No Dia Internacional da Mulher e uma semana após a morte de Maxelline Santos, 28 anos, familiares e amigos fizeram um protesto em frente a Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande, pediram Justiça e um olhar mais sensível às mulheres vítimas de violência. “Ela procurou a delegacia, fez tudo certinho, achei que ela sairia protegida daqui”, lamentou Marisa Rodrigues, mãe de Maxelline.

A jovem foi assassinada no dia 29 de fevereiro, pelo ex-namorado, que não aceitava o fim do relacionamento. O guarda municipal Valtenir Pereira da Silva, 35 anos, foi preso na última sexta-feira (6), contou sobre o dia do crime e afirmou que não tinha a intenção de matar Maxelline.

Uma vida tirada de forma cruel, que aumenta os números de casos de feminicídio em Mato Grosso do Sul e revolta a população. Seis mulheres já foram mortas pelos seus ex ou atuais companheiros no estado em apenas dois meses de 2020.

Familiares de jovem morta por guarda municipal pedem justiça e fim da violência contra mulheres
Mãe de Maxelline falou sobre caso. Imagem: Dândara Genelhú.

Neste domingo (8), além de um protesto em frente a Casa da Mulher Brasileira, familiares e amigos de Maxelline fazem uma passeata no mirante do Aeroporto Internacional de Campo Grande.

“É um protesto de alerta para o número de feminicídios no estado e também pedimos Justiça para Maxelline e Steferson”, afirmou Vitor Areco, 27 anos, professor e amigo da jovem assassinada. Steferson Batista de Souza também foi baleado por Valtenir no dia dos fatos. Ele foi socorrido, mas não resistiu ao ferimento e morreu.

Vitor conta que áudios comprovam que Maxelline não queria reatar o relacionamento com Valtenir. “Ela tinha medo dele, chegou a mudar alguns hábitos depois que terminaram, como não andar de moto sozinha e também sempre estava na casa de amigos para não ficar em casa sozinha”, revela Vitor.

O relacionamento conturbado e a decisão de denunciar a perseguição de Valtenir foram contados por Marisa, mãe de Maxelline. Ela descreveu à reportagem que a filha, sua maior companheira, apesar de ter outros dois filhos homens, queria liberdade. “Ele queria morar com ela, mas ela não queria. Ela falou que não ficaria com uma pessoa por dó”, lembra.

Marisa diz que a filha descobriu que Valtenir tinha cinco filhos e não pagava as pensões. “Ficava pedindo ajuda dela para pagar e ela me disse, como vou ficar com um homem que tem filhos, não quer crescer e ainda vou ter que sustentar do nada cinco se eu não tenho nenhum”, lembra a mãe.

Agressão

Um tapa perdoado foi o começo de um relacionamento conturbado e perigoso. “Depois que ele deu um tapa, ela deu outra chance, mas depois em todas as brigas ele pressionava ela contra a parede”, afirma Marisa. Quinze dias antes ao assassinato, Valtenir teria entrado na casa de Maxelline. “Ela já estava de pijama e ele entrou na casa com uma arma. “Nesse dia ela ficou bem assustada. Então esperou um tempo, ele se escondeu em um mato, ela achou que tinha ido embora e foi na casa da mulher para denunciar”, conta.

Marisa diz que a filha ficou até 3h da madrugada na delegacia. “Eu achava que daqui ela sairia protegida, com alguém de escolta, mas na verdade, ela só saiu daqui com papéis”, lamenta a mãe.

Dia do crime

No dia do crime, Maxelline avisou a mãe que ia na casa da amiga. Elas se falaram no início da noite, por volta das 19h. “Ela disse onde estava, lembro que ainda falei para olhar bem quando chegasse em casa, mas ela me disse que ele já tinha desistido. Depois disso eu só acordei 1h da madrugada com a notícia da morte dela”.

Emocionada, Marisa pede um olhar mais sensível às mulheres que sofrem violência. “Existe toda uma publicidade para as mulheres fazerem a denúncia e mesmo assim ela está morta. Ele já tinha um boletim de ocorrência, porque na delegacia não passaram os antecedentes dele? Quando ela mais precisou da lei, a lei não serviu para ela”, desabafa.

“Hoje não tenho o que comemorar. Estou aqui para que outras ‘Maxellines’ não se vão também, que a lei funcione, porque para a minha filha não funcionou”.