Acusados de tortura e abuso policial, seis investigadores e o delegado da DEH (Delegacia Especializada de Repressão  aos Crimes de Homicídio) prestaram esclarecimentos ao juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande na tarde desta sexta-feira (15). A denúncia contra os servidores surgiu depois de cinco acusados da morte de Rudnei da Silva Rocha, 22 anos, o ‘Babidi’, mudarem depoimento sobre o depoimento e afirmarem em juízo

Em audiência realizada no último dia 8, Valdeir Lourenço, de 44 anos, Rodrigo Roberto Rodrigues, de 18 anos, Roberto Railson Maia da Silva, de 21 anos, Cristina Gomes Nogueira rodrigues,de  31 anos e Maike Davison Medeiros Lima, de 19 anos, negaram integrar o PCC e participação na morte de Babidi, encontrado decapitado e amarrado a um cobertor em uma estrada vicinal do Bairro Santa Emília, ao contrário do que apontam as investigações do homicídio.

Acusados de tortura, policiais ficam cara a cara com acusados de decapitação e negam denúncia
Foto: Henrique Kawaminami

Conforme denúncia do Ministério Público a vítima teria passado por um ‘julgamento’ do crime depois de supostamente ter se aproximado de uma facção rival.

No início da audiência, a defesa dos acusados informou que, embora confirmassem ocorrência de violência policial, não iria individualizar e indicar nominalmente os autores das supostas agressões. “Alguns deles estão presos e temem por sua integridade física e de seus familiares”, justificou o advogado.

Em depoimento, os policiais negaram abuso de poder e afirmaram que as acusações dos autores, apontados como membros do PCC, são estratégias para tentar desqualificar o trabalho de investigação realizado.

Márcio Obara, responsável pela Delegacia de Homicídios, que investigou o homicídio, negou que os investigados tenha sido torturados para que confessassem o crime e  classificou as acusações como “denúncias inverídicas”.

“Nosso trabalho é baseado em cima de provas e fatos identificados nas diligências e não em suposições. Onde vamos parar com investigados com esse tipo de conduta acusando a delegacia de atos de barbárie semelhantes aos que eles mesmos cometem”, disse.

Em um dos pontos fortes do depoimento, o advogado de Roberto, Rodrigo e Maike questionou Obara sobre registros audiovisuais dos interrogatórios alegando que este seria um meio para que todos os ritos legais foram cumpridos. No entanto, segundo o delegado, a Polícia Civil não dispõe de equipamentos assim como o Poder Judiciário.

“Tenho o depoimento de alguns deles gravado, mas foi por uma iniciativa pessoal, feito com o celular pessoal dos policiais. Não vou admitir perguntas ou insinuações ao nosso trabalho”, relatou.

Para o juiz, os investigadores de polícia mantiveram a versão de que não houve agressões ou torturas, apenas “interrogatórios enérgicos”, conforme um dos interrogados. Outro servidor chegou a citar documento de 2010, onde “advogados do PCC” orientavam para que presos, os integrantes do grupo alegassem terem sido torturados nas delegacias.

No fim da audiência o juiz Carlos Alberto Garcete estabeleceu prazo de cinco dias para que sejam anexados aos autos exames de corpo de delito realizado nos acusados, assim como eventual material audiovisual dos interrogatórios feitos pela DEH.

O assassinato

O corpo de Rudnei foi encontrado enrolado em um cobertor com a cabeça ao lado, no Bairro Santa Emília. No dia anterior a vítima foi levada até uma casa onde passou pelo ‘tribunal do crime’.

Ao ser ‘condenado’ pelo grupo criminoso, o jovem foi levado até o banheiro, amarrado e deitado no chão onde foi morto e decapitado. A execução teria acontecido por causa de uma guerra entre as facções do PCC e CV.