Era tarde de quinta-feira (10) e tudo corria bem no Mercado Esperança, comércio na região central de Batayporã. Quem foi até o local pela manhã nem podia imaginar que horas depois o lugar seria palco de um crime que por sorte, não se transformou em uma tragédia. Em uma motocicleta Honda Titan, dois assaltantes armados invadiram o mercado em minutos levaram com eles todo o dinheiro que havia sido conquistado em dias de árduo trabalho. A quantia estava em um malote que mais tarde seria depositada no banco.

Inconformado com a situação, a vítima do roubo não pensou. Agiu no instinto, pegou o automóvel, seguiu os criminosos e cerca de um quilômetro a frente, derrubou a dupla da moto. No entanto, o comerciante não contava com a ação de um comparsa que o surpreendeu. Três tiros foram dados, dois deles na barriga do microempresário que tentava defender seu patrimônio para não ficar no prejuízo.

Casos como o do comércio em Batayporã têm se tornado cada dia mais frequentes e se espalham por todos os municípios. A prova disso é que somente no primeiro semestre de 2018 a Polícia Civil de registrou quase dois mil assaltos na Capital. No último mês, a imprensa do estado noticiou três casos em que vítimas reagiram a ação de suspeitos. No entanto, a recomendação é ter cautela.

“Muitas pessoas observam que em alguns casos reagir teve um resultado positivo e acabam se arriscando. A gente percebe isso com a divulgação de vídeos em redes sociais que encorajam atitudes assim, mas isso não é aconselhável, mesmo se a pessoa tem treinamento em artes marciais ou armamento”, relata o Capitão Edcezar 1º Batalhão da Polícia Militar.  

Nada a perder

Especialista em segurança pública e atuante na área há 20 anos, Fernando Lopes é incisivo ao afirmar que reagir a um nunca é a melhor opção, já que segundo ele, quem se dispõe a fazer um roubo “saiu para jogar e assume as consequências disso”, e na queda de braço, chega a 90% a chance de vítima sair perdendo, conforme revelam estatísticas.

“Quem fica na mira de um assaltante não tem o tino de polícia pra se defender e o ladrão não tem nada a perder. Geralmente são pessoas  que estão sob efeito de drogas, não tem estrutura familiar, são regressas no sistema carcerário e na maioria dos casos o próprio criminoso sabe que no outro dia existem grandes chances de ele estar livre. Portanto a recomendação é sempre não reagir”.

Fernando, que já atuou como delegado e hoje é professor universitário, lembra que droga é a motivação de mais de 90% dos crimes como o que vitimaram o comerciante de Batayporã. “Sejam pessoas que roubam para consumir ou para quitar uma dívida com traficantes, pessoas ligadas ao crime organizado. A droga é o mal que está por trás dessas ações”, pontua.

Sensação de impunidade

O especialista pontua ainda que um dos agravantes da situação é a sensação de impunidade passada a autores de roubos e furtos, que na maioria das vezes, ganham a liberdade em audiências de custódia, mediante o cumprimento de medidas cautelares ou pagamento de fianças.

“O que observo é que na maioria das audiências de custódia, mesmo em caso de crimes graves, o bandido é liberado. Assaltante faz duas, três vítimas a mão armada, é preso e o juiz coloca em liberdade porque presídios estão superlotados. Apenas casos extremos têm sido convertidos em prisão preventiva e quem paga o pato e vê o aumento no número de crimes é a população, que refém disso, acaba agindo com as próprias mãos em decorrência da omissão do Estado”

Fernando Lopes conclui trazendo a tona reflexão sobre o papel do Governo do Estado em garantir segurança à população. De acordo com ele, projetos aplicados no setor e que custaram verba pública são abandonados com a troca da administração “A segurança pública não deve ser bandeira política, cada governante investe em uma idéia nova e o próximo que entra não dá seguimento naquilo. É preciso trabalhar com polícia de estado e não de governo”, finaliza.