Réus apresentaram três versões durante audiência 

O juiz Carlos Alberto Garcete da 1ª Vara do Tribunal do Júri admitiu durante audiência dos envolvidos na execução de Richard Alexandre Lianho, em fevereiro, que a contradição entre os suspeitos dificulta a responsabilização de cada um no crime. Depoimentos dos três envolvidos foram colhidos, na tarde desta segunda-feira (28), no Fórum de Campo Grande.

Richard pertencia ao CV (Comando Vermelho) e foi morto após passar pelo ‘Tribunal do Crime’ do PCC (Primeiro Comando da Capital). O ‘julgamento’ por videoconferência teria envolvido 25 integrantes da facção que decidiram pela execução do rapaz e também por seu esquartejamento. Segundo os suspeitos, todos presos na época, o motivo do crime foi o envolvimento da vítima com esposa de um integrante da facção.

Antes de ser morto a tiros e ter os braços e pescoço cortados, Richard foi forçado pelos assassinos a mandar um aviso para aqueles, que assim como ele, são integrantes do CV: “pra todo mundo, todo o CV que está aí, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, na penitenciária aí, na rua, pra sair tudo jogado que o que está acontecendo comigo pode acontecer com você também”. Essa ‘guerra’ entre facções criminosas dentro e fora dos presídios de Mato Grosso do Sul é exposta através de ameaças entre lideranças dos grupos.

Na audiência desta segunda-feira, o primeiro a ser ouvido por videoconferência foi Murilo Meneses Guimarães, 18 anos, o responsável pela filmagem e por um tiro na cabeça da vítima. Murilo, que na época do crime tinha 17 anos, permanece internado na Unei Laranja Doce, em Dourados.

No depoimento, Murilo garantiu que o Rafael emprestou seu carro –usado para levar Richard até a cachoeira do Céuzinho – em troca das armas, porque estaria sendo ameaçado.

Murilo disse que não sabia o real motivo da execução de Richard, mas que tinha ouvido falar que era por causa de uma mulher. Em audiência, garantiu que atirou na emoção porque havia fumado, mas não informou que tipo de entorpecente.

Mateus Gonçalves Martins, 18 anos, foi o segundo a ser ouvido. Com 17 anos na época do crime, o jovem prestou depoimento presencialmente, já que está internado na Unei Dom Bosco, em Campo Grande. Ele confessa que foi responsável por todos os tiros, além de assumir a propriedade do veículo usado para levar Richard até a cachoeira.

Durante audiência, Mateus garante que tentou esquartejar o corpo, mas nega que Richard foi atraído ao local por uma mulher. “Criamos um perfil fake para atrair”. Sobre a arma, Mateus disse que deixou com Rafael, pois teria uns “B.Os” e não queria ser preso em flagrante.

Rafael da Silva Duarte, 24 anos, o terceiro a ser ouvido, é apontado até o momento como dono do carro que levou Richard até a cachoeira e por guardar as armas do crime. O suspeito nega a participação, desconhece os fatos, mas afirma que havia comprado o Golf, três dias antes do crime. Para comprar o veículo teria vendido uma moto e para realizar o pagamento deu R$ 4,3 mil de entrada. No mês seguinte daria mais R$ 2 mil.

Ainda durante depoimento ao juiz, Rafael relatou que um dia antes do crime, Leandro de Oliveira, de 26 anos, o HB20, e Mateus teriam chegado em sua casa pedindo o carro emprestado para levar mãe de Mateus no Posto de Saúde. A dupla não devolveu o carro na mesma noite, como combinado, mas de manhã Rafael acordou encontrou o carro em casa.

Suspeitos de executar e filmar a mando do PCC entram em contradição em audiência

O magistrado constatou a contradição, tendo em vista, que em depoimento à Polícia Civil, Rafael chegou a dizer que teria recebido uma ligação do presídio pedindo uma pedra (que seria um apoio com o empréstimo do carro). Ainda na delegacia, ele também disse que Mateus e Leandro o avisaram que só dariam um susto no Richard, mas voltou a negar os fatos diante do juiz.

Rafael aproveitou a audiência para afirmar que teria sofrido agressões de policiais quando ficou detido na Denar (Delegacia de Combate ao Narcotráfico) e que, inclusive, não passou por corpo de delito. O suspeito nega ser integrante do PCC e que dentro do Ptran (Presídio de Trânsito) tem recebido ameaças de morte de membros do CV (Comando Vermelho).

Antes de finalizar os relatos, Rafael ressaltou que na época de sua prisão os policiais chegaram na sua casa o acusando de pertencer ao PCC e que Murilo teria indicado o local. “Me colocaram no carro e quando vi estava na cachoeira”. Porém, no inquérito policial Rafael teria levado a polícia até o local do crime.

Dificuldade

Mateus e Murilo já foram julgados e cumprem medidas disciplinares em Uneis. O destino de Rafael deve ser definido em 10 dias, quando deve ficar pronto a perícia do vídeo, que foi requerido pelo juiz.

O magistrado pontua que a dificuldade no momento é saber qual a real participação de Rafael no crime, já que Mateus e Murilo entraram em contradição quanto a propriedade do carro e das armas.