Delegada voltou à casa de jovem para confrontar versões 

Uma equipe da Deaiji (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude) retornou à casa da adolescente, de 17 anos, que teria sido coagida pela própria mãe a abortar, para confrontar as versões apresentadas à polícia. A delegada Aline Sinotti realizou os questionamentos à Perícia e às envolvidas, que estavam acompanhadas de um advogado.

Conforme a delegada, os procedimentos na casa da jovem, na tarde desta quinta-feira (16), envolveram o passo a passo do que pode ter ocorrido no dia do crime. Durante os questionamentos, a jovem reforçou a autoria do aborto. “Ela voltou a dizer que fez tudo sozinha, que passou dois dis em jejum tomando chá abortivo, quando passou a sentir fortes contrações e abortou. Ela enterrou o feto na quarta-feira”, disse a delegada.

O rapaz, de 26 anos, pai da criança,  reforçou à polícia, que as ameaças feitas pela sogra, via celular, foram apagadas e por esse motivo os aparelhos foram apreendidos para serem periciados pela polícia. “Ele disse que a sogra ameaçava que iria obrigar a filha abortar por mensagens. Nós pedimos as conversas e ele disse que as apagou, a princípio tentamos recuperá-las, mas não foi possível, dessa forma os celulares passaram por perícia para que as conversas sejam recuperadas”, explicou a delegada.

A delegada voltou a afirmar que o áudio divulgado, nesta quarta-feira (15), em que a mãe da jovem a induz tomar o medicamento abortivo, identificado como Cytotec, teria sido gravado há cerca de quatro meses, quando a jovem realizava um tratamento para acne com isotretinoína, o popular Roacutan. O medicamento não pode ser utilizado por grávidas e, para isso, o paciente deve fazer exames regularmente. À época, a moça já estava grávida, mas como a mãe não sabia decidiu “testá-la”.

De acordo com a polícia, a última ultrassom, no último dia 4 de fevereiro apontou 16 semanas, o que confirma que o bebê foi retirado com 21 semanas, aos cinco meses de gestação. Enquanto não há materialidade da participação de um adulto, a jovem pode sofrer advertências e até internação, que pode durar até três anos.

Retaliações

A casa da jovem de 17 anos teria sido invadida e depredada na madrugada desta quinta-feira (16). O crime aconteceu depois da grande repercussão do caso. Os detalhes ainda são investigados.

O caso foi descoberto depois que a própria adolescente entrou em contato com o namorado, de 26 anos, contando que havia abordado a filha deles. Ele então denunciou o aborto à polícia, que foi até o endereço e descobriu o local onde o feto havia sido enterrado, no quintal de casa, ao lado de uma flor e um terço.

Em um primeiro momento, o rapaz afirmou que a namorada havia sido obrigada pela mãe a abortar. Na história contada pela família do jovem, a mãe da adolescente teria viajado até o Paraguaio para comprar remédios abortivos, forçado a filha a ingerir os medicamentos e contratado um enfermeiro para fazer a retirada do feto.

No entanto, na delegacia, em frente à namorada, o rapaz acabou confirmando a versão dela sobre os fatos. Tanto para a Polícia Militar, quanto em depoimento para o delegado responsável pelo caso, a menina reafirmou que passou dois dias sem se alimentar, tomando apenas chá de ‘buchina-do-norte’, conhecido como um abortivo caseiro. Ela teve contrações e chegou a passar mal, até que sofreu o aborto. Depois enterrou a filha.

Segundo o delegado da família, Carlos Marques, depois de toda a repercussão, fotos da jovem e da mãe dela passaram a ser divulgadas nas redes sociais, com ameaças e xingamentos. “Todos que consegui detectar foram notificados e se não retirarem as fotos vão enfrentar ação”, explicou o Marques.

A medida, segundo ele, é para preservar a garota, que é vítima e menor de idade. Além do grande número de ameaças e ofensas nas redes sociais, a casa onde a adolescente mora, no Guanandi, foi invadida e depredada. Os bandidos chegaram a levar uma televisão da casa. O caso já foi levado à polícia. “Estamos dando apoio à menina, que é o que tem que ser feito”, reforçou o advogado.