Presos são contrários a mudanças e ameaçam motim

O clima é de tensão na Penitenciária Estadual de Dourados (PED), a 233 quilômetros de Campo Grande, desde a noite desta terça-feira (10), quando os presos fizeram um protesto contra possíveis mudanças na unidade. Áudios com ameaças de motins circularam entre os agentes penitenciários, aumentando a sensação de insegurança. 

Um dos detentos da PED  fala nos áudios que os criminosos estariam organizando motins contra a retirada dos presos do Primeiro Comando da Capital (PCC) de uma das alas da unidade. 

 

 

Vídeos divulgados na noite de terça-feira (10) mostram o barulho que os detentos fizeram batendo objetos nas grades das celas. Nas imagens, gravadas a partir de uma das muralhas, longe das alas, é possível ouvir o som feito durante o protesto. 

Apesar da Agepen negar que os vídeos sejam atuais e tentar esconder o clima de tensão na unidade, a Polícia Militar confirma que houve sim um protesto na noite de terça-feira. O coronel Carlos Silva, de Dourados, confirma que houve uma movimentação anormal na unidade na noite desta terça-feira e diz que o clima no local é de tensão. “A informação que temos, a partir dos nossos homens, é que houve sim uma movimentação atípica nos moldes do vídeo que está circulando”, afirmou o oficial.

Motins e reféns

Entre as ações que estariam sendo planejadas pelos presidiários estão tomar o controle da unidade e fazer agentes penitenciários como reféns. “O clima é de muita tensão entre os agentes porque circulam informações de que os presos pegariam um agente de refém”, comenta o presidente do Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária de MS (Sinsap), André Santiago.

Santiago acrescenta que, além dos áudios, circula no meio policial a informação de que há uma pistola 9 mm e várias munições na unidade. A penitenciária tem capacidade para 700 presos, mas abriga hoje cerca de 2.500. “Estamos acompanhando de perto essa situação porque o Estado tem a obrigação de garantir a integridade física dos servidores”, afirmou Santiago.

Sobre os áudios, a Agepen diz que o Setor de Inteligência está acompanhando a situação e já identificou o interno que mandou os áudios, bem como apreendeu o celular utilizado. No dia seguinte à divulgação do vídeo, está programada para acontecer na unidade uma vistoria nas celas, feitas pelos agentes penitenciários, sem o apoio da Polícia Militar.

Barril de pólvora

A penitenciária conta apenas com 12 servidores por turno para manter a unidade operando. Há 10 anos, diz o Sindicato, cada turno operava com 34 servidores. “Além do déficit de agentes, também faltam policiais militares para fazer a segurança nas muralhas. Eram quatro policiais, um em cada canto. Agora estão apenas dois”, alerta Santiago.

Outro problema relatado pelo Sindicato são os constantes voos de drones pilotados por criminosos, que usam a tecnologia para levar armas e drogas para os presídios. “Todas as noites são três voos de drones. Além de usar para levar drogas para o presídio, os criminosos usam os drones para espionar o sistema de vigilância na unidade. Já recebemos informações que o drone seria usado para ajudar em um plano de fuga em massa usando “teresas” (cordas feitas com lençóis)”, comenta Santiago.

O Sinsap informa que já solicitou à Agepen a colocação de um alambrado para impedir a aproximação dos drones. Segundo Santiago, a obra custaria R$ 300 mil.

O que diz a Agepen

Por meio de nota enviada à imprensa, a “Agepen garante que o vídeo não é referente à noite de ontem (terça-feira) e não houve nenhuma alteração na noite de ontem”. 

Sem revelar datas, a assessoria de imprensa do órgão diz que o vídeo é antigo e “que é comum esse tipo de agitação ocorrer nos presídios no período da noite, principalmente quando algum interno necessita de atendimentos médicos e os demais detentos buscam chamar a atenção dos agentes para prestarem o socorro”.

Sobre as mudanças que seriam o motivo do protesto dos presos, a assessoria informa que movimentações dentro das alas do presídio fazem parte da rotina, conforme a necessidade de segurança e classificação do perfil dos detentos.  “A Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário (Gisp), integrada com demais órgãos de inteligência, está apurando essa situação, porém, até o momento, não há nenhum indício que seja uma informação verdadeira”, diz o comunicado.

Sobre a superlotação, a assessoria informou que a unidade “assim como outros presídios do estado e do Brasil, enfrenta um quadro de superlotação”. E ressaltou que o local tem capacidade para 718 internos e atualmente abriga 2280.

“Para enfrentar a questão da superlotação no estado, causada principalmente pelo tráfico de entorpecentes, estão sendo construídos três novos presídios em Campo Grande, que somarão 1603 novas vagas. Além disso, outras 144 vagas estão sendo construídas no presídio de Coxim. Também, dentro do plano de aplicação dos recursos do Fundo Penitenciário Nacional, outros 10 presídios do estado serão ampliados, gerando cerca de 1800 novas vagas; tais projetos se encontram em análise pelo Departamento Penitenciário Nacional”, informa a nota.

A assessoria não comenta a falta de funcionários na unidade. “Não podemos informar o total de servidores devido a protocolo de segurança. Mas, destacamos que, além da equipe normal, outros 72 servidores reforçam os trabalhos, cumprindo horas extras. O Governo do Estado, somente entre 2017 e este ano, lotou 33 novos servidores na PED”, diz o comunicado. 

A Agepen nega também que haja voos constantes de drones na unidade. “Do ano passado até agora foram identificados seis sobrevoos de drones na penitenciária. A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, em contato com a Polícia Federal e outros estados que enfrentam o mesmo problema, está buscando qual a melhor tecnologia de bloqueio, bem como recursos para a aquisição. Além disso, técnicos estão analisando a viabilidade e efetividade de instalação de telamento em todo o presídio”, afirma o comunicado.

Apesar da Agepen negar que o vídeo divulgado na noite desta terça-feira (10) seja atual e tentar esconder o clima de tensão na unidade, a Polícia Militar confirma que houve sim um protesto na noite de terça. O coronel Carlos Silva, de Dourados, confirma que houve uma movimentação anormal na unidade na noite desta terça-feira. “A informação que temos, a partir dos nossos homens, é que houve sim uma movimentação atípica nos moldes do vídeo que está circulando”, afirmou o oficial.