32 anos, moradora do Bairro Jardim Novos Estados, na Capital, teve a casa revirada para o cumprimento de mandado de prisão, expedido pela Comarca de Jardim, cidade a 239 km da Capital, na manhã desta segunda-feira (7). Policiais do GOI (Grupo de Operações e Investigações) não encontraram o alvo no local, uma vez que o réu não fazia parte da família, não morava no endereço e nem era conhecido da empresária ou de seus três filhos adolescentes, e marido.

Segundo a proprietária da casa, cerca de três policiais entraram no imóvel após arrombarem o portão. Ela mora no local com o marido e os três filhos de 11, 13 e 16 anos há seis meses. “Fomos acordados com gritos e lanternas no rosto, com eles gritando ‘levanta, levanta, acorda!’. Mandaram a gente se ajoelhar no chão, ao lado da cama, e eu falei que meus filhos estavam no quarto dormindo”. Ao chegarem na sala, a família diz ter sido questionada sobre “quem é Anízio?”, alegando que tinham provas de conta de água e luz no endereço.

Segundo ela, a família mora ali desde outubro do ano passado. Após a empresária indicar onde estavam as contas para serem verificadas, ela alega que os cômodos foram revirados. Além disso, diz terem sido questionados diversas vezes sobre endereços onde o casal morou anteriormente. A mulher alega que existem outras lojas comerciais alugadas, no mesmo terreno, mas que não têm acesso para o interior de sua residência. Contudo, explicou que não conhece os proprietários dos comércios e nem os vizinhos ao redor.

“Toda hora entrava um policial na sala, onde estávamos, e fazia as mesmas perguntas: onde morávamos, qual a profissão do meu esposo, nome completo dele e dos pais, e se ele tinha irmãos”, afirma. Segundo ela, o casal trabalha em uma microempresa do setor de papelaria, que funciona no local.

[Colocar ALT]
(Foto: Arquivo Pessoal/ Leitor Midiamax)

Em seguida, os policiais teriam chegado na sala com os celulares dela e dos filhos, pedindo para desbloqueá-los. “Ficaram mexendo no meu celular e de meu esposo, questionaram conversas que tive com minhas clientes. Pegaram o celular do meu filho mais velho e questionaram o endereço da namorada dele”, afirma.

A empresária explica que os policiais não se identificaram. “Descobri que era do GOI porque meu filho leu numa das camisetas. Eles só falavam que estavam atrás desse Anízio”.

Ainda segundo ela, uma policial pediu para que eles assinassem o mandado, e a empresária lembrou de um episódio de assalto, no qual foi vítima. “Eu tenho trauma de arma de fogo, eu e minha irmã fomos assaltadas uns anos atrás e os ladrões apontaram as armas para mim, para minha irmã e minha sobrinha”, afirma.

Ao visualizar o documento, ela percebeu que estava detalhado ser crime de tráfico de drogas. Em seguida os policiais teriam ido embora, momento em que a empresária percebeu que o portão da casa estava quebrado. “Minha casa é de aluguel, não sei nem como vou arcar com a despesa desse portão. Foi nessa hora que vi a bagunça que deixaram nos meus cômodos, principalmente no meu quarto”.

Ela relata que conversou com seu filho mais velho posteriormente, questionando como entraram no quarto em que ele dorme com os outros dois irmãos. “Os meus filhos foram acordados do mesmo jeito que eu, com lanterna na cara e arma apontada. Chutaram a cama do meu filho mais velho para ele levantar, mandaram eles virarem e colocarem a mão na cabeça, como se fossem bandidos. A gente tenta tanto explicar para eles que os policiais são para ajudar. Toda hora vem o sentimento de revolta”, afirma.

[Colocar ALT]
(Foto: Arquivo Pessoal/ Leitor Midiamax)

Segundo ela, os policiais teriam ficado na residência por cerca de 1h30. Após a saída da equipe, a empresária solicitou orientação de sua advogada, e se dirigiu até a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro. “Eu achei estranho, porque eles tinham o endereço desse tal Anízio, mas vieram bater aqui na minha casa. O que eu fiquei revoltada foi a maneira com que eles agiram e acordaram meus filhos”, desabafa.

Chegando na delegacia, ela foi orientada a ir diretamente na Corregedoria da Polícia Civil. A advogada que representa a família, Natália Lobo, afirma que foram abertos dois processos. “O primeiro é de restituição e outro para averiguar a conduta dos policiais. Ela foi orientada a ajuizar uma ação indenizatória contra o Estado”, explica.

O Jornal Midiamax entrou em contato com os órgãos responsáveis. De acordo com a assessoria da Polícia Civil, a qual o GOI pertence, “a apuração de qualquer excesso ou falta funcional será apurado pela Corregedoria. As circunstâncias, ou seja, como se deram os fatos, serão objeto da apuração”, declarou a instituição em nota.

‘Cabeça’ de quadrilha

O alvo do mandado de prisão foi cumprido a cerca de cinco quadras da casa da empresária, no mesmo bairro. O preso foi apontado como ‘cabeça’ de uma quadrilha que clonava cartões e criava restaurantes fictícios em aplicativos de entrega. A organização criminosa já atuava há pelo menos um ano e chegava a lucrar R$ 50 mil por semestre. O montante era dividido entre os ‘laranjas’.

Anízio Fernandes Menezes Filho foi preso por policiais civis, com apoio do GOI, que apreenderam celulares e eletrônicos. Ele foi encaminhado para a penitenciária da Capital. O número de restaurantes fictícios criados não foi divulgado, e nem a quantidade de cartões clonados.