Juiz ouviu testemunhas sobre exploração sexual

Lágrimas e dúvidas cercam processo sobre exploração sexual e tráfico de drogas imputados a rede criada por Luiz Alves Martins Filho, o Nando, no Bairro Danúbio Azul, em Campo Grande. Caso segue em paralelo ao de cemitério localizado com 13 corpos em novembro pela polícia.

Em audiência na 7ª Vara Criminal, nesta segunda-feira (12), prestaram depoimento 13 das 20 testemunhas listadas pela acusação. Sete restantes devem se apresentar em 25 de julho.

Dentro da bolsa da representante de vendas Trilene Soares, 32 anos, permanece foto da filha Jennifer Lima da Silva. Ela conseguiu interná-la para tratamento contra a dependência química por um ano, porém a menina de 13 anos decidiu “fazer um serviço” para Nando.

“Ninguém merece morrer porque fez uma coisa errada. Passei valores, mas ela não quis aprender. É doloroso”, relatou Trilene, em meio a lágrimas e incerteza sobre identificação genética da filha pendente há sete meses no IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal).

Rosa Ribeiro, 50 anos, sente que o filho Daniel Gomes Carvalho esteja vivo, ainda que Nando tenha confessado a morte do adolescente de 17 anos. “Meu filho nunca andou com ele. Foram três anos lutando contra a cocaína e pesadelo vai acabar com resultado do DNA”, explicou. Processo contra Nando tem lágrimas e dúvidas sobre vítimas

Nando sempre negou esquema de exploração sexual, denominando-se “justiceiro” contra quem cometia furtos no bairro. Para o MPE (Ministério Público Estadual), no entanto, drogas eram fornecidas mediante a exploração sexual de crianças e adolescentes. 

São réus no mesmo processo Wagner Vieira Garcia, Andreia Conceição Pereira, Jean Marlon Dias Domingues, Talita Regina de Souza, Michel Henrique Vilela Vieira e Ariane de Souza Gonçalves, que a defesa tenta provar ser vítima.

O caso

No dia 10 de novembro, uma operação coordenada pela Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude) resultou na prisão de Nando e seus comparsas. Ao todo, 18 pessoas foram presas por envolvimento no caso. Durante todo o processo de buscas pelas vítimas, Nando negava o esquema de exploração sexual e tráfico e se intitulou um ‘justiceiro’, afirmando que matava aqueles que cometiam furtos na região.

Foram, segundo a polícia, 16 pessoas de todas as idades e sexos, assassinadas por Nando e seus comparsas. Dessas, 13 foram enterradas no cemitério clandestino, todas da mesma forma, amarradas e de cabeça para baixo. As vítimas ainda foram estranguladas, isso porque Nando não gostava de ver sangue.

No dia 20 de dezembro, as buscas pelas ossadas foram encerradas pelas equipes da Polícia Civil, faltando localizar três vítimas de Nando. Conforme apurado pela reportagem, ainda não há previsão para as buscas recomeçarem. A polícia ainda espera laudos periciais de vínculos genéticos das ossadas encontradas para confirmar a identidade das vítimas.