Na manhã desta terça-feira (23), foi publicado oficialmente o afastamento do delegado Márcio Shiro Obara, então titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil, além do investigador Célio Rodrigues Monteiro. Eles foram preso na terceira fase da Operação Omertà, já que o delegado teria afastado provas e assedido colegas na tentativa de impedir a investigação de dois assassinatos em Campo Grande.

As publicações, assinadas pelo corregedor-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Márcio Rogério Faria Custódio, foram feitas com base na prisão preventiva do delegado e do investigador. As prisões foram decretada pela 7ª Vara Criminal, cumpridas na última quinta-feira (18) durante a Operação Omertà.

Com isso, o delegado Obara e o investigador Célio foram afastados compulsoriamente das funções, pelo prazo em que perdurar a medida judicial. Assim, serão recolhidas armas, carteira funcional e outros pertences do patrimônio público destinados. Também são suspensos logins e senhas de acesso aos bancos de dados da instituição policial.

Por fim, ficam suspensas as férias e avaliação para fins de promoção. Publicadas hoje, as decisões têm validade desde o dia da operação.

Ocultação das provas

O delegado era investigado desde a primeira fase da Omertà, em setembro de 2019. Ele era suspeito de receber propina de R$ 100 mil para não investigar a execução de do policial da reserva e chefe da segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul em 2018.

Segundo as investigações, no dia do homicídio de Ilson Martins de Figueiredo, investigadores da DEH (Delegacia Especializada de Homicídios) teriam encontrado no carro da vítima um envelope com a inscrição “Dossiê”, com prints de uma conversa entre Ilson e alguém identificado como Padrinho.

No diálogo, é informado que a morte de Ilson foi discutida e autorizada em uma reunião em Ponta Porã, cidade onde vive Fahd. Tal interlocutor, Padrinho, alertava Ilson para que tomasse cuidado. Além disso, nas mensagens foi mencionada a morte de Betão, Alberto Aparecido Roberto Nogueira. Ele teria sido executado por estar envolvido no homicídio de Daniel Alvarez Georges, filho de Fahd Jamil, irmão de Flávio.

Investigadores chegaram a confirmar a existência dos documentos e prints, que nunca constaram nos autos do inquérito feito pelo delegado Obara. Entre outras tentativas de ocultar provas, outros materiais e documentos também não constaram no inquérito policial, confirme afirma o Gaeco.

Coagiu investigador de polícia

O investigador da DEH, Célio Rodrigues Monteiro, também preso na quinta-feira, teria auxiliado Obara. Para o Gaeco, parte da propina recebida pelo delegado foi repassada a ele, que comprou com isso um imóvel. O delegado teria repassado ao investigador R$ 50 mil e posteriormente R$ 10 mil.

Também é apontado que o investigador de polícia teria participação em esquema de venda ilegal de munições e armas de fogo, inclusive de corrupção. Uma terceira pessoa teria repassado propinas ao policial de forma sistemática, conforme apurou o Gaeco.

Tentou assediar os delegados

O Gaeco aponta que no inquérito da DEH sobre a morte de Betão e de Anderson Celin Gonçalves, policial civil, não foi formalizada qualquer diligência para provar quem seriam os mandantes do crime, por parte de Obara. Além disso, ele chegou a ignorar investigações dos próprios agentes da DEH.

Em abril de 2019, após a formação da Força-Tarefa para investigar as execuções, com apoio do Garras (Delegacia Especializada em Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), Obara ainda teria tentado coagir outros delegados. Segundo o Gaeco, o delegado passou a assediar dois delegados do Garras, questionando até onde eles queriam ir e se ficariam satisfeitos em apreender as armas, prender os executores ou mesmo chegar até Vladenilson Olmedo, um policial aposentado preso na primeira fase da Omertà meses depois.

Em outras palavras, segundo o relatório do Gaeco, Obara atuou para blindar os chefes de organizações criminosas. A um dos delegados ele chegou a dizer que ele “estaria diante de crime envolvendo duas organizações criminosas mais poderosas do Estado e que se comunicavam entre si”. Para a mesma autoridade policial, ele questionou se não tinha “interesse em deixar o inquérito policial que apurava a execução de Matheus Coutinho Xavier sob sua presidência”.

Também foi apontado pelo Gaeco que Obara questionou outro delegado “até onde ele queria chegar” com as investigações, mostrando preocupação em resguardar os líderes das organizações criminosas.